PCdoB liderou a primeira ocupação de casas durante a ditadura militar

João Batista Lemos foi um dos fundadores e ex-presidente da Associação União e Luta dos Moradores do Centre Ville, de Santo André, SP, e atualmente é presidente estadual do PCdoB no RJ. Em entrevista exclusiva à Rádio Vermelho, durante a comemoração de 32 anos da ocupação, no último sábado (9), Batista contou toda a história do bairro que foi a primeira ocupação de casas na época da ditadura militar.

Por Ramon de Castro, para a Rádio Vermelho

joão batista lemos radio - Ramon de Castro

Confira alguns trechos da entrevista com João e no final do texto está o áudio completo:

“Na época (1982) eu já fazia parte da direção estadual de SP do PCdoB e junto dos camaradas de Santo André propomos a ocupação do Centre Ville”.

“Foi a primeira ocupação de casas na época da ditadura”.

“Começamos a organizar o pessoal listando as pessoas e numa dessas reuniões apareceu uma viatura do Dops, os três agentes vieram até nós e perguntaram do que se tratava a reunião, mas como já havíamos combinado antes, falamos que estávamos lançando a Maria da Silva (uma das líderes da ocupação) como candidata a vereadora e na hora os agentes foram embora, depois disso percebemos que havia um informante entre nós, por isso fizemos um grupo menor e mudamos a data de ocupação”.


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“Tudo isso foi organizado pelo PCdoB, ainda na clandestinidade”.

“Como naquele tempo não tinha celular e tivemos que ir pessoalmente convocar cada pessoa para a ocupação de certa forma nós conseguimos driblar o Dops, isso foi muito importante porque foi uma coisa planejada, planificada, organizada e que deu certo, mas porque tinha o PCdoB de fundo, tinha um partido organizado”.

“No dia da ocupação as pessoas que não couberam nos caminhões vieram a pé e no instante em que estavam entrando nas casas passou uma viatura do Dops ‘cantando pneu’ e sabíamos que iriam chamar o batalhão de choque da PM”.

“Nós avisamos que não havia uma liderança, mas as pessoas nos procuravam para saber mais informações e foi quando o comandante da PM nos levou para o camburão”.

“Depois que fomos liberados voltamos para o bairro e começamos a organizar uma comissão de moradores para a resistência, pois havia muitas ameaças de despejo, e avisamos que se tentassem nos tirar ia ‘correr sangue’, porque não iríamos entregas as casas”.

“Quando não conseguiram pressionar mais com ameaças de despejo tentaram intimar um por um de casa em casa, mas o pessoal do judiciário nos avisou quando viria o oficial de justiça intimar as famílias e que falariam primeiro com o líder da ocupação”.

“Sabendo disso montamos um esquema em que o oficial de justiça não encontrou ninguém nas casas e desistiram das intimações”.

“Até que nós conquistamos com Franco Montoro, candidato a governador de SP na época, a declaração dessa área como de utilidade pública, assim não poderia haver despejo”.

“Na ocasião fizemos uma festa em que estiveram presentes o Montoro, o Quércia, na época governador de SP e João Amazonas, presidente do PCdoB”.

“Depois, para negociar a legalidade da ocupação, montamos uma comissão por quarteirão e os representantes de cada quadra já sabiam o que fazer e como passar as informações da resistência aos moradores, e assim fundamos a Associação União e Luta dos Moradores do Centre Ville”.

“Não tínhamos água nem luz, e fomos conquistando um por um através da luta e mobilização da comissão de moradores que agora continuam lutando pela regularização das casas para que todos tenham as escrituras dos imóveis”.

Ouça o áudio na íntegra na Rádio Vermelho: