O Mercado de Notícias é tema de debate em São Paulo

O Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé realizou nesta terça-feira (09) a exibição do documentário O Mercado de Notícias, no Espaço Itaú de Cinema, no centro da capital paulista. Após a exibição foi realizado um debate com a presença do diretor do documentário Jorge Furtado, o jornalista Leandro Fortes e o vereador de São Paulo, Orlando Silva (PCdoB).

Jorge Furtado - Leo Souza

Leandro Fortes é um dos entrevistados do filme e Orlando tem o seu caso de perseguição midiática – que acabou causando sua renúncia do Ministério dos Esportes do governo Lula – exposto no longa.

O documentário tem como linha condutora a peça homônima do dramaturgo inglês Ben Jonson (1572- 1637), “The staple of news”. A peça é uma crítica bem humorada a uma atividade recentemente criada, uma novidade em Londres: as agências de notícias. Além dos trechos da peça e de pequenos documentários sobre a história do jornalismo e casos recentes da política brasileira o longa traz entrevistas com treze renomados jornalistas brasileiros. Entre eles Luís Nassif, Mino Carta, Bob Fernandes, Cristiana Lôbo, Geneton Moraes Neto, José Roberto de Toledo, Renata LoPrete e Jânio de Freitas. Nestas entrevistas, os profissionais compartilham suas experiências e percepções acerca da profissão.

Furtado contou que tem realizado uma série de debates sobre o filme e que o intuito era realmente esse. “A sensação que eu tenho é que todas as 10 mil pessoas que viram o filme escreveram críticas na internet. Eu faço cinema por isso, pela atenção que as pessoas prestam ao cinema, por poder debater. A gente compartilha uma sala, a gente não tem controle remoto na mão, a gente ri junto com o outro, a gente se contagia com a risada do outro. É uma experiência que eu espero que não se perca, a experiência de ver um filme no cinema”, destacou.

Ele lembrou da falta de espaço para a discussão do ofício dos jornalistas e que seu intuito foi de ouvir os profissionais que ele respeitava na área. “A política nos reúne sobre a melhor maneira de nos separar, eu acho que é isso a gente tem que debater, não pode haver assuntos interditados e este assunto, o jornalismo, é um assunto interditado”, afirmou.

O jornalista Leandro Fortes falou que a maneira com a mídia manipula a realidade para poder defender os seus interesses e de seus agregados é uma batalha que disputamos, sobretudo hoje nesse período de eleições. Para ele apesar do ativismo digital que surgiu com as redes sociais e com a blogosfera e apesar dos jornalistas terem perdido essa intermediação exclusiva entre os acontecimentos do mundo e a vida do cidadão comum, ainda vivemos sim uma realidade midiática muito dura e manipulada para defender os mesmos interesses daqueles que lutam contra a democratização da informação no Brasil.

“Eu espero que esse documentário possa ser usado de forma muito didática na formação dos jornalistas brasileiros, ele tem que ser ostensivamente apresentado nas universidades e cursos de jornalismo, nos ambientes dos jornalistas para que force uma reflexão compartilhada dentre todas as reflexões do documentário”, ressaltou.

Orlando Silva, por sua vez, disse que o filme é contundente e carregado de esperança. “Essa esperança tem sentido quando nós, a partir dela, podemos refletir sobre a democracia no Brasil. Quando põe em cheque a atividade do jornalista e a forma como a circulação de informações se dá no Brasil, eu creio que essa reflexão pode ser útil para que nós pensemos como criar contrapesos para o exercício de poder da mídia”, destacou.

Para ele a regulação da atividade desenvolvida pela radiodifusão, pela mídia, e pelo jornalista é uma necessidade para que possamos ter democracia no acesso à informação. “O mercado da notícia no Brasil é monopolizado e produz verdades, ou mentiras que se transformam em verdades”, afirmou. O vereador defendeu ainda o direito de resposta que está na constituição, mas ainda não é regulamentado.

Por Cristiane Tada, no Portal da UNE