Ucraniano visita EUA para receber instruções de Obama

O presidente da Ucrânia, Piotr Porochenko, chegou em primeira visita oficial aos EUA, procedente do Canadá. Após os encontros com Barack Obama e John Kerry, ele deverá discursar numa reunião conjunta de ambas as câmaras do Parlamento norte-americano. Tal intervenção constitui uma grande honra para um hóspede estrangeiro.

Por Andrei Fedyashin*, na Voz da Rússia

Porochenko e Obama

São poucos os países em que os líderes do poder nacionalista podem contar com um acolhimento tão caloroso como lhe foi dispensado no Canadá. A diáspora ucraniana se estima lá em dois milhões de pessoas, enquanto um bloco eleitoral canadense tem sido tão influente que merece uma especial atenção de políticos e primeiros-ministros. Ottawa recebeu Porochenko com um novo pacote de sanções antirrussas e promessas de ajudar a enfrentar, na medida do possível, a “agressão russa”.

Quanto a Porochenko, ele, intervindo no parlamento canadense, deu a entender que a Ucrânia “tinha atravessado o Rubicão sem querer, de maneira alguma, retornar às trevas do passado russo”. O que é que o líder ucraniano tinha em mente, ninguém sabe esclarecer. Os diplomatas russos já se habituaram a tal retórica, tendo aprendido a distinguir Porochenko-orador de Porochenko-pragmático.

Todos compreendem que o principal ponto da agenda nesse périplo será uma reunião com Obama. Esse último, em digressão pelo país, horas antes da chegada de Porochenko, se pronunciara de forma muito clara e inequívoca. A recepção na Casa Branca do presidente ucraniano, segundo disse, será “uma espécie de mensagem a Vladimir Putin que irá substituir mil palavras em inglês e em russo”.

Tal abordagem foi comentada em Moscou pelo chanceler russo, Serguei Lavrov. “As negociações em Washington deverão mostrar se os EUA desejam a paz na Ucrânia ou se dispõem a fomentar a tensão mediante provocações”, apontou.

A Casa Branca parece não ter manifestado muito interesse pelas conversações no formato União Aduaneira – Ucrânia – UE ou pelo armistício na Novorossiya, para não falar das recentes iniciativas pacíficas lançadas pelo líder russo, constata o analítico Alexander Guschin, adiantando que após a visita “será possível esperar qualquer cenário, inclusive o fim do cessar-fogo imediato ou uma ação provocatória suspenda a trégua”.

“Não se deve enganar pensando que os EUA, devido aos problemas na Síria e no Iraque, deixem o “projeto ucraniano” e deem a liberdade de ação à Europa. Para a Ucrânia já tinham sido investidos muitos meios e forças, podendo ela ser utilizada, nos próximos meses ou até anos, como uma fonte permanente de tensão na Europa e na Rússia”.

Em última análise, a visita de Porochenko não prevê as negociações oficiais em pé de igualdade, mas antes uma palestra entre o “dono da herdade” e o administrador que veio receber instruções, considera o politólogo, Gueorgui Fedorov:

“Na Ucrânia de hoje se estabeleceu um regime de administração direta dos EUA que se estende à elite política. Porochenko veio pedir auxílio militar e econômico perante a bancarrota iminente. O seu país necessita de avultados meios financeiros. No âmbito desta visita, repleta de retóricas antirrussas, serão examinadas de novo perspectivas de adesão à Otan e à UE”.

Na opinião de peritos, Piotr Porochenko está perante uma tarefa difícil. Em vésperas das legislativas, ele precisa de paz. Washington, por sua vez, precisa de novos mecanismos de pressão sobre a Rússia, excluindo uma via pacífica, sustenta Mikhail Pogrebinsky, politólogo ucraniano, diretor do centro de Pesquisas Políticas:

“Até já, os EUA têm assumido um posicionamento político que antes vem provocando Kiev sem o reconciliar. Porochenko dá a entender que quer acabar com a guerra, ao menos, suspender as ações militares. Por essa razão, ele até podia, em privado, ter apresentado algumas propostas que espera ver apoiadas por seus parceiros dos EUA. Mas o Departamento de Estado fica irritado com tal autonomia de Porochenko. A influência dos EUA sobre Kiev é colossal. Sem o apoio dos EUA, Porochenko nunca teria sido eleito presidente”.

As conversações à margem da visita incidirão, segundo escrevem jornais dos EUA, sobre o fornecimento de armas. Mas isto, dizem peritos, não é um sinal alarmante por se tratar de armas de fabricação soviética, armazenadas nos paióis dos países antigos membros do Tratado de Varsóvia que ingressaram na Otan. Pois o Exército da Ucrânia não sabe manejar as armas da Aliança Atlântica ou dos EUA.

Articulista na emissora de rádio pública da Rússia