Presidente da Ucrânia pede ajuda militar aos Estados Unidos

A trégua na Ucrânia está ameaçada. O presidente do país, Piotr Porochenko, apelou aos EUA para que estes prestem auxílio militar a Kiev, inclusive através do fornecimento de materiais letais e não-letais.

Por Nina Antakolskaya, na Voz da Rússia

Porochenko discursa na sede do Congresso dos Estados Unidos

“Não se pode vencer uma guerra com cobertores”, declarou o presidente da Ucrânia discursando no Congresso dos EUA.

O presidente da Ucrânia, Piotr Porochenko, não escondeu que viajou para além-mar à procura de ajuda: política, financeira e militar. Seu discurso foi inflamado e nas melhores tradições da administração norte-americana.

“Os ucranianos”, disse Porochenko, “travam hoje uma guerra do mundo livre em nome de um mundo livre. Esta não é apenas uma guerra da Ucrânia. Esta é uma guerra da Europa e uma guerra também da América”.

Por isso os EUA devem ajudar a Ucrânia. Não com cobertores e óculos de visão noturna, como dantes, mas com material pesado, armas antitanque e ligeiras, drones e meios de comunicação. Sem isso é impossível ganhar a guerra, sublinhou Porochenko. Mas corrigiu imediatamente que o objetivo da Ucrânia não é ganhar a guerra, mas manter a paz.

Pelo seu discurso no Congresso dos EUA, o presidente ucraniano recebeu uma grande ovação. Mas apenas isso. Ele recebeu a promessa de todo o tipo de ajuda, foram-lhe atribuídos fundos para fins humanitários e para o reforço das fronteiras externas, mas não lhe deram tanques. Ao pedido para tornar a Ucrânia em aliado principal fora da OTAN o presidente dos EUA, Barack Obama, respondeu com uma recusa. Isso, porém, não fez Porochenko reduzir seu ardor bélico, refere o diretor do Centro de Análise Política Pavel Danilin:

“As declarações de Porochenko parecem militaristas. Apesar de ele não ter obtido dos EUA qualquer armamento pesado, isso é contudo uma evidência que Porochenko tenciona resolver a questão da República Popular de Lugansk e da República Popular de Donetsk, ou seja da Novorossiya, pela via militar e não através de negociações”.

No dia 5 de setembro as autoridades de Kiev e os milicianos do leste da Ucrânia aceitaram o plano de paz proposto por Moscou e acordaram um cessar-fogo. Apesar de ambos os lados continuarem a soar tiros, existe a possibilidade de esse cessar-fogo se transformar numa paz duradoura. Apenas será necessário que Kiev cumpra suas promessas.

À primeira vista pode parecer que o processo caminha precisamente nesse sentido. Em 16 de setembro o parlamento ucraniano aprovou, em sessão fechada, a lei sobre poderes especiais das autoridades locais e sobre medidas de reconstrução numa série de regiões de Donbass. Essa foi uma das condições principais para o estabelecimento do cessar-fogo.

Contudo, as declarações e atos dos políticos de Kiev fazem supor que os documentos aprovados pela Suprema Rada são apenas uma cortina de fumo que esconde a total indisposição de Kiev para um diálogo com Donetsk e Lugansk. O presidente do parlamento Alexander Turchinov apelou ao aproveitamento de cada dia de trégua “não para batalhas políticas, mas para o reforço das forças armadas”.

É precisamente isso que está fazendo neste momento o presidente ucraniano. Na quinta-feira Piotr Porochenko nomeou como dirigente do distrito de Lugansk o deputado e antigo chefe de órgãos de segurança Gennadi Moskal. Sua candidatura não foi, evidentemente, acordada com os líderes do Sudeste. Porochenko nem sequer esperou pelo início do diálogo direto entre Kiev e Donbass, sublinha o diretor do Centro de Análise Política Pavel Danilin:

“Não tem importância quem foi nomeado dirigente do distrito de Lugansk, porque a liderança pertence na realidade a outras pessoas. Eles não irão admitir a chegada de representantes de Kiev. É preciso perceber isso e aceitá-lo. Mas Kiev não consegue aceitá-lo e esse é um dos problemas fundamentais”.

Entretanto, os destacamentos ucranianos no leste do país estão recebendo reforços. Segundo afirmou o porta-voz do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia Andrei Lysenko, neste momento para Donbass estão sendo enviados militares da terceira vaga de mobilização, novos equipamentos e material. As tropas apenas aguardam ordens.

*Articulista da emissora pública de rádio da Rússia