Miss Violence, uma analogia da crise grega

O diretor grego Alexandros Avranas não concorda com aqueles que aproximam Miss Violence, em cartaz, de um sintomático painel da crise pela qual passa seu país. Prefere ater-se à visão não menos complexa do mal em si, e no caso de um mal medido pela perversão humana a partir do episódio real, ocorrido na Alemanha, de um pai que explorava sexualmente a filha. 

Por Orlando Margarido, na Carta Capital

Miss Violence - Reprodução

Mas será difícil a quem assistir ao filme não conjugar ambos os contextos para concluir que uma interpretação apoia a outra. O drama familiar detonado no início, quando uma adolescente salta da janela para a morte, durante uma festa de aniversário, terá para além da estranheza da situação um componente prático relacionado ao ganho econômico.

Dinheiro, e não apenas prazer, é extraído de uma engrenagem perversa. O sistema, demonstrado com vagar e estilo frio e formal, tem como líder o patriarca, que parece manter o nível classe média da família apoiado em algo mais que um emprego burocrático.

Logo surge a suspeita de que o esquema inclua as filhas, e nesse universo nos é evidente a lembrança de Nelson Rodrigues, muito mais próximo das tragédias originais de sua cultura. Se o impulso de atribuir maior peso político ao drama não é essencial a sua força, por certo procederia no conjunto de uma cinematografia contundente na representação de uma sociedade esfacelada.