Presidente do PCdoB-CE avalia resultado das Eleições 2014

A entrevista com Luís Carlos Paes, presidente estadual do PCdoB-CE, concedida ao caderno cearense do Portal Vermelho foi logo após a reunião da Comissão Política do Partido, realizada no último sábado (01/11). Leia a seguir a íntegra da entrevista:

Vermelho-CE: Uma semana após o término das eleições, a Comissão Política do PCdoB no Ceará esteve reunida na sede estadual do Partido. Como foi a reunião e qual a avaliação que você faz do resultado da batalha eleitoral deste ano?

Luís Carlos: O encontro foi uma primeira reunião do coletivo partidário que abre um processo de debates que se expandirá por todo o Partido e culminará com uma reunião do pleno do Comitê Estadual a se realizar no último final de semana de novembro deste ano, quando esperamos tirar todos os ensinamentos deste processo eleitoral. Creio, entretanto, que podemos adiantar algumas avaliações e opiniões que acredito que se consolidarão no curso do debate.

Saímos de uma grande batalha em que obtivemos grandes vitórias, mas também acumulamos algumas perdas importantes. No plano nacional, a reeleição de Dilma para a presidência tem um significado extremamente valioso na luta por um País mais desenvolvido, mais democrático, mais soberano e menos desigual social e geograficamente, ou seja, a antítese do ideário oposicionista e conservador, subserviente aos Estados Unidos e às antigas potências europeias. É a vitória do projeto que combate a crise sem cortar empregos, salários e políticas sociais que reduziram a fome e a miséria em nosso País.

A vitória de Dilma consolida o projeto iniciado por Lula e extrapola nossas fronteiras. Fortalece a luta por um mundo multipolar onde não existe espaço para uma superpotência hegemônica e a paz possa prevalecer entre as nações. Contribui para uma maior integração entre os países irmãos da América do Sul e do Caribe, historicamente explorados pela velha Europa e pelos Estados Unidos. Significa também garantia de continuidade do BRICS e da efetivação das decisões adotadas em seu último encontro de cúpula realizado em Fortaleza no mês de julho deste ano. Nesta reunião foram criados um Banco de Desenvolvimento e um fundo com o objetivo de socorrer países com dificuldades no seu balanço de pagamentos, sem que precisem se submeter à agenda perversa do FMI.

No plano nacional, além de contribuir para a eleição de Dilma, o PCdoB, com a vitória de Flávio Dino no Maranhão, consegue pela primeira vez em sua história eleger um governador de Estado, acontecimento de grande alcance e que coloca o Partido entre as nove siglas que comandarão as 27 unidades da federação a partir de primeiro de janeiro de 2015. O Partido também elegeu o vice-governador do Rio Grande do Norte e ampliou a sua representação nas assembleias legislativas estaduais em 38,9%, elegendo 25 deputados. Infelizmente, como corolário da não candidatura de quatro dos atuais deputados federais (Aldo Rebelo, João Ananias, Manuela D’Ávila e Perpétua Almeida), de problemas no curso da batalha e, principalmente, em decorrência da forte campanha midiática de criminalização da política, de desconstrução do governo Dilma e do PT, combinados com um decréscimo de participação dos movimentos sociais organizados nas lutas políticas reduz-se o voto de opinião favorável à esquerda nos grandes centros urbanos, repercutindo negativamente em nossa votação. O resultado foi a eleição, para os próximos quatro anos, de um Congresso mais conservador e com um menor número de representantes ligados aos trabalhadores e aos movimentos sociais.

E no Ceará, como você enxerga o resultado eleitoral?

O Ceará, governado por Cid Gomes nos últimos oito anos, com uma visão desenvolvimentista muito clara, conseguiu tirar proveito da parceria com o governo federal e foi um dos estados que mais cresceu nos últimos oito anos. Além das grandes ações em obras de infraestrutura, foram oito anos de muitos investimentos em Saúde, dotando o Ceará de um rede de equipamentos (hospitais, policlínicas, centros de tratamento odontológico e UPAs), principalmente no interior mais carente, que faz inveja a grande maioria dos estados brasileiros.

Na Educação não foi diferente, o Programa de Alfabetização na Idade Certa (PAIC) é referência nacional e mais de cem escolas profissionalizantes de tempo integral de nível médio foram inauguradas. O resultado da eleição significa a vitória desse projeto apesar da divisão da base do governo, com a candidatura de Eunício Oliveira (PMDB), que contou com o apoio de parte do PT (o grupo da ex-prefeita Luizianne Lins) e da oposição conservadora, constituída pelo PSDB, DEM e SDD, entre outros. Conseguiram eleger Tasso (PSDB) para o Senado e levaram a disputa de governador para o segundo turno. O PCdoB se empenhou na campanha de Mauro Filho (PROS) para o Senado e ajudamos a eleger Camilo Santana (PT) para o governo do Estado.

Em relação aos nossos objetivos próprios, reelegemos Chico Lopes deputado federal e dois deputados estaduais, Augusta Brito e Carlos Felipe, dois quadros novos com experiência de gestão, ex-prefeitos de suas cidades (Graça e Crateús) e que agora representarão nossa legenda na Assembleia Legislativa. Por outro lado, não conseguimos eleger Inácio Arruda para a Câmara Federal. Mas este já era um resultado mais ou menos esperado.

Como assim? Já era esperada a não eleição de Inácio?

Não é bem isso. A não eleição de Inácio significa uma perda para o Partido e um grande prejuízo para o Ceará e o Brasil. O Congresso Nacional vai ficar privado de um quadro de grande valor e que muito ajudou o nosso Estado e o País nos últimos vinte anos. A questão é que Inácio não era candidato a deputado federal. Nosso projeto era candidatá-lo à reeleição para um novo mandato no Senado. Infelizmente, nosso pleito não foi atendido e o nosso bloco de aliados decidiu pelo apoio a Mauro Filho, que foi derrotado. É uma questão ainda a ser melhor avaliada. Nossos candidatos a deputado federal eram Chico Lopes e João Ananias. Este último, após o registro de sua candidatura, depois de uma semana em São Paulo, fazendo exames no Instituto do Coração, por recomendação médica, teve que retirar sua candidatura.

Diante deste fato, com a campanha já em andamento, o Partido analisou a gravidade da situação e, mesmo considerando a dificuldade que seria lançar um candidato de última hora, sem que tivesse se preparado para isso, concluiu que deveria enfrentar mais esse desafio e não perder a segunda vaga, deixando de disputá-la. Tomada essa decisão, o melhor nome que tínhamos para a disputa era o de Inácio que, mesmo tendo opinião que o mais provável seria a derrota, como bom combatente aceitou a decisão do coletivo, desenvolveu uma campanha ampla e obteve 55 mil votos, à frente de outros parlamentares destacados como Eudes Xavier (PT) e Edson Silva (PROS), com possibilidade de assumir no decorrer do mandato.

Quais as perspectivas e o que espera o PCdoB com a posse de Camilo Santana a partir de 2015?

Camilo tem origem em uma família que lutou contra a ditadura, ele próprio participou do movimento estudantil, foi secretário de duas pastas importantes no governo Cid Gomes e tem se mostrado um homem sério, honesto, de capacidade de gestão e de diálogo. Esperamos que ele possa dar continuidade e aprofundar o projeto desenvolvimentista de Cid e realizar um governo com maior participação.

Na nossa opinião, os partidos, a sociedade civil organizada, os servidores públicos precisam ser mais ouvidos, o governo precisa ter uma maior interlocução com os mais diversos segmentos e nós estamos dispostos a contribuir nessa direção. No último dia 31 de outubro, Camilo convidou os presidentes dos partidos aliados para um café da manhã, onde, junto com sua vice, Izolda Cela, se comprometeu em criar um conselho político e aprofundar o diálogo com sua base durante a gestão. Achamos que é uma sinalização positiva da parte do governador eleito.

Da redação local