Aprofundar o caráter social do desenvolvimento é desafio de Dilma

“Acho que o grande norte para o segundo mandato é a renovação e o aprofundamento do caráter social da estratégia de desenvolvimento esboçada nos últimos anos, indo além do aumento do poder de compra individual”, avaliou o economista André Biancarelli em entrevista ao IHU online, comentando a reeleição da presidenta Dilma Rousseff.

Dilma-Rousseff-durante-encontro-com-liderancas-do-PSD-no-Palacio-do-Planalto - Antonio Cruz/Agencia Brasil

Para ele, a reeleição dá um significado permanente de que Dilma deve enfrentar as dificuldades conjunturais, mas seguir “popular pela capacidade de incorporar à cidadania e ao mercado de consumo contingentes antes excluídos”.

Diálogo, que tem sido a palavra-chave do novo mandato de Dilma, também é apontado por Biancarelli. Segundo ele, a presidenta precisa refazer os canais de comunicação com o setor privado e mesmo com o mercado financeiro. “E algum controle fiscal ou aperto nas condições monetárias também me parecem inevitáveis. Mas ajustes, diálogo e conciliação não deveriam ser sinônimos de entrega dos cargos ou dos rumos da política econômica. Mesmo porque o Brasil não se encontra em condições sequer parecidas com as recebidas em janeiro de 2003”, ressaltou ele, referindo-se à herança maldita do governo FHC.

Biancarelli, que é doutor em Ciências Econômicas e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), avalia ainda que a política econômica do segundo mandato do governo Dilma não será de continuidades, especialmente quando se trata de um “plano mais estrutural”. Para ele deve haver um “ajuste de curto prazo”, mas o desafio “é não comprometer a estratégia de longo prazo que vem sendo implementada – que, repita-se, conjuga ganhos sociais com oportunidades econômicas”.

Impactos da crise

Ele também afirma que a crise econômica internacional ainda exercerá impacto sobre a economia brasileira. “Só um discurso eleitoral bastante limitado para negar a importância dos constrangimentos externos atualmente vividos pela economia brasileira. O desenrolar da crise, tantas vezes nos últimos anos dada como encerrada por afoitos observadores da economia global, segue sendo decisivo para as possibilidades do Brasil”, pontua.

Sobre a inflação, o economista destacou que é, de fato, “um problema sério, que afeta mais os mais pobres do que os que têm maior capacidade de defender sua renda e riqueza”. Disse também que o atual patamar, próximo ao teto de 6,5% ao ano, “é obviamente desconfortável”, mas ressaltou: “Trata-se de um processo complexo, com várias causas e que está longe de qualquer situação de descontrole”.

Sobre a expectativa gerada em torno do nome do ministro da Fazenda do próximo mandato do governo Dilma, Biancarelli é enfático: “Independente dos atributos pessoais e das opiniões dos personagens aventados nesta temporada de especulações, eu considero que seria simbolicamente muito ruim o segundo governo Dilma iniciar-se com um Ministro da Fazenda oriundo do sistema financeiro”.

Fonte: IHU online