Bienal: Arievaldo Vianna homenageia o Rei da poesia do sertão

O cordelista lança, na próxima quarta-feira (10/12), na Bienal do Livro, a biografia de Leandro Gomes de Barros.

O primeiro contato com aqueles que irão influenciar de alguma forma nossa caminhada é sempre marcante. Com o menino Arievaldo Vianna, por exemplo, esse processo não foi diferente. Aos nove anos, na cidade cearense de Canindé, ele recebeu do pai os dois volumes do folheto "A Vida de Cancão de Fogo e seu testamento", de Leandro Gomes de Barros (1865-1918). Ali, encontraria seus (anti)heróis prediletos. Dali, tiraria fôlego para poetizar e, no futuro, registrar, por meio de uma biografia, a vida e a obra deste cordelista paraibano.

É dentro da Abertura do IV Congresso de Cordelistas, Editores e Folheteiros da XI Bienal Internacional do Livro do Ceará, programada para as 15h desta quarta-feira (10/12), que Arievaldo apresenta ao público o resultado desse garimpo de dez anos, feito na tentativa de preservar a memória daquele que é considerado o mestre da literatura de cordel.

Na ocasião, também será lançado o livro "Inácio, o Cantador-Rei de Catingueira", de Arlene Holanda. A palestra "A Literatura de Cordel de Inácio da Catingueira, Leandro Gomes de Barros aos dias atuais" contará com a presença de ambos e mediação de Antônio Andrade Leal (Tuíca do Cordel). O livro "Leandro Gomes de Barros – Vida e Obra" antecipa as comemorações pelo sesquicentenário de nascimento do poeta – que acontecerá no dia 19 de novembro de 2015 -, e homenageia uma produção pioneira, cujos registros ainda servem de inspiração para muitos iniciantes. A apuração, que teve como base viagens aos locais por onde passou Leandro, entrevistas com descendentes ou pessoas que conviveram com ele, além da identificação de documentos e fotos históricas que esclareceram aspectos obscuros da vida do cordelista, rendeu a Arievaldo um trabalho e tanto. Quase como catar confetes na rua um mês depois do carnaval, como exemplifica o escritor Bráulio Tavares, fazendo referência a escassez de informações sobre o poeta que subsistiram à ação do tempo.

"Arievaldo não se propõe a juntar o que foi feito. Isso seria fácil nestes tempos de processadores de textos, programas de edição e de imagens e sítios virtuais. Ele foi além e buscou muitas coisas que ninguém buscara antes. Exercitou um faro de pesquisador/ detetive e foi fundo. Mostrou-se envolvido demais pelo tema. Não diria obcecado, porque é patológico e não faz jus à qualidade do que produziu", afirma Gilmar.

Legado

Foram incontáveis as contribuições de Leandro Gomes de Barros para a literatura nacional. Tanto que, em prosa, Carlos Drummond de Andrade escreveu certa vez em sua reverência: "não foi príncipe dos poetas do asfalto, mas foi, no julgamento do povo, rei da poesia do sertão, e do Brasil em estado puro". Há quem defenda um legado em torno de mil livretos de cordel. A Fundação Casa de Rui Barbosa, detentora da maior coleção do poeta, disponibiliza 200 títulos digitalizados na internet (www.Casaruibarbosa.Gov.Br/cordel).

Autor dos folhetos "O Dinheiro" (ou "O testamento do Cachorro"), de 1909 e "O cavalo que defecava dinheiro", que influenciaram Ariano Suassuna na criação de sua obra mais famosa, O Auto da Compadecida, Leandro é poeta atemporal e reúne em sua obra três vertentes centrais: o cordel factual ou folheto-reportagem; a sátira; e o romance de contos de fadas e lendas tradicionais.

Reedições

Apesar de sua relevância no cenário nacional, as reedições de seus trabalhos não são feitas com tanta frequência. Somente algumas editoras tais como a Tupynanquim (Fortaleza), a Coqueiro (Recife) e a Luzeiro (São Paulo) abastecem o mercado com os folhetos mais conhecidos, tais como "Soldado Jogador", "Juvenal e o Dragão", "Sofrimento de Alzira".

A ideia inicial de Arievaldo Vianna era que seu livro viesse acompanhado de uma Antologia com as obras mais expressivas do mestre cordelista, mas as negociações editoriais ainda não permitiram tal façanha. O primeiro passo foi dado. Que venham outros mais.

Livro

Leandro Gomes de Barros
Vida e Obra
Arievaldo Vianna
Fundação Sintaf e Editora Queima-Bucha
2014, 176 páginas
R$ 25

Fonte: Diário do Nordeste