Comissão da Verdade aponta vítimas e colaboradores do regime no Ceará

Pelo menos treze jornalistas foram vítimas da ditadura militar no Ceará em função do exercício profissional. Destes, oito foram indenizados pelo Estado por terem sido perseguidos sob a acusação de participação em atividades políticas entre 1961 e 1979. A conclusão é do relatório final da Comissão da Verdade, Memória e Justiça dos Jornalistas do Estado, que será lançado na manhã de 20 de dezembro, durante o Encontro Estadual dos Anistiados Políticos, no auditório da Casa José de Alencar.

Baseado em dados obtidos por meio do Arquivo Nacional, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), da Associação 64/68 – Anistia, do acervo do historiador Aírton de Farias e de depoimentos pessoais, entre outras fontes de pesquisa, o relatório aponta o nome de informantes e confirma a colaboração das empresas de comunicação cearenses com o regime militar. No levantamento, aparecem os nomes do jornalista e professor do Curso de Comunicação Social da UFC, Teobaldo Landim, do Sistemas Verdes Mares e do O Povo, os dois maiores grupos de comunicação do Estado.

Militares silenciaram o único microfone dos trabalhadores

O relatório aponta a honrosa exceção da Rádio Dragão do Mar, a única emissora do Estado a apoiar a posse do vice-presidente da República, João Goulart, após a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961.

Invadida logo após o golpe que depôs João Goulart da Presidência da República, na manhã de abril de 1964, a Rádio Dragão do Mar foi fechada pelos militares com a prisão de três jornalistas: Blanchard Girão, Nazareno Albuquerque e Peixoto de Alencar. Defensora dos princípios constitucionais, das reformas de base e porta-voz de lideranças sindicais, a emissora só voltou a funcionar em 1967, comandada por um general da reserva.

Homenagem ao presidente Messias Pontes

Criada pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Ceará (SINDJORCE) para apurar violações de direitos humanos de integrantes da categoria no exercício do jornalismo, no período de 1964 a 1985, a Comissão da Verdade dos Jornalistas foi presidida por Messias Pontes até o seu falecimento, em 2013. Demitido, sequestrado, agredido e censurado durante o regime militar, Messias é um dos oito jornalistas indenizados pelo Estado. Ele foi preso pela Polícia Federal, em 1972, em função de um programa na Rádio Assunção que abordava a viagem do presidente Nixon à China.

"Além de uma oportunidade de resgatar a verdade factual, a memória histórica dos jornalistas e da imprensa cearense para o conhecimento das novas gerações de profissionais, essa pesquisa é também uma homenagem à memória do nosso amigo Messias, que não estará entre nós para a leitura do relatório final", afirma o relator da Comissão da Verdade dos Jornalistas do Ceará, Eliézer Rodrigues. Também compõem a Comissão Nazareno Albuquerque, Marilena Lima e Rafael Mesquita.

Jornalistas vítimas da ditadura no CE em função do exercício profissional

1. Frota Neto
2. Milano Lopes
3. Nazareno Albuquerque
4. Rangel Cavalcante
5. Sabino Henrique

Indenizados pelo Estado por meio da Comissão de Anistia Wanda Sidou

6. Blanchard Girão
7. Durval Aires
8. Edmundo Mais
9. Inácio Almeida
10. Luciano Barreira
11. Messias Pontes
12. Paulo Verlaine
13. Zelito Magalhães

Serviço

Lançamento do relatório final da Comissão da Verdade, Memória e Justiça dos Jornalistas do Ceará

Dia 20 de dezembro, às 10 horas, no auditório da Casa José de Alencar

Após o lançamento, os jornalistas estão convidados para confraternização de Natal da categoria na Barraca do Chico do Caranguejo, na Praia do Futuro

Fonte: Sindjorce