Falar de sonho e ser ouvido, a participação jovem na política

A nossa geração do movimento estudantil tem a oportunidade histórica de se reinventar. Depois de junho de 2013, a maioria da juventude está mais aberta à participação nos movimentos e coletivos, e o movimento estudantil – pela sua pluralidade e amplitude, pode ser a grande caldeira para essa diversidade de cores, pensamentos e maneiras diferentes de atuar.

Por Carina Vitral* e Cristovan Gazina**, no portal da UJS

DCE da Unicamp - UJS

Engana-se quem pensa que as manifestações de junho tiveram como objetivo negar a política. Muito pelo contrário: milhares de jovens tiveram sua primeira experiência política nas ruas. A despeito da rejeição aos partidos políticos, que já se sentia faz tempo, junho é essencialmente a apropriação da política pela maioria dos jovens, e quando isso acontece, o jovem o faz à sua maneira, com todas as suas contradições, mas também com sua beleza e energia.

A prova disso foi a eleição presidencial deste ano, a mais participativa da história. Mobilizou debates intensos nas redes sociais, no Facebook e Whatsapp, que chamaram a atenção por desfazer amizades por discordâncias políticas. Mas também saíram das redes e foram às ruas, fazendo ocupações, festas, carnavais, atos nas universidades, adesivos coloridos e intervenções urbanas. Nunca foi tão legal fazer campanha eleitoral!

O ato de apoio à Dilma Rousseff na PUC simboliza essa participação, nesse dia a plateia do Tuca ficou lotada extrapolando a militância e tomou as ruas de Perdizes, como um mar de jovens com ânsia de participar. Essa participação se contrasta com a atual situação da política brasileira, onde financiamentos vultuosos de empresas nas campanhas eleitorais são verdadeiras barreiras para que o jovem consiga chegar aos cargos públicos. Basta ver que somente 4,3% do Congresso Nacional é formado por jovens. Esse financiamento privado das campanhas também é a raiz da corrupção, enchendo os noticiários de escândalos, e isso com certeza acaba afastando o interesse da juventude na política e em acreditar nela. Por isso, se faz urgente a Reforma Política, que amplia a democracia e põe o fim do financiamento por empresas e inclui cotas de jovens no parlamento.

O desafio do movimento estudantil para crescer é saber dialogar com essa nova base social, porém não é simples. Na semana passada o Brasil inteiro acompanhou atento as eleições para o Diretório Central dos Estudantes da Unicamp (Universidade de Campinas), uma das mais importantes universidades do país. A apuração foi concluída no sábado (6) , com vitória da Chapa “Nada Será Como Antes”, que contagiou a universidade com uma política moderna, ousada e alegre, com pluralidade de projetos e ideias.

Durante quinze anos o movimento estudantil da Unicamp esteve distante, a cada ano diminuía o diálogo entre o DCE e os estudantes. Sendo assim, tornou-se um movimento de poucos para poucos, um “samba de uma nota só” como diria Tom Jobim. Montamos uma chapa com uma diversidade interessante, com homens e mulheres integrantes de centros acadêmicos, atlética, empresas juniores, grupos religiosos, pesquisadores – de todos os grupos um pouco, todos eles atraídos por uma vontade de que o movimento estudantil voltasse a ser propositivo e representativo.

O resultado das eleições nos traz reflexões importantes sobre que tipo de movimento consegue apresentar perspectiva de luta para uma nova geração de jovens que quer transformar a universidade.

O primeiro passo é refletir sobre o conteúdo, porque a nossa geração viu o Brasil mudar na última década, e por isso acreditamos na mudança efetiva. Movimentos que não apontem para conquistas concretas caem em descrédito entre os jovens. Somos muito mais exigentes e mais sonhadores, por isso as pautas políticas precisam ser avançadas e encantar as pessoas; pois só o sentimento de amor e esperança pode mover um jovem a se engajar.

Na Unicamp não será diferente, estamos passando por uma das mais grave crises das universidades estaduais paulistas, sendo cogitada até a cobrança de mensalidades. Nós resistiremos, como também lutaremos pela implantação de cotas na Unicamp, que ainda mantém um vestibular excludente, tendo neste ano restringido ainda mais com o fim do vestibular nacional. As universidades estaduais paulistas vão na contramão do que avançou nos últimos 12 anos desde que as cotas foram implantadas no Brasil, é preciso superar a barreira para o acesso do estudante negro, de baixa renda e oriundo de escola pública.

Ao lado do conteúdo é preciso dar atenção à forma, muitas vezes subestimada no campo da política. Na Unicamp poucas coisas diferenciavam as chapas no projeto de universidade – todas sinalizavam à esquerda, na defesa da universidade pública e na necessidade gritante de popularização das salas de aula. Entretanto, o que as diferenciou foi a forma de fazer o movimento estudantil.

De um lado a alegria e a irreverência capaz de contagiar os estudantes, de outro o baixo astral e a vitimização. De um lado quem está aberto para as novas experiências, de outro quem olha os estudantes com a arrogância, e perde a oportunidade de aprender com quem está chegando, de ouvir o estudante em sala de aula, de conhecer novos movimentos, como por exemplo, as empresas juniores, que tiveram papel essencial para a nossa vitória e que fazem um trabalho interessante, unindo o conhecimento produzido na universidade, com as demandas reais da sociedade e da experiência prática dos próprios estudantes.

Esse é o desafio: nenhum movimento ou entidade se manteve vivo apenas pelo discurso da autoridade, mas sim porque souberam reinventar-se, encontrando diversas formas de dialogar com a juventude ao longo da história. Ainda bem que existe – na Unicamp e em todos os cantos do país, aqueles que de mãos dada com os estudantes se desafiam a falar de sonhos com alegria que manterão viva a chama do movimento estudantil!

*Carina Vitral é estudante de Economia da PUC-SP e presidenta da União Estadual dos Estudantes de São Paulo

**Cristovan Grazina é estudante de Gestão de Políticas Públicas da Unicamp e novo coordenador geral do Diretório Central dos Estudantes da Unicamp