Costa pede perdão judicial e diz que foi obrigado a receber propinas

Depois de anos enchendo os bolsos com propinas das empreiteiras por meio dos contratos das Petrobras, o ex-diretor Paulo Roberto Costa, que era responsável pelo setor de abastecimento da empresa até 2012, diz que sucumbiu “às vontades e exigências partidárias” e está arrependido por todos os seus atos.

Paulo Roberto Costa

O arrependimento de Costa não engana ninguém. Se a polícia Federal não tivesse iniciado a investigação, certamente ele estaria até hoje praticando os mesmos crimes. Sua conduta agora, com a tentativa de culpar os outros pelos seus atos, só revela o grau de delinquência deste senhor.

O objetivo real deste “arrependimento” é se safar da punição. Seus advogados apresentaram nesta quarta-feira (4) resposta às denúncias em que virou réu na Justiça Federal no Paraná. No documento, a defesa reconhece que ele auxiliou fraudes em contratos, mas diz que ele foi uma vítima das vontades alheias. Ora, por que ele ganhou tanto com isso então.

Nas 28 páginas apresentadas pela defesa, diferentemente dos demais réus, que questionam etapas da investigação ou discutem a validade das acusações, Costa afirma que colaborou com toda a operação da Polícia Federal e por isso merece perdão judicial. No entanto, Costa só colaborou depois de obter a delação premiada.

“A delação do Dr. Paulo Roberto Costa foi a mais completa, fidedigna e eficaz que se possa imaginar. Tanto assim foi que se abriu perante os olhos dos procuradores federais todo um universo de fato, sequer imaginados, e ainda os elementos essenciais para que se pudesse infirmar as autorias [e] entender a extensão dos problemas”, diz o documento.

A defesa afirma que o seu cliente “era um funcionário extremamente dedicado” e que tinha o sonho de “se aposentar como diretor ou presidente da companhia”. Imaginem só.

Ainda segundo a defesa, apesar das qualificações técnicas, Costa não conseguiria subir posições na estatal, forçando-o a procurar indicação política. No entanto, o documento não cita nenhum nome de políticos ou líderes partidários.

Trajetória

Costa entrou na Petrobras, em 1979, participando da instalação das primeiras plataformas de petróleo na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro. Sua trajetória dá conta de que as primeiras indicações políticas dentro da estatal ocorreram quando o PSDB ganhou a presidência da República. Em 1995, primeiro ano de governo FHC, ele foi indicado como gerente geral do Departamento de Exploração e Produção do Sul, responsável pelas Bacias de Santos e Pelotas.

Nos anos seguintes, ainda sob gestão dos tucanos, Costa continuou sendo indicado para ocupar outros cargos na Petrobras. Em 1996 foi gerente geral de Logística. De 1997 a 1999 respondeu pela Gerência de Gás. De maio de 1997 a dezembro de 2000 foi diretor da Petrobras Gás (Gaspetro). De 2001 a 2003 foi gerente geral de Logística de Gás Natural da Petrobras.

Em abril de 2003 a maio de 2004, já no governo Lula, foi diretor-superintendente do Gasoduto Brasil-Bolívia e, posteriormente, indicado pelo PP, segundo consta, para ocupar a diretoria de Abastecimento, em 2004.

Um pesadelo

Mas segundo seus advogados, esta última nomeação (diretor de Abastecimento), foi um tormento para Costa, que passou a viver um “verdadeiro pesadelo”. “[Com] a pressão que sofria para resolver problemas que nem mesmo eram da sua área, assinou seu pedido de demissão em abril de 2012”, relata o advogado.

A história mostra que não foi bem assim. Costa foi demitido pela presidenta Dilma Rousseff e os jornais na época destacam o assunto. Em matéria publicada no jornal O Globo, dia 26 de abril de 2012, sob o título “Partidos se irritam com mudanças feitas por Graça na Petrobras”, assinado pelos jornalistas Vivian Oswald, Cristiane Jungblut e Ramona Ordoñez, dizia: “A Petrobras confirmou na quinta-feira a saída de três dos sete diretores do quadro: Paulo Roberto Costa, de Abastecimento; Renato Duque, de Engenharia; e José Zelada, da área Internacional. Eles se despediram do comando da empresa na reunião da diretoria pela manhã”.

A matéria continua dizendo que a saída de Duque e Zelada ocorreu a pedido de ambos, mas Costa saiu por decisão da presidente Graça Foster. “Seu afastamento pegou o partido de surpresa e provocou a ira da legenda, que está “em revolução”, segundo políticos ligados ao PP”, continua a reportagem que afirma ainda que as mudanças foram definidas após consulta a presidenta Dilma. Em entrevista à agência de notícias Reuters, Costa afirmou na época que estava deixando a estatal sem saber o motivo da saída.

Réu em pelo menos sete ações penais da Operação Lava Jato, caso seja condenado Costa ficará preso por no máximo dois anos em regime semiaberto, como prevê o acordo de delação premiada. O restante da pena será cumprido em regime aberto. Ele responde na Justiça por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa.

Agora, pego com a boca na botija, Costa se diz “arrependido” e afirma que aceitou fazer a delação premiada “para tornar a alma um pouco mais pura” e “mais confortável” para ele e a família.

Da redação do Portal Vermelho, Dayane Santos
Com informações de agências