Unegro/BA publica nota sobre genocídio de jovens nergros
Diante do assassinato de 12 pessoas na semana passada, a Unegro Bahia (União dos Negros pela Igualdade) publicou nota oficial, alertando para a necessidade do combate do genocídio dos jovens negros no país. Leia a nota na íntegra.
Publicado 10/02/2015 10:01 | Editado 04/03/2020 16:14
"A Unegro é uma entidade do movimento negro, que foi fundada na Bahia em 1988, ano do centenário da abolição. Hoje, ela existe em mais de 20 estados. Durante toda a sua existência, a Unegro participou de grandes lutas e fatos políticos em defesa da igualdade, a exemplo da conquista do Estatuto da Igualdade Racial, defesa das cotas para negros nas universidades, entre outras reivindicações do movimento anti racista e movimento social.
Começamos a semana com a marca dolorosa do enterro de 12 jovens negros assassinados na última sexta feira 06 de fevereiro de 2015, no bairro do Cabula. O discurso da Secretaria de Segurança Publica era de que os jovens portavam armas e drogas, nas palavras do secretário Mauricio Barbosa: "A resposta é essa. O estado tem que atuar de forma enérgica no combate a criminalidade e ao crime organizado. Defendo muito a vida dos meus policiais, o que importa é a vida dos policiais e da sociedade".*
Se o que importa é a vida dos policiais e da sociedade, a pergunta que fazemos é: quem vai defender a vida dos homens negros na faixa etária de 15 a 27 anos que vem sendo dizimados no decorrer dos últimos anos como consequência direta do racismo nesta mesma sociedade que precisa ser defendida?
A vida perdeu o sentido e o valor, ou melhor, a vida daqueles que são denominados por não brancos, ou seja, quando o recorte da violência recai sobre gênero e raça, os dados são irrefutáveis, a sociedade em que esses jovens estão inseridos normalizaram as condições à que os mesmos são expostos diariamente, simplesmente por serem oriundos de um pensamento coletivo consciente ou não que transpôs a senzala para a favela ou para as comunidades da periferia.
Dados do IPEA que relacionam violência a cor, condição social e escolaridade, dizem o que nos aguarda no futuro caso não sejam tomadas as devidas providencias: “pelo menos 36.735 brasileiros de entre 12 e 18 anos serão assassinados até 2016, em sua maioria por arma de fogo, em caso de se manter o atual ritmo de violência contra os jovens. Trata-se do maior nível desde que o índice começou a ser medido em 2005, quando a taxa era de 2,75 adolescentes assassinados por cada mil.”
Estamos num momento de transformar a contemplação daquilo que não nos afeta diretamente, em ação concreta e dizermos não ao governo, as estatísticas e a sociedade, à essa situação de guerrilha instaurada que vem colocando um conjunto determinado da sociedade em risco.
A sociedade brasileira tem trabalhado com a lógica fabril do capitalismo em relação às vidas que são ceifadas por conta do racismo e da violência, em razão desse descalabro de violência que toma conta da sociedade baiana a Unegro grita a necessidade de que nossos jovens negros se tornem Homens Negros.
A questão do genocídio dos jovens negros na Bahia urge ser colocada na pauta ou agenda prioritária da sociedade e do poder publico, para que sociedade reencontre o caminho do crescimento político e social, além o sentido principal da existência, aquele que está para além da cor das pessoas.
Sirlene Assis
Presidente estadual da Unegro Bahia"