Colômbia: Farc elevam idade mínima de combatentes
As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) anunciaram nesta semana que jovens menores de 17 anos já não farão parte do universo de novos combatentes da guerrilha. A informação foi divulgada por meio de um comunicado em Havana, no marco dos diálogos de paz que estão sendo realizados entre a insurgência e o governo colombiano, que elogiou a medida.
Publicado 16/02/2015 14:56

Essa era uma demanda das comissões de vítimas da guerra civil do país, apesar de o tema não ter sido debatido nas mesas de diálogo em Havana. Entidades de direitos humanos no país dizem esperar que a questão seja levada em conta no processo que será realizado com o ELN (Exército de Libertação Nacional).
“Esta guerra de adultos se converte de maneira infame em uma guerra de meninos. Temos que tirá-los do conflito independentemente de o cessar-fogo demorar um ou dez dias”, afirmou o diretor do ICBF (Instituto Colombiano de Bienestar Familiar), Marco Aurelio Zuluaga, em entrevista ao jornal El Colombiano.
O comandante Iván Márquez, integrante da delegação de paz, leu o comunicado das Farc no qual diz ainda que a medida foi tomada para que haja “cada vez menos gerações e jovens envolvidos em um confronto militar que nos foi imposto”. Nesta quinta-feira (12), foi encerrado o 32º ciclo de diálogos em Havana. Na última semana, a guerrilha se comprometeu a deixar a ação armada e se transformar em um partido político, pelas vias democráticas.
A insurgência disse também que “ao contrário do que quer fazer crer a propaganda institucional, os jovens não são recrutados de maneira forçada”. De acordo com Márquez, o Exército colombiano realiza esse tipo de ação com as chamadas “batidas”, que são recrutamentos irregulares e massivos em bairros pobres. Tais jovens são treinados e “infiltrados nas guerrilhas para realizar tarefas de inteligência e atentar contra a vida dos guerrilheiros”, afirmou.
Por sua parte, o governo, representado por Humerto de la Calle, aplaudiu o anúncio: “saudamos esta decisão. É um passo na direção correta. Não devemos perder de vista que o objetivo final é o fim do conflito”, disse. Apesar da ponderação, considerou a medida “insuficiente” e pediu que as Farc deixem de contar definitivamente com menores de idade na guerrilha.
De acordo com dados apresentados pela guerrilha, entre 2008 e 2012, “foram incorporados de maneira forçada ao serviço militar 466.377 jovens”, dos quais 90% provinham dos estratos mais pobres da sociedade. “Desta forma, o Estado mantém uma estratégia que converte os mais pobres em carne para canhão de uma guerra que só beneficia o establishment, mas deixa a salvo dos perigos da confrontação fratricida os filhos da oligarquia”.
Somente no começo deste ano a obrigatoriedade de alistamento militar para a obtenção de diploma universitário foi derrubada, após intensa campanha do movimento antimilitarismo que critica o recrutamento forçado realizado pelo governo.
O Ministério da Defesa divulgou um informe com números de jovens recrutados irregularmente. De acordo com as informações, entre 2002 e 2004 foram recuperados 4.067 meninos e meninas, 70% deles tinham 16 e 17 anos e 30% tinham entre 9 e 15 anos. Destes, 66% (2.648) estivavam nas fileiras das Farc e 17% (676) nas do ELN.
Fonte: Opera Mundi