Venezuela e a indignação seletiva da direita brasileira 

A Câmara dos Deputados, em uma clara arrogância e uso ideológico de informações, aprovou uma moção de repúdio ao governo da Venezuela. A argumentação, capitaneada pelo PSDB e pelo DEM, diz que houve naquele país uma suposta "quebra do princípio democrático, com ofensa às liberdades individuais e ao devido processo legal" diante da prisão do prefeito de Caracas, Antônio Ledezma.

Por Valmir Assunção* 

Chavez em marcha da vitória - Venpress

Na verdade, o Parlamentou brasileiro promoveu, com esta moção, um desrespeito à autonomia da Venezuela, enquanto país democrático. Um desrespeito ao presidente Nicolás Maduro, eleito com a maioria dos votos em eleições limpas e reconhecidas pela comunidade internacional, além de desrespeito à soberania do povo venezuelano.

Este Parlamento não tem o direito de interferir naquilo que não tem informações concretas. Baseiam-se em notícias filtradas pela mídia brasileira, que todos sabem, é concentrada em um pouco mais de oito famílias que costumam deturpar as informações quando o assunto é ideologicamente divergente.

É curiosa, inclusive, a postura do DEM e do PSDB em relação aos assuntos internacionais. Diria que há uma indignação seletiva acerca dos fatos. Os EUA, por exemplo, quando invadem países sem o aval dos organismos internacionais, da ONU, não há nenhuma reclamação no Parlamento.

Em 2002, quando o então presidente Hugo Chávez sofreu um golpe de Estado na Venezuela e o povo foi às ruas para defender o seu governo legitimamente eleito, estes partidos nunca se levantaram para defender a democracia no País.

Quando o Legislativo do Paraguai articulou, também, um golpe de estado contra o ex-presidente Fernando Lugo, muitos dos parlamentares destes dois partidos se colocaram contra o povo e apoiaram a elite do Paraguai, incomodada com as ações democratizadoras de do presidente democraticamente eleito.

Ou seja, o DEM e o PSDB, que historicamente se colocam contra o povo brasileiro, que protagonizam ações que promovem a violência no campo e na cidade, políticas que governam, apenas, para uma minoria da população brasileira, em detrimento de todos os trabalhadores/as, não atuaram de forma diferente com o povo venezuelano.

É uma tentativa de desestabilizar o País, tal qual como tentam fazer aqui no Brasil, com suas propostas golpistas contra o Governo brasileiro, contra a democracia que com tanto custo conquistamos após o longo período da Ditadura Civil- Militar.

Aqui, deixo um sincero pedido de desculpas, já que a Câmara dos Deputados não honrou o compromisso de respeito à soberania dos países vizinhos. Não é um consenso deste país.

Mas vamos aos fatos. Primeiro, lembremos quem é Antônio Ledezma. Estamos tratando da figura política que, ano passado, foi ferrenho defensor do uso da violência nos protestos ocorridos na Venezuela, que deixou 43 mortos, a grande maioria de partidários de Hugo Chávez.

Esse senhor defende, publicamente, a deposição do presidente Maduro, ou seja, mais um golpe de Estado. E não é a primeira vez que Ledezma está envolvido em atos golpistas. É importante lembrar que ele foi um dos principais articuladores do golpe de Estado proferido na Venezuela, em 2002. Fracassado graças à resistência popular no país. Ledezma participou da tomada prefeitura do município de El Libertador – o principal município da Grande Caracas – quando a polícia do regime golpista ainda procurava o prefeito derrubado, Freddy Bernal.

Ledezma, juntamente com Maria Corina Machado, são as vozes da oposição golpista venezuelana, tal qual o DEM e o PSDB aqui no Brasil. Maria Corina, inclusive, esteve no Senado Federal ano passado, trouxe vídeos e documentos manipulados, fotos de conflitos em outros países sendo divulgadas como se fora na Venezuela, prontamente desmascarados pela senadora Vanessa Grazziotin (PC do B- AM).

Incitar a violência era justamente o que Ledezma estava fazendo. É crime na Venezuela conspirar para organizar e executar atos de violência contra o Estado. A isto, nem o DEM e nem o PSDB trazem para o debate no Congresso. Preferem ocultar informações fundamentais para enganar o povo brasileiro e insultar o povo venezuelano.

*É deputado federal pelo PT da Bahia