Estudantes ocupam reitoria da PUC-SP contra cortes de gastos

Nesta terça-feira (17) cerca de 400 estudantes da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) ocuparam a reitoria da instituição. A ação ocorre porque a Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da universidade ligada à igreja, vem adotando diversas medidas de corte de gastos que impactam a comunidade universitária e se recusa a dialogar com professores, estudantes e funcionários.

Ocupação na PUC-SP - José Coutinho Júnior

Dentre essas medidas, está a demissão de 52 professores, muitos desses com mais de 20 anos na universidade e a substituição destes por professores com contratos provisórios, que recebem menos e se encontram em situação de vulnerabilidade; a não abertura de turmas de cursos como Filosofia, Letras e Geografia e a retirada do subsídio para o bandejão universitário, que passou de R$5,60 para R$10,34.

Para Bruno Matos, estudante de jornalismo e membro do coletivo de comunicação da ocupação, “essas medidas, segundo a reitoria e fundação, são necessárias por causa da crise financeira e dívida que a PUC tem. Exigimos principalmente uma audiência na qual se abra à comunidade as contas da universidade, para esclarecer de que forma ela vem sendo administrada”.

Além de transparência na administração da universidade, os estudantes demandam a volta do subsídio do bandejão para todos e bolsa-alimentação integral para os bolsistas e trabalhadores terceirizados ; creche para mães e pais estudantes, professores e terceirizados, a regularização da matrícula de todos os estudantes do Fies, a não criminalização de nenhum estudante, principalmente os bolsistas, o fim da precarização do contrato de trabalho dos professores e que nenhum curso seja fechado.

“Desde 2013, a PUC não abre uma turma nova de Geografia. Filosofia e Letras também não tiveram a abertura de turmas neste ano, e o curso de História agora tem duração de três anos. A Fundasp pretende com isso fechar estes cursos após as últimas turmas se graduarem, porque eles não dão lucro, ignorando que o objetivo de uma universidade é produzir conhecimento”, diz Bruno.

A comissão de negociação da ocupação buscou contato com membros da Fundasp para negociar as pautas da ocupação, mas até agora não conseguiu entrar em contato com nenhum responsável.

Intervenção da Igreja

A crise financeira da PUC é usada como pretexto desde 2007 para que a igreja, que antes não influenciava na administração financeira e acadêmica da universidade, intervisse com cada vez mais força.

A dívida da universidade levou à criação do Conselho Administrativo (Consad), órgão composto pelo reitor e dois representantes da Fundasp, que passou a ser a instância maior de decisões administrativas, se sobrepondo e ignorando o Conselho Universitário (Consun), órgão composto pelos chefes de departamentos e reitoria, que decidia os rumos acadêmicos da universidade.

“Hoje, o Consad é uma instância composta por 100% de membros da Fundasp, que deliberam tudo que acontece financeiramente na PUC. E essa administração financeira influencia fortemente a administração acadêmica”, afirma Bruno.

A escolha da reitora Anna Cintra, em 2012, para ser reitora da universidade, foi a consolidação desta intervenção e um golpe à democracia da universidade.

O processo de nomeação do reitor se dá por meio de uma lista tríplice: após as eleições, os três candidatos mais votados são apresentados ao cardeal, que nomeia um para ser reitor. Desde que a universidade tem eleições diretas para reitor, a vontade da comunidade sempre foi respeitada, com o cardeal homologando a decisão da maioria.

No entanto, nestas eleições, Anna Cintra foi a menos votada, ficando em terceiro lugar, e mesmo assim foi apontada pelo cardeal D. Odilo para ser reitora, o que feriu pela primeira vez a soberania da comunidade em escolher seu reitor e tornou o processo eleitoral uma fraude.

Por isso, os estudantes também exigem que se crie uma estatuinte, que acabe coma lista tríplice, o Consad e estabeleça voto paritário em todos os Conselhos, além de eleições diretas para reitor.

Criminalização

Em nota e coletiva de imprensa realizada na tarde de quarta-feira (18), a reitoria ignorou as reivindicações dos estudantes, e afirmou que a ocupação ocorreu por conta do "duro e necessário trabalho que [a direção da universidade] vem realizando para combater a realização de festas e consumo de substâncias ilícitas dentro do campus Monte Alegre." Além disso, a direção alegou que o espaço da reitoria havia sido depredado pelos estudantes.

Em resposta, os estudantes na ocupação dizem que "a reitoria afirma que o motivo da ocupação foram as represálias contra as festas, o que demonstra que ela não ouviu as [nossas] reivindicações expostas. Inclusive, após a ocupação, nada foi discutido sobre o assunto, não houve depredação do espaço e nenhum dano a patrimônio histórico algum. Temos registros em fotos comprovando que móveis e eletroeletrônicos estão intactos. Na verdade, quem causa danos ao patrimônio histórico da PUC-SP é sua atual reitoria e mantenedora, a Fundasp, quando atentam contra o bem que nossa Universidade tem de mais valioso: a Educação".

Fonte: Brasil de Fato