Médicos da China em Moçambique: uma perda irreparável

Xu Xun, médico do Hospital Popular de Jiangyou, na Província de Sichuan, sudoeste da China, foi enviado em outubro de 2014 a Moçambique para oferecer assistência médica. Infelizmente, morreu de repente, vitimado por um infarto no dia 24 de janeiro de 2015, devido ao estressante trabalho, aos 50 anos de idade.

Xu Xun

O jornal do Partido Comunista da China, Diário do Povo, publicou nesta quinta-feira (9) uma carta escrita por sua filha em homenagem ao médico, a quem foi concedido o prêmio do Melhor Médico de Assistência ao Exterior.

“Minha filha, o pai vai a Moçambique para tratar doentes,” você disse isso numa conversa telefônica quando eu estava trabalhando em Xangai.

“Pai, a filha está orgulhosa de você. É o grande pai, que pode representar a China para curar os amigos africanos!” Na altura, a África estava afetada pelo vírus do ebola, além de aids e febre amarela, que são também doenças com alto risco. Apesar da preocupação, toda a família apoiou o seu trabalho na África.

No dia 31 de outubro do ano passado, você iniciou sua vida na África, que deveria durar dois anos. Com as condições duras de vida e a falta de suprimentos necessários, você começou a trabalhar no Hospital Central de Maputo. Como um cirurgião do tórax, de que carece o hospital, você precisava de atender aos doentes de vários departamentos, desde a clínica geral até a pediatria.

A língua oficial de Moçambique é português. Você trabalhava com os médicos oriundos de sete países. Sem intérpreter especial, você estudava português sob ajuda das ferramentas de tradução para comunicar melhor com os colegas e pacientes. Para uma pessoa de 50 anos de idade, aprender uma língua estrangeira no curto prazo era um desafio enorme. Para aprender melhor português, você sempre estudava até a meia noite e às vezes, batia papo conosco no Wechat em inglês e português, ao invés do tradicional dialeto de Sichuan.

O Wechat interligava nossa família: você estava na África, a mãe em Sichuan, enquanto eu, em Xangai. Apesar da distância, sinto- carinho ao ver seus textos e fotos enviadas de Moçambique. Com o pai, sinto que o amor é para sempre.

“Curei uma menina que não tinha respiração nem batida de coração e fique muito contente!” Você enviou sua foto tirada com a menina e sua mãe. Na foto, você ria com paixão apesar de transparecer o ar de cançaso.

“Hoje fazia passeio na praia e resgatei uma menina de dois anos, levada por onda do mar! Os familiares dela me agradeceram muito. Minha filha, seu pai é muito forte, né?” Você me mandou a foto com a família da criança e toda a gente levantava o polegar. Sorria, com toda a roupa úmida.

Sempre curava outros, tanto na mesa de cirurgia como na vida cotidiana. Tudo isso se origina de um coração bondoso.

Tristemente, o pai nos deixou para sempre no dia 25 de janeiro, vítima de um infarto agudo do miocárdio, devido ao trabalho demasiadamente duro e às condições alimentares e climáticas.

O céu caiu para a filha!

As lágrimas não cessavam de cair do meu rosto. Nunca acredito que o meu pai, um homem forte que curou numerosos doentes, faleceu e fica para sempre no continente africano.

“Apesar de ter chagado há pouco, muitos colegas e pacientes do hospital conhecem Xu Xun, que socorreu muitos doentes e deu contribuições notáveis para a amizade entre os povos da China e da África”, disse o ministro da Saúde de Moçambique, ao se depedir de meu pai.

O médico é conhecido “anjo com roupa branca”. Desta vez, o pai se tornou realmente um "anjo" e "entrou no paraíso".

“Os doentes no paraíso nunca mais sofrerão da dor,” creio no coração – o melhor anjo estará com vocês. Meu pai, você é o melhor médico no meu coração.

Fonte: Diário do Povo. O nome da filha do médico Xu Xun não é citado.