Pedro Guerreiro: Cúpula das Américas
A 7ª Cúpula das Américas, que se realizou nos dias 10 e 11 de abril, no Panamá, terminou sem que tenha sido possível chegar a acordo quanto a uma declaração final. Tal fato não constitui uma surpresa.
Por Pedro Guerreiro, no Jornal Avante!
Publicado 17/04/2015 10:48
Desde 1994, ano em que por iniciativa dos EUA tiveram início estas cúpulas, importantes transformações se verificaram na América Latina e no Caribe – a 7ª Cúpula das Américas é disso testemunha. Longe vão os tempos em que os EUA decretavam todas as regras e os resultados do jogo.
Isolados, os EUA não tiveram condições para continuar a impor a exclusão de Cuba, cuja participação nesta cimeira era exigida por todo o subcontinente latino-americano. Cuba que, sem claudicar da sua história, dos seus princípios, da sua soberania e solidariedade internacionalista, coerente com os valores da sua Revolução, participou na cúpula denunciando as ações de agressão dos EUA – como a continuação do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto a Cuba há mais de 50 anos – e afirmando o aprofundamento do processo de atualização do seu modelo econômico com o objetivo de aperfeiçoar o socialismo, avançando no desenvolvimento e consolidando as conquistas da Revolução cubana.
Mas esta não foi a única derrota política dos EUA nesta cúpula. As suas tentativas de, às vésperas da realização do encontro, fomentar a divisão em torno da República Bolivariana da Venezuela, procurando ostracizá-la, resultaram igualmente fracassadas. Ao contrário do pretendido, a inaceitável decisão da administração norte-americana de declarar a Venezuela como uma “ameaça inusual e extraordinária à segurança” dos EUA foi ampla e abertamente criticada e condenada, tendo ficado isolados, não a Venezuela, mas os Estados Unidos. Aliás, como ficou demonstrado pelas importantes tomadas de posição dos países que integram a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba), a União de Nações Sul-americanas (Unasul) e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) – entre outras que, por todo o mundo, fizeram questão de se fazer ouvir.
Na cúpula, a Venezuela deixou bem clara a exigência de que os EUA ponham fim à sua política de ingerência, respeitando a soberania e a independência da Venezuela e a Revolução bolivariana, anulando a decisão de declarar a Venezuela uma “ameaça” e terminando com os planos de conspiração que dos EUA se desenvolvem contra a Venezuela e o seu povo – uma exigência reafirmada em mais de 11 milhões de assinaturas de venezuelanos.
No Panamá, os EUA não lograram quebrar a unidade latino-americana e caribenha em questões essenciais. No entanto, a cimeira das Américas (na senda da Organização de Estados Americanos) constitui um sério desafio do imperialismo norte-americano à cooperação, integração e unidade latino-americana e caribenha. Recorde-se que a origem destas cúpulas está associada ao projeto de domínio econômico e político consubstanciado na Área de Livre Comércio das Américas (Alca) ambicionada pelos EUA e derrotada na Cimeira das Américas, realizada em 2005, em Mar del Plata (Argentina), pela ação determinante dos então presidentes Chávez, da Venezuela, Kirchner, da Argentina, e Lula, do Brasil.
Em intervenções proferidas na 7ª Cimeira das Américas, muitas das quais com um claro cunho anti-imperialista, fez-se ouvir a voz dos povos – e não apenas por parte dos representantes dos países que integram a Alba.
Perante os grandes desafios que se colocam, a solidariedade com a luta dos povos latino-americanos e caribenhos pela soberania e independência, por avanços democráticos e progressistas, por transformações revolucionárias, pela construção do socialismo, é mais necessária do que nunca.