10ª Conferência: Comunistas cearenses debatem fortalecimento do PCdoB
Como parte da programação de atividades acerca da 10ª Conferência Nacional do Partido, a direção estadual do PCdoB-CE realizou, na noite da última quarta-feira (29/04), debate sobre a atualização e efetivação das linhas de construção partidária. Carlos Augusto Diógenes (Patinhas), membro do Comitê Central e do Departamento Nacional de Quadros, apresentou o tema.
Publicado 30/04/2015 14:19 | Editado 04/03/2020 16:25
Quadros da direção estadual, do Comitê Municipal de Fortaleza, Comitês Auxiliares e de bases e membros de diversas frentes dos movimentos sociais debateram o projeto de resolução “Frente ampla em defesa do Brasil, do desenvolvimento e da democracia”, especificamente o capítulo referente à construção partidária. O documento vem sendo discutido em todo o país em encontros preparatórios da 10ª Conferência Nacional do PCdoB, que será realizada nos dias 29, 30 e 31 de maio, em São Paulo.
Carlos Augusto Diógenes iniciou sua intervenção fazendo um breve resumo do documento. “A 10ª Conferência do Partido foi convocada inicialmente para tratar da transição da presidência do PCdoB, quando a deputada federal Luciana Santos substituirá o atual presidente Renato Rabelo. A Conferência acabou sendo antecipada por conta do momento em que vivemos, de crise política, onde reelegemos Dilma mas quem está na ofensiva é a direita”. Soma-se a isso, destaca Patinhas, a crise econômica que, desde 2008, tem atingido os países em desenvolvimento.
“Foi eleito um Congresso conservador, com agenda regressiva como nos casos das votações da redução da maioridade penal, o PL 4330 e a proposta de uma reforma política antidemocrática. Vivemos, de modo geral, um momento de instabilidade com desfecho imprevisível”, avalia Patinhas que também destaca medidas favoráveis recentes do Governo, como o “ajuste no time da articulação política, medidas no plano econômico e a apresentação do balanço da Petrobras”. “Apesar da vitória nas urnas, teremos um período de quatro anos de intensas batalhas políticas no país”.
Diante deste quadro particular, surge a importância de mobilizar a militância comunista. “Através do documento da 10ª Conferência, estamos realizando debates em todo o país em torno da crise política e da construção partidária. Só no Ceará, ao final do processo, serão quase mil quadros e militantes envolvidos no debate. Nossa proposta de construção de uma frente ampla vem tendo grande aceitação por parte do conjunto partidário e dos setores avançados”.
Trajetória de elaboração da linha de construção partidária
Com 93 anos de história, a trajetória do PCdoB é fomentada em acertos e lições. “Também comemoramos 30 anos na legalidade. Passamos, nesse período, pela crise do Socialismo, na década de 1990, quando o reafirmamos. Fizemos reflexões no sentido de que não há um modelo de Socialismo e nem um formato de partido comunista, mas princípios leninistas de partido. A situação política de cada país apontará suas necessidades”.
Seguindo a história, o PCdoB deu seus passos. “Passamos a formular a nova luta pelo Socialismo no mundo, considerando inclusive o processo de evolução do Capitalismo. No Brasil, com a vitória de Lula, chegamos a realizar a 9a Conferência Nacional para definir a participação no governo, o que já representou, naquela época, uma evolução do pensamento comunista”, recorda.
Em 2005, acrescenta Patinhas, no 11º Congresso do PCdoB, foi elaborado um novo Estatuto para o Partido. “De 1985, ano da legalidade, até 2005, foram 20 anos de formulação teórica partidária. A partir de então, passamos a trabalhar com a ideia de disputar a hegemonia na sociedade, com influência e organização da militância nos diversos setores da sociedade, em especial nos trabalhadores,juventude e na intelectualidade progressista”.
Já em 2009, na construção do 12º Congresso do Partido, foi elaborada uma política de quadros adequada ao atual momento político. "Elaboramos também o Programa Socialista que aponta o caminho para alcançar a hegemonia na sociedade , com a construção de um novo projeto nacional de desenvolvimento (NPND) procurando associar vários aspectos como a questão do desenvolvimento, da democracia, da garantia dos direitos sociais e a integração com a América Latina, reforçando ainda mais o nosso Partido do ponto de vista teórico”,.
Apesar dos avanços obtidos, considera o dirigente comunista, “essa elaboração da nossa linha organizativa não é efetivada integralmente pelo conjunto do Partido, desde sua direção até as bases”. “Neste momento de construção da nossa 10ª Conferência, além de constatar esta carência, temos que analisá-la sabendo que estamos num ambiente político desfavorável, com mudanças nas conjunturas política, economia e social que levam à mudança nas condições de acumulação de forças. E esse documento trata de ajustes na linha de construção do Partido no sentido de dar um salto no tratamento da questão organizativa”.
Questões centrais para colocar o PCdoB à altura dos desafios atuais
Carlos Augusto Diógenes enumera quatro questões principais a serem aprofundadas visando o crescimento do PCdoB: reafirmar a identidade política diferenciada do Partido; buscar seu crescimento em sintonia nas três frentes estratégicas (institucional, dos movimentos sociais e da luta de ideias); como combinar o crescimento extensivo e intensivo das fileiras partidárias, e implementar a política de quadros.
Na primeira questão, diante do cenário em que o país vive, com a ofensiva da direita tentando criminalizar a esquerda, surge o desafio de o PCdoB afirmar sua identidade política própria. “Nosso Partido não é simplesmente de esquerda ou de correligionários. Buscamos a construção de uma nova sociedade e temos como bússola o Socialismo. Temos a respeitabilidade de 93 anos de história, com bandeiras claras, como a defesa da democracia, da Petrobras, dos direitos dos trabalhadores e trazemos no nosso DNA a marca da combatividade na luta contra a direita”.
Patinhas cita que a identidade do PCdoB se afirma com a atuação dos comunistas nas três frentes de ação do Partido. Na institucional, destaca-se a bancada federal, “de grande combatividade”; o governo de Flávio Dino no Maranhão, “exemplo de gestão e de ação política de esquerda com destaque nacional”, a atuação à frente do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. “Somos um Partido com projeto de nação”, reforça. “Na luta de ideias, temos formulações políticas avançadas e exercemos papel destacado. Já na frente dos movimentos sociais, avançamos no nosso protagonismo. A CTB e a UJS ganham projeção nas mobilizações nacionais.”
A segunda questão, sobre a busca do crescimento do PCdoB em sintonia nas três frentes, Carlos Augusto considera a importância da atuação conjunta. “O avanço de nenhuma frente sozinha, sem a articulação com as outras fará o Partido avançar do ponto de vista da acumulação de forças. Para um PCdoB sólido, as três forças devem estar conectadas, com trabalho articulado, em consonância com o projeto partidário”.
O dirigente comunista reforça, na terceira questão, que o crescimento do Partido precisa ser “extensivo e intensivo”. “Extensivo no sentido de ampliar nossa organização no país e intensivo através de um trabalho focado nas capitais e maiores cidades, priorizando os centros vitais da luta de classe, reativando o funcionamento das bases, com agenda e iniciativa política”.
Na quarta questão, Patinhas reforça a ideia de colocar a política de quadros no centro da direção organizativa. Ele enumera objetivos a serem alcançados pelo PCdoB, dentre eles a formação de uma nova geração de dirigentes. “Uma organização partidária quase centenária tem que pensar sempre nessa questão. A transição do Renato Rabelo para a Luciana Santos na presidência do Partido representa uma grande vitória”, considera. A formação de quadros intermediários, na organização dos comitês municipais e organismos de bases e ainda nas direções dos movimentos sociais também fazem parte desse desafio, reitera.
“Ao longo da nossa rica trajetória são muitos os avanços na construção partidária, surgindo a necessidade de ajustes e correções na sua aplicação. Esse debate continuará nas Conferências do 2o semestre, quando serão renovadas as direções nas bases, comitês municipais e estaduais. No Ceará temos uma direção unitária, pautada no debate franco e aberto, com um Comitê Estadual maduro que reúne lideranças destacadas. Tenho certeza de que este processo da 10ª Conferência nos dará uma contribuição importante, com medidas relevantes para o Partido dar um novo salto aqui no Estado”.
O que está acontecendo?
Teresinha Braga, membro do Comitê Estadual do PCdoB, coordenadora do Departamento Estadual de Quadros também participou do encontro. Em sua intervenção, a médica ressaltou a importância do encontro em que a direção do Partido no Ceará debate a construção partidária diante da atual conjuntura política. “Todos nós sofremos o impacto pós-eleição e nos questionamos sobre o que está acontecendo. O Partido também fez esta pergunta e, aproveitando o processo da 10ª Conferência, se somou a necessidade de responder a este questionamento, tanto do ponto de vista político quanto organizacional, fato que ampliou a importância desses debates”.
Segundo a dirigente comunista, as respostas que o documento apresenta apontam o caminho. “A defesa da democracia através da construção de frente ampla. E cada um de nós somos construtores desta frente”, ratifica. Para Teresinha, o PCdoB só poderá ajudar o país a seguir este caminho se estiver forte e organizado. “Precisamos de um Partido grande, com ajustes e plena compreensão de seu funcionamento. Este momento delicado surge como um chamamento, para que cada militante possa contribuir neste processo. Por isso a importância de ampliar estas discussões, de ler, estudar, anotar, ouvir e debater o documento”, reforça.
Fortalecer a política de quadros
Abel Rodrigues, secretário de Organização do PCdoB-CE, também destacou a importância do encontro que focou no segundo capítulo do documento. “Precisamos refletir sobre a construção do Partido por tratar-se de uma questão essencial. Se não sabemos para onde queremos ir, não chegaremos a lugar nenhum”.
As mais de nove décadas de história do PCdoB também foram destacadas pelo dirigente comunista. “O Partido não começou hoje. A quase centenária legenda guarda aprendizado grande. Não existe outro partido com este acúmulo nem a visão que temos, reflexo de uma inteligência coletiva da qual todos nós participamos”.
Rodrigues reforça que, para o crescimento do Partido, é preciso investir na “permanência e na renovação”. “É manter o que está bom, o alicerce, os princípios e, ao mesmo tempo, adicionar sangue novo, oxigenação, com novas gerações assumindo a bandeira que empunhamos por um tempo, contando com a ajuda dos que vão chegando”.
Para o comunista, o fortalecimento de um “Partido revolucionário e moderno” passa pelo fortalecimento da política de quadros. “Ela é a espinha dorsal da estrutura do Partido, que dá sustentação ao nosso núcleo central. Para o PCdoB ser de massas, grande e numeroso é preciso que esses quadros participem da vida partidária. É aqui que as pessoas vão se constituindo comunista, a cada dia vai compreendendo os ensinamentos do Partido”, considera.
Diante de todos esses questionamentos e respostas, Abel pergunta: Por que isso não se concretiza? “Por que tanta dificuldade de fomentar esta organização e resolver esta questão? É papel nosso libertar esta grande força transformadora visando que o PCdoB passe a jogar um papel ainda maior na busca de uma sociedade mais justa, democrática e igualitária”.
Saiba mais
O debate final no Ceará será no dia 9 de maio, em reunião ampliada do Comitê Estadual, que contará com a participação dos representantes escolhidos durante as plenárias regionais que têm sido organizadas em todo o Estado. Também virá ao encontro a deputada federal Luciana Santos, apresentada no documento como a futura presidente do PCdoB, primeira mulher que irá liderar a legenda.
De Fortaleza,
Carolina Campos
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