"Paz da Colômbia é a paz do continente," diz Mujica em Fórum

A capital uruguaia recebeu entre sexta-feira (5) e domingo (7) o 2º Fórum pela Paz da Colômbia, com 120 organizações latino-americanas. Montevidéu, declarada a capital da paz na América Latina, também sediou o 1º Fórum Parlamentar sobre o tema, reafirmando o respaldo ao processo colombiano. O ex-presidente uruguaio Pepe Mujica participou do evento, enfatizando que “a paz da Colômbia é a paz de todo o continente”. Leia a declaração final do Fórum, abaixo. 

Por Moara Crivelente*, para o Vermelho

Fórum paz Colômbia - Reprodução

No Brasil, diversas atividades pré-fórum reafirmaram “a solidariedade com as lutas do povo colombiano, especialmente as articuladas pela Cúpula Agrária Camponesa, Étnica e Popular”. O compromisso consta da declaração emitida em 1º de junho e endossada por 45 entidades brasileiras – inclusive o PCdoB, o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), a União da Juventude Socialista (UJS), a União Brasileira de Mulheres (UBM), a União de Negros pela Igualdade (Unegro), a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), entre outras. 

A Marcha Patriótica – movimento colombiano organizado em torno da reivindicação por uma paz duradoura, com verdade e justiça social – e o Partido Comunista Colombiano estiveram empenhados na articulação dos movimentos sociais pela realização do II Fórum nos diferentes países, realizando debates que visaram contribuir com o caminho de paz, por uma América Latina soberana e livre do militarismo. 

Foi neste sentido a fala do ex-presidente e atual senador uruguaio Pepe Mujica, no encerramento do Fórum, neste domingo (7). Ele afirmou, de acordo com a Telesur, que a paz dos colombianos é uma causa de todos os latino-americanos, porque a guerra na Colômbia, que já dura mais de cinco décadas, “é uma porta de entrada à intervenção desde fora, nas entranhas do continente.” 

“Temos que dar-nos conta de que somos parte da esperança da humanidade. Chegamos tarde, mas temos a vantagem de ter aprendido dos erros que cometeram outros para termos a possibilidade de um continente de justiça e paz, onde valha a pena nascer e sonhar”, afirmou Mujica. Assista a seguir (em espanhol): 

 

No mesmo sentido, a presidenta do Conselho Mundial da Paz e do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Socorro Gomes, enfatizou a necessidade de unidade no enfrentamento ao imperialismo para a consolidação dos avanços no continente. “Fica cada vez mais evidente que a paz justa é o objetivo de todos os povos latino-americanos e do mundo. Por isso, nossa luta conjunta fortalece-se,” afirmou Socorro em sua fala, no sábado (6), logo após participar da 22ª Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba, em Pernambuco, onde também enfatizou este ponto.

“Aqui voltamos a reafirmar a defesa do direito à verdade, à justiça e à reparação, a luta pela paz democrática e anti-imperialista. As longas décadas de conflito na Colômbia não trazem apenas ao povo colombiano a ameaça da violenta oligarquia ligada ao imperialismo, trazem a todo o continente latino-americano. É equivocada a abordagem daqueles que limitam nas fronteiras os desafios enfrentados pelos povos do mundo. Não só pela solidariedade internacional, mas também por reconhecermos que estes são desafios nossos, reafirmamos o nosso apoio ao povo colombiano na luta pela paz justa,” sublinhou a presidenta.

Mobilização pela paz e contra o imperialismo

De acordo com a organização do Fórum, esta segunda edição mobilizou mais de mil pessoas do continente e do mundo, “evidenciando a grande solidariedade que vem conquistando o povo colombiano, para fazer avançar o processo de paz e lograr um cessar-fogo bilateral [entre o governo e a insurgência] que permita que as palavras sejam ouvidas mais do que as balas.” Leia a seguir a Declaração Final do Fórum:

Desde 2012, os diálogos de paz entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (Farc-EP) e o governo colombiano, instalados em Havana, têm encaminhado pontos cruciais da agenda de reivindicações sociais, políticas e econômicas, mas ainda enfrentam desafios desestabilizadores, como a persistência da violência de Estado sustentada há décadas pelos sucessivos governos colombianos, respaldados pela ingerência estadunidense.

A militarização do continente e a agressão constante – com destaque para o paramilitarismo aliado à oligarquia colombiana e às instituições estatais – são as principais expressões da violência na região, combatendo com brutalidade as mobilizações populares, sobretudo no campo. Sustentada pela ingerência imperialista na região, essa realidade impõe ameaças contundentes à soberania dos povos latino-americanos e à construção de sociedades mais justas através das alianças com elites locais para a manipulação da política regional e a instalação de mais de uma centena de bases militares, como enfatiza Socorro Gomes, além do envio da Quarta Frota estadunidense para controlar uma região de elevada importância geoestratégica.

Entretanto, em sentido contrário, a realização do Fórum demonstrou o fortalecimento dos movimentos sociais na luta anti-imperialista, com a unidade no respaldo aos diálogos colombianos que impulsionarão a construção da paz duradoura, com justiça social e participação política, para a consolidação da América Latina como continente de paz.