Entrevista: “ O sindicato é dos bancários” afirma Gabriel Rochinha

 

Chapa 1 'Sindicato é dos Bancários'
Foram três dias intensos de eleição, percorrendo as instituições bancárias dos municípios do Ceará, debatendo e apresentando diversas propostas para melhorar a situação da categoria bancária. Intensificar a luta contra o assédio moral no ambiente de trabalho, por mais concursos públicos para barrar o PL da Terceirização e disseminar o Estatuto da Segurança Bancária nas demais cidades foram temas apresentados e que contribuíram para a vitória da Chapa 1 ‘O Sindicato é dos Bancários’, que obteve 57,13%, ou seja, a adesão de 3.515 bancários cearenses. O Vermelho/ Ce conversou com o diretor do Sindicato dos Bancários e membro da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Gabriel Mota Rochinha, que avaliou a eleição e a realidade atual dos bancários. Confira a entrevista:

Qual a avaliação sobre o processo de eleição para o Sindicato dos Bancários e os temas abordados pela Chapa 1?

Essa eleição foi mais uma vitória da democracia e da participação da categoria bancária. Esse é um dos sindicatos mais antigos do Ceará, mais ativos e que já teve dirigente preso no próprio local de trabalho na época da ditadura. Um sindicato significativo para a mobilização dos trabalhadores do estado do Ceará e também nacionalmente. A eleição foi disputada por duas chapas, a nossa chapa 1 trazia a unidade dos trabalhadores da categoria e também nacionalmente porque é preciso enfrentar a pauta conservadora que está na ordem do dia. Nós apresentamos as conquistas dos últimos anos de ganho real que é o aumento acima da inflação, combatemos o assédio moral, que é muito forte na categoria. Pautamos a importância de regular as metas postas para os bancários porque muitos dos nossos colegas são acometidos de doenças ocupacionais oriundas dessa falta de regulamentação. Também colocamos temas como demissão sem motivo, rotatividade da categoria nos bancos privados e também para que tenha mais concurso porque durante um certo tempo nós pedimos a “bancarização” às instituições de crédito, porque entendemos que o crédito é importante para a economia, mas com todos os programas existentes e as questões dos bancos não tem nada que justifique o crescimento do lucro dos bancos e o consumidor ainda enfrentar filas, exatamente por falta de bancário.

Qual a novidade na composição da chapa 1?

A Chapa 1 renova mais do que 40% da executiva da direção do sindicato dos bancários. Isso é muito significativo tanto para as pessoas que estão no primeiro mandato e também para os jovens que entraram. Mais de 50% da categoria é pós 2008, ou seja, menos de 15/20 anos de banco. E para entender os anseios da base foi preciso mesclar essa representatividade. Outra coisa importante foi a ampliação da representatividade, com a participação de todos os bancos e instituições financeiras, como a BV Financeira, bancos privados e públicos.

O que a chapa 1 propôs para o avanço da luta das bancárias?

No ano passado, houve uma alteração no Estatuto do Sindicato e nós criamos a Secretaria de Gênero para defender e acompanhar mais de perto as questões de igualdade e oportunidade. Mais de 50% da nossa categoria bancária é feminina. É uma categoria em que se revela machista no poder, porque as bancárias mesmo exercendo a mesma função, ainda tem o salário 20% menor do que o homem. A ideia é potencializar a luta das mulheres e contribuir para as relações de igualdade no trabalho.

A CTB foi uma das forças componentes da Chapa. Qual a sua avaliação da participação da Central nesse processo?

A CTB joga um papel importante porque nós defendemos a unidade de todas as categorias, principalmente nesse momento em que temos um retrocesso e precisamos oferecer uma resistência porque está na ordem do dia a retirada dos direitos dos trabalhadores e a precarização das relações de trabalho. Recentemente, a CTB teve uma vitória importante no Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro e aqui também foi uma grande vitória para a luta dos trabalhadores. Essas vitórias fortalecem a luta de uma das centrais mais importantes do Brasil hoje.

Qual a realidade do bancário cearense hoje?

A realidade do bancário no Ceará é muito parecida com a realidade nacional, exceto por algumas questões específicas que assolam e nos preocupam, entre elas a questão das explosões das agências. Nós precisamos levar o Estatuto da Segurança Bancária que já está valendo em Fortaleza para todo o Estado do Ceará. Também precisamos de uma intensificação das forças de segurança pública porque o bancário vive assustado com tantas explosões de banco, sequestros e com esse cenário de violência. Fora isso as metas deixam o bancário com os nervos à flor da pele porque cada vez aumentam mais e há uma cobrança que é sempre no tom de ameaça, sempre eivada de assédio moral. Os bancos lucram bilhões e ainda fecham postos de trabalho, fechar postos de trabalho significa que demite mais do que contrata. Não é só um rodízio de você demitir três e contratar três é o fato de demitir três e contratar só um. Isso não gera emprego, não distribui renda e não faz o desenvolvimento social que deve ser realizado, inclusive isso é previsto constitucionalmente como função de banco.

Quais os desafios para chapa a recém-eleita?

Primeiro é a campanha salarial desse ano porque vai ser complexa, em um cenário em que os economistas colocam em crise, porém os bancários continuam precisando melhorar sua remuneração, condições de trabalho, afinal os bancos continuam lucrando como nunca. Tanto faz ter ou não crise no País, ter ajuste fiscal ou não ter, mas em uma época que temos a inflação subindo e nós temos a taxa Selic e Copom em alta, então os bancos continuam lucrando como nunca. Eles têm condições de aceitar todas as nossas reivindicações e não precisam esperar a greve, poderiam fazer isso numa mesa de negociação, mas nós não acreditamos nisso, estamos nos preparando para entrar numa campanha salarial difícil pois entendemos ser necessário fazer a luta e ir com todos os bancários juntos para arrancar as propostas dos bancos. Outro desafio que se avizinha é não deixar passar o projeto de terceirização no Congresso Nacional e Senado e se passar vamos lutar para a Presidenta vetar. É uma Lei prejudicial, nós temos parecer de todos os juristas e intelectuais que se trata de uma precarização das relações de trabalho, não melhora em nada, só prejudica o trabalhador. O sindicato vem com esse sentimento de primeiro fazer a democracia acontecer, a participação do bancário que nós entendemos que o direito do bancário com o sindicato não deve ser relação de consumidor, ou seja o bancário pagar mensalidade e o sindicato resolver. O sindicato é dos bancários e foi com esse espírito participativo que a gente conseguiu atingir a grande maioria da nossa categoria.

Mais

• Foram 57 urnas, 3 para aposentados, 1 fixa no sindicato, 2 no Passaré, 1 no edifício sede da Caixa Econômica, 25 itinerantes na Capital e 25 no interior que circularam por mais de 150 municípios.

• A apuração foi finalizada na última sexta (10/7) e contabilizou 6.263 votos. A Chapa 1 obteve 3.515 (57,13% dos votos) contra 2.638 (42,87%) da Chapa 2. Também foram computados 59 votos nulos e 50 em branco.

• A chapa 1 ‘O Sindicato é dos Bancários’ foi composta pela Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil  (CTB) e Central Única dos Trabalhadores (CUT). A  nova diretoria assumirá a entidade no período de 2015 a 2019.

• Os dirigentes foram eleitos para assumir a diretoria executiva, conselho fiscal, representantes de subsedes regionais e representantes  junto à Federação.

• O entrevistado Gabriel Motta Rochinha é funcionário do Bradesco há 15 anos e assumirá a Secretaria de Formação do Sindicato dos Bancários do Ceará.

De Fortaleza,

Ívina Carla Nascimento