Delcídio: Petrobras como operadora exclusiva do pré-sal é estratégico
O debate sobre o requerimento de urgência a ser votado para dar maior celeridade à votação do projeto do senador José Serra (PSDB-SP), o PLS 331/2015, que acaba com a participação obrigatória de 30% da Petrobras na exploração do petróleo do pré-sal, se estendia por quase duas horas – sem conclusão à vista, como, aliás, vinha acontecendo há duas semanas.
Publicado 14/07/2015 16:31
Durante esse período, ficou claro para os parlamentares de que não havia possibilidade de acordo para a votação do regime de urgência: de um lado, o PSDB de José Serra e seus aliados do DEM defendiam a quebra da partilha com argumentos políticos, porém vazios, como o de que “a Petrobras está quebrada”, ou “a Petrobras está sem capacidade de investimento”, ou ainda que o caso Lava Jato criara "dificuldades intransponíveis" para que a empresa mantivesse sua participação obrigatória mínima de 30% nos futuros campos do pré-sal a serem licitados. Fracos em suas argumentações, tucanos e demistas esperavam vencer pelo cansaço, e, no processo, ganhar apoio para que a fatura fosse liquidada – e, com ela, toda a estratégia de desenvolvimento nacional projetada durante o governo Lula.
O senador Delcídio do Amaral (PT-MS), lider do governo, ex-diretor da Petrobras e conhecedor dos meandros da indústria do petróleo, subiu à tribuna e durante quase 12 minutos de pronunciamento jogou não uma, mas diversas pás de cal sobre a pressa tucana em acabar com o regime de partilha – único que garante o controle do estado sobre a extração de petróleo.
"O pré-sal é um trabalho de anos e anos de pesquisa. Foi mérito dos trabalhadores da Petrobras e de vários governos. A Petrobras não chegou ao pré-sal como se fosse um passe de mágica. A Petrobras gastou muito tempo, dinheiro, talentos e, inclusive, muita gente preparada lá fora para chegar aonde chegou. Não é mole perfurar sete mil, oito mil metros de profundidade. Tem de ser bom, tem de ter tecnologia. Tem de haver tecnologia de materiais e gente qualificada", resgatou o senador petista.
Sobre a pressa dos tucanos em debater o assunto, Delcídio destacou que “uma decisão açodada" não é uma "coisa sensata” e destacou que a criação de uma Comissão Especial para aprofundar o debate é a possibilidade oferecida aos senadores para irem além na reflexão sobre o operador exclusivo do pré-sal, mas também sobre o regime de partilha e a exigência de conteúdo nacional nos equipamentos e serviços.
“Vamos ter oportunidade com os senadores e com as senadoras de fazer uma discussão plena. E não tenho dúvida de que quem ganha com isso é a Petrobras, mas, especialmente, quem ganha com isso é o Brasil”, declarou.
O senador disse ainda que no debate sobre concessão e partilha feito durante o governo Lula, ele tinha posições distintas. "Depois, eu me convenci, ao longo dos debates, do porquê de se ter partido para o modelo de partilha, como também para essa decisão estratégica do governo brasileiro de garantir a Petrobras como operadora exclusiva", defendeu ele, desmentindo as notícias de que ele apoiava o fim do regime de partilha.
Quebrada para os tucanos, lucro na vida real
Delcídio salientou que a crise na Petrobras é circunstancial . "A Petrobras é uma das maiores companhias de petróleo do mundo e é admirada pelas suas conquistas e pela tecnologia desenvolvida por todas as grandes petroleiras do mundo", destacou.
Sobre o campo de Libra, Delcídio disse se tratar de um dos melhores campos do mundo:. "Esse polígono de Libra é extremamente promissor. O nível de probabilidade de produção nesse polígono é um dos maiores do mundo. Não é à toa que o Presidente da Shell manifestou o interesse da empresa de entrar nos próximos leilões do pré-sal, porque o pré-sal brasileiro é um dos melhores do mundo. Não há pré-sal só no Brasil, não! Há pré-sal na África, há pré-sal no México, mas o nosso é absolutamente especial pelo nível de acerto na exploração e na produção do pré-sal. Portanto, essa decisão foi estratégica, principalmente olhando esse polígono", explicou.
O senador também rebateu o discurso tucano de que a Petrobras está quebrada. "Ela deu um lucro no primeiro trimestre de R$ 5,3 bilhões. Outra coisa importante é o nível de alavancagem líquida da Petrobras: em 2018, foi de 40% e, em 2020, de 35%.Há outro dado importante, sob o ponto de vista econômico e financeiro: o endividamento líquido sobre o Ebitda [indicador de capacidade de financiamento] foi inferior a três vezes em 2018 e dois e meio, em 2020. Portanto, é absolutamente compatível com os níveis das grandes companhias internacionais. Quer dizer, o enfoque econômico e financeiro demonstra claramente, nesse Plano de Negócios e Gestão, que a Petrobras tem absoluta condição de desenvolver seus campos", disse.
"Quando alguém milita na área de petróleo, como uma companhia de petróleo, principalmente diante das riquezas que algumas regiões detêm, como o Mar do Norte, como a Bacia de Campos, como o oeste da África, como aquela região de Angola, esses modelos têm de ser conduzidos com muito cuidado… Esses modelos têm de ser acompanhados, porque eles impactam tecnologicamente, eles impactam os estaleiros, eles desenvolvem tecnologias de materiais, exatamente pela profundidade em que é feita a produção, principalmente, nesses campos. Eles empregam pessoas", completou.