Como o movimento social vê a manobra para o golpe de Estado no Brasil?
É inegável que há uma série de tentativas de desestabilização do governo democraticamente eleito no país. O Congresso é composto por setores reacionários e conservadores aliados à mídia hegemônica que, durante anos, vem descontruindo a imagem dos governos populares de Lula e Dilma e da política em geral.
Publicado 28/07/2015 16:03
O discurso da grande mídia, apoiado em distorções e manipulações, avança rapidamente no sentido de retirar do caminho quem possa representar um impedimento para um projeto imperialista de austeridade econômica e entreguista.
A presidenta Dilma, mais especificamente o projeto que representa, é nesse momento o que atravanca o retorno do conservadorismo neoliberal ao governo, que em 2002 foi tirado do poder pela vontade popular e nunca mais conseguiu retornar democraticamente.
Dado este cenário, fomos conservar com representantes de diversos movimentos sociais para entender o que pensam do atual contexto e como o povo deve reagir para defender a nossa jovem democracia, e mais ainda, o avanço das conquistas dos últimos 12 anos.
Veja na íntegra cada depoimento:
Aldemir Caetano – Diretor da CTB e da FUP
Nosso país vive um clima de golpe protagonizado pela direita, utilizando-se como ferramentas principais a mídia e o Parlamento, com uma agenda regressiva impondo a sociedade perca de direitos duramente conquistados ao longo do tempo.
Nesse diapasão o entreguista José Serra apresentou o PLS 131, que retira da Petrobras a obrigatoriedade de ser operadora única no pré-sal, alegando ele “dificuldades financeiras da empresa”, e que “é uma maldade impor esse fardo a Petrobras”. Maldade é desse entreguista, pois dificuldades financeiras são superadas, e, retirar essa obrigatoriedade é impor ao país um prejuízo incalculável.
Se o campo de Libra não fosse operado pela Petrobras, o país perderia cerca de R$100 bilhões de reais e a educação perderia R$ 50 bilhões, só contando a diferença do custo operacional, a Petrobrás retira 1 barril de petróleo a nove dólares e a média de outras empresas é de 15 dólares, Isso sem falar da sonegação e outras práticas das petroleiras em nosso país como a precarização do trabalho. Portando os movimentos sociais, juntamente com a FUP, são contrários a entrega desse patrimônio tão importante para o desenvolvimento do Brasil. Defender a democracia, o desenvolvimento e a Petrobras é nossa principal tarefa nessa conjuntura.
Lúcia Rincon – Coordenadora nacional da UBM
Nós do movimento feminista temos plena consciência das dificuldades pela qual passa o governo Dilma e pelas quais passam a sociedade brasileira, especificamente a mulheres. A UBM reconhece que as medidas atingem toda população, a precarização atinge a mulheres, os cortes de verba na educação atingem nossa juventude. E nesse sentido nós temos procurado discutir com as mulheres e com a sociedade que o projeto em curso não pode ser atingido.
Não podemos permitir mais um golpe em nossa história. Nesse momento é importante discutir com o governo a importância de priorizar a sociedade brasileira, é um governo que setores populares participam e que alterou a correlação de forças de 2003 pra cá. É preciso defender a institucionalidade e a democracia, o governo legitimamente eleito, essa nova correlação de forças faz parte de um nova história recentemente construída, e é um aprendizado pra quem procura avançar nossa frágil democracia.
A agressão que nós sofremos cotidianamente através da mídia e das forças conservadoras que tomaram conta do Congresso Nacional e impuseram medidas e manobras inconstitucionais e isso precisa ser combatido! O movimento tem que ir para as ruas, para o debate e o enfrentamento politico e ideológico. Alertando o Congresso, alertando a sociedade, que a democracia foi arduamente conquistada e precisa ser defendida.
Barbara Melo – presidenta da Ubes
Existe de fato no Brasil a tentativa por parte de grupos políticos e econômicos de voltarem a dirigir o país, voltarem ao poder executivo. Esses grupos buscam retomar o poder não para propor um governo mais avançado, eles são contra justamente os acertos do governo atual, buscam cada vez mais fazer o país retroceder e se incomodam com trabalhadores, por exemplo, pessoas que até então eram mais pobres, entrando nas mesmas faculdades dos seus filhos, ou seja, dos mais ricos, entrando nos aviões que antes só os mais ricos frequentavam, ou seja, querem realmente fazer o país retroceder e isso é nítido.
É nítido, pois os argumentos desses grupos é que o Bolsa Família, por exemplo, é “coisa de vagabundo”, são favoráveis à redução da maioridade penal, esses grupos conservadores também são favoráveis a um Brasil menos democrático, com menos abertura para os movimentos sociais, ou seja, essa tentativa de golpe é pra desestabilizar e retroceder com todas as nossas conquistas e nós estudantes não deixaremos isso acontecer, por isso nossa expectativa de mobilização para o dia 20 é grande. Não só por conta da nossa mobilização estudantil, mas também por nos juntarmos a diversos setores que acreditam que a democracia é a melhor forma de conquistar mais direitos, que a democracia, apesar de ter muitas falhas, foi a melhor forma que o sistema político conseguiu se organizar no nosso país.Por tudo isso estaremos nas ruas com diversos setores da sociedade para defender nossos direitos e mais avanços.
Beto Teoria – presidente da Nação Hip-Hop Brasil
A crise econômica que atinge o Brasil atinge outros países também, porém a diferença é que aqui a elite dominante vê esta situação como uma possibilidade de aproveitar a própria crise como pretexto pra desestabilizar o governo e por em descrédito os avanços sociais e econômicos conquistados nos últimos 12 anos, é fato que incomoda muito a elite brasileira ver um jovem de periferia adentrar a universidade, espaço que até outro dia era destinado apenas aos filhos da elite branca, muito incomoda aos olhos da elite ver que um jovem empreendedor pode se somar ao circulo econômico que então era de apenas uma parcela do empresariado capitalista.
Quando a direita faz o discurso que o Brasil passa por dificuldades não é no sentido de apontar erros do governo nem tampouco fazer uma oposição responsável, mas sim um plano pra desmotivar um trabalho que vem sendo feito a longo prazo, tentando vender pro nosso povo um projeto imediatista que não existe e que nunca irá nos atender, um projeto golpista de tomada de poder para atender aos seus interesses.
Lutar pela democracia não é algo que deve ser feito para interesses próprios ou quando convém aos projetos individuais, mas quando esta democracia atende a todos e traz a possibilidade de alcançar os mais diversos pensamentos e opiniões garantindo assim uma ampla diversidade de conteúdos e avanços de uma sociedade mais justa e igualitária, nossa luta deve ser para o bem estar de muitos e não de poucos, nos lutamos pra socializar as riquezas e não as misérias.