O desconhecido marxismo estadunidense e suas organizações

No imaginário do brasileiro, o marxismo nos Estados Unidos é muito além de marginal, algo quase inexistente. talvez porque muitos pensam que o americano, inclusive as camadas populares, defende em peso os conceitos idealistas do individualismo e da economia privada. Porém, um livro publicado há quase 30 anos nos Estados Unidos desmonta essa crença, demonstrando que os EUA têm uma tradição marxista de mais de 150 anos.

Paul Buhle

Em 2013 foi lançada a terceira edição do livro Marxism in the United States – a history of the american left, do autoria do historiador, professor universitário e militante Paul Buhle. A intensa atenção despertada por esse livro, em meio a muitos outros sobre o marxismo americano que foram editados ao longo de décadas nos EUA, se explica por dois motivos principais.

O primeiro motivo é a descrição da história do marxismo nos Estados Unidos sem se prender a uma época específica. O livro cobre desde os imigrantes que trouxeram os ideais socialistas para o país no século 19 até o século 21.

O segundo é que o autor não toma parte – ou defende – nenhuma das correntes citadas no livro. Buhle se considera um marxista não ortodoxo que tenta tratar as diferentes correntes marxistas do ponto de vista de um historiador.

Neste momento de crise estrutural do capitalismo internacional e particularmente do capitalismo americano, que vive uma estranha situação de recuperação do PIB combinada com o agravamento do empobrecimento da população pela continuidade do desemprego agudo, a grande novidade da nova edição do livro de Buhle é o que ele chama de "o estado do marxismo americano de 1991" até os dias de hoje.

Buhle procura demonstrar as contradições que os marxistas apresentam neste período, com vários deles abandonando as concepções do socialismo científico e caindo no socialismo utópico. Apesar disso, o autor da obra assinala que o interesse em estudar Marx, tanto nos EUA quanto no resto do mundo, é globalmente maior em relação aos mais velhos mesmo em comparação com os chamados “anos de ouro” da juventude mundial, as décadas de 1960 e 1970.

Por causa da situação política, econômica e social dos Estados Unidos, Buhle acredita que os EUA podem viver num futuro próximo grandes mobilizações, graças à existência de uma nova geração de interessados no marxismo dentro do país. “Assumir a visão de longo prazo, captando os significados das continuidades, particularmente as ocultas à primeira vista, tanto capitalistas como anticapitalistas, pode ser a contribuição mais útil” que a nova geração de interessados em Marx pode dar, segundo ele.