Grito dos Excluídos: Nas ruas em oposição à “ofensiva conservadora"

O Grito dos Excluídos, mobilização nacional que ocorre tradicionalmente no dia 7 de setembro, quer nesta 21ª edição marcar posição contrária ao que chama de “atual ofensiva conservadora”. Os organizadores, entre eles a CNBB e o MST, chamam a atenção para manifestações recentes no país que pediram a volta da ditadura, para medidas governamentais que reduzem o investimento em áreas sociais e o discurso midiático de criminalização de movimentos sociais.

Grito dos excluídos

“Neste momento de crise é importante saber de que lado estamos. Pode-se estar com o povo ou com aqueles que querem retroceder. Nós não estamos do lado do quanto pior melhor, nem daqueles que não aceitam o resultado das eleições”, afirmou o bispo Dom Pedro Luís Stringhini, vice-presidente da regional sul da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira (3).

Para os organizadores do Grito, houve muitos avanços sociais na última década, mas também setores em que os avanços foram mínimos e sobre os quais é preciso pressionar o poder público para evitar retrocessos. O lema deste ano será “Que país é este, que mata gente, que a mídia mente e nos consome?”. Dentre os objetivos estão o combate à violência, garantia dos direitos básicos, uma imprensa mais democrática e com acesso a todos e a construção de espaços políticos participativos.

“Que país é esse que mata gente, que a mídia mente e nos consome?”

“Temos que comemorar que 40 milhões de pessoas hoje podem comer todos os dias. A conquista de direitos das empregadas domésticas, o combate ao trabalho escravo, nosso regime democrático que permite até manifestações pela volta da ditadura. Mas é preciso avançar em cidadania. Pouco foi feito sobre isso em dez anos, o governo federal não apostou na politização da população. E agora paga o preço”, afirmou Altamiro Borges, do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.

Miro também ressaltou a cobrança que será feita à imprensa, que tem dado muito mais cobertura às manifestações conservadoras, “que exaltam o golpismo, a ditadura e a discriminação”, do que dá, historicamente, às manifestações populares. “A mídia também poderia ajudar no combate à violência, mas o que faz é estimular o consumismo e os piores instintos dos seres humanos, com programas policialescos e coberturas omissas de casos como a recente chacina em Osasco, em que foram mortas 19 pessoas”, afirmou.

Este ano, a mobilização tem como lema “Que país é este, que mata gente, que a mídia mente e nos consome?”. “Ele é muito sugestivo para o momento que vivemos no país. [A proposta] é trazer toda a crítica e o debate para as ruas, porque é lá que se constrói a política, na nossa compreensão”, afirmou Rosilene Wansetto. O lema tem expressão em cinco eixos, que discutem temas como diferentes formas de violência, da forma como a mídia contribui para a violação de direitos e o papel no Estado na condução de reformas estruturais.

De acordo com a coordenação, os assuntos abordados na campanha do Grito são trabalhados durante todo o ano em debates e rodas de conversa para, então, culminar em manifestações populares pelo Brasil, no Dia da Independência. O papel da mídia é uma novidade entre os temas comumente escolhidos.

Em todo o Brasil

Na capital paulista, estão sendo organizadas duas atividades. Uma na Praça da Sé, que começa às 8 horas, com uma missa na Catedral. Outra manifestação, organizada por movimentos de moradia, terá concentração na Praça Osvaldo Cruz, na Avenida Paulista, às 9 horas. 

Uma das atividades do Grito dos Excluídos é a tradicional Romaria dos Trabalhadores, que ocorre em Aparecida, há 28 anos. “A religiosidade traz uma força interna essencial na luta”, afirmou Antonia Carrara, da Pastoral Operária. As atividades terão início às 7h no Porto Itaguassu, onde, de acordo com a história, a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi encontrada por pescadores em 1717, e, de lá, as pessoas seguem para o Santuário da padroeira do Brasil. O ato na cidade reforça a característica racial da santa, que é negra. “O tema é Mãe Negra Aparecida, a classe trabalhadora tem sede e luta pelo mundo justo”, acrescentou.

História

A proposta do Grito surgiu no Brasil no ano de 1994 e o 1º Grito dos Excluídos foi realizado em setembro de 1995, com o objetivo de aprofundar o tema da Campanha da Fraternidade do mesmo ano e responder aos desafios levantados na 2ª Semana Social Brasileira, cujo tema era “Brasil, alternativas e protagonistas”. Em 1999 o Grito rompeu fronteiras e estendeu-se para as Américas.

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