Haiti pode sofrer um “golpe de Estado eleitoral”, diz ex-presidente

Está em curso no Haiti uma conspiração para um “golpe de Estado eleitoral”, afirmou o ex-presidente Jean Bertrand Aristide. A declaração do líder haitiano, deposto em 2004 por um golpe de Estado, se refere às possíveis fraudes que possam ocorrer nas eleições de 25 de outubro.

Eleições no Haiti - Reprodução

A percepção é compartilhada também por outros candidatos de oposição, que entendem o processo eleitoral como “uma farsa” apoiada pela comunidade internacional em busca de uma “estabilidade” jamais alcançada no país.

Moise Jean Charles, principal opositor ao governo no Senado e líder do movimento Petit Dessalines (Filhos de Dessalines – líder da Revolução Haitiana) também vem denunciando esta eleição como “uma farsa que elegerá os candidatos preferidos do governo norte-americano”. O mesmo vem sendo feito pelo candidato do partido Kontrapepla (Mutirão de Trabalhadores e Camponeses pela Liberação do Haiti), Chavannes Jean Baptiste.

Chavannes já afirmou, inclusive, que sua campanha é uma mobilização das lideranças camponesas para se organizar e resistir às fraudes e à violência que poderão ocorrer durante o processo eleitoral, tal como verificado nas eleições parlamentares de 9 de agosto.

Campanha eleitoral

A campanha eleitoral para as eleições presidenciais começou há uma semana com a mobilização de candidatos e seus partidários nas ruas do país.

Aristide, que não se pronunciava publicamente há anos, fez um discurso durante o lançamento da campanha da candidata do partido Fanmi Lavallas (Família da Grande Corrente), Marise Narcise, apoiada por ele.

O genro do ex-presidente René Préval, Jude Celestin, da plataforma Lapeh, por sua vez, jurou diante da imagem da Virgem Maria, em atitude dramática, que vai cumprir todas as suas promessas de campanha.

Exército local

A saída da Minustah (Força de paz da ONU) é um ponto comum na maior parte dos programas partidários que concorrem às eleições presidenciais.

O dono de loterias, Eric Jean Baptiste, do Movimento de Ação Socialista, colocou faixas nas ruas exigindo a imediata retirada das tropas estrangeiras do país, denunciando que em vez de paz, elas trouxeram a cólera e são uma força de ocupação. Jean Baptiste, coloca como ponto principal de seu programa a reconstrução do Exército haitiano: “estamos em guerra contra a crise ambiental, em guerra contra a pobreza, contra a insegurança, enfim estamos em guerra”, diz.

Outros candidatos não chegam a apoiar abertamente a reconstrução do Exército, mas nos bastidores concordam com sua necessidade. Ainda que seja para acalmar os ex-integrantes que foram destituídos na década de 1990 por Aristide. Na época, o argumento era de que o Haiti não tinha inimigo externo, por isso não precisava de Forças Armadas. Chavannes admite, inclusive, que a existência do Exército está prevista na Constituição e entende que esta discussão deve ser retomada.

A mesma posição é defendida pelo candidato a presidente pelo partido federalista, Fred Brutus, de 62 anos. Radialista, editor do programa “30 minutos para Convencer”, transmitido pela rádio Magik 9, ele também é favorável à reativação das Forças Armadas e crítico da corrupção nos governos haitianos, inclusive o atual. Brutus jura que se cerca somente de homens honestos.