"Brasil está viciado em juros", diz presidente da CSN

Presidente da Companha Siderúrgica Nacional (CSN) – maior produtora de aço da América Latina -, Benjamin Steinbruch somou-se nesta terça (3) aos que têm criticado a atual política de juros da dívida pública brasileira. "O país está viciado em juros", alertou o empresário em artigo publicado na Folha de S. Paulo. E questionou: "Querem tirar R$ 10 bilhões do Bolsa Família do ano que vem, mas não se discutem cortes de juros".

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Segundo Steinbruch, fora o déficit que pode chegar a R$ 118 bilhões no orçamento de 2015, há um déficit que pode chegar a R$ 350 bilhões, oriundo de juros da dívida. "O curioso é que não se vê ninguém -ou quase ninguém- horrorizado com esse deficit financeiro monumental. Mais curioso é que esse rombo financeiro não se dá porque a dívida pública é exorbitante", diz ele, no texto.

De acordo com Steinbruch, a dívida brasileira parece até moderada quando comparada com as de outros países, como Estados Unidos e Japão. "Lá, nesses países, a dívida elevada não incomoda tanto por uma razão simples: os juros pagos para carregá-la giram em torno de 1% ao ano. Aqui, nossa taxa é superior a 14% ao ano."

"Discutem-se cortes nos programas sociais que socorrem as populações mais pobres do país —querem tirar R$ 10 bilhões do programa Bolsa Família do ano que vem—, mas não se discutem cortes de juros, aumento de crédito e outras medidas para retirar barreiras ao consumo e ao crescimento da economia", afirma.

Steinbruch observa que os cartões de crédito cobram "inacreditáveis" 414% ao ano, enquanto os bancos, 264% ao ano no cheque especial e até 27% ao ano no crédito consignado.

"Estamos cercados de juros por todos os lados. Quem perde e quem ganha com isso? Perdem todas as pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas, que pagam impostos para sustentar os deficit financeiro e fiscal bilionários. Perdem também as empresas dos setores produtivos, atingidas pelos custos exorbitantes do crédito e pela retração do consumo", afirma.

Segundo o empresário, ganham os que vivem de renda e, naturalmente, o setor financeiro. "Basta observar os resultados do terceiro trimestre que os bancos começaram a publicar na semana passada, com lucros invejáveis. Já o setor produtivo, em especial a indústria, amarga prejuízos", reconhece.

Para Benjamin Steinbruch, o país precisa entrar em uma clínica de recuperação para se livrar da intoxicação de juros. "Enquanto não superar esse problema, dificilmente vai tomar um rumo sustentável de crescimento econômico, que possa criar empregos e oferecer oportunidades de uma vida saudável para os brasileiros. É uma pena", afirmou.