Stiglitz: “Juros mostram que setor financeiro não funciona no Brasil”

De acordo com o prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, os elevados juros pagos no Brasil mostram que o setor financeiro do país não está funcionando como deveria. Em entrevista à Folha de S. Paulo, ele – um ferrenho crítico das políticas de austeridade pelo mundo – opinou que o ajuste fiscal em curso no país pode reduzir ainda mais o crescimento econômico.

Joseph Stiglitz

“Há algo bastante peculiar sobre o Brasil: o fato de o país ter juros tão altos. Isso mostra que o setor financeiro não está funcionando como deveria. Quando você pega dinheiro emprestado com um juro tão alto, obviamente a dívida cresce muito rápido”, disse ele.

Stiglitz recorda que, “quando o governo tentou baixar os juros, que chegaram a 7,25% ao ano em 2012, a inflação voltou a ficar acima da meta”. Por isso, avalia, “tem algo especial sobre o processo inflacionário no Brasil e isso pode requerer uma cooperação maior entre trabalhadores e empresas, alguns acordos de congelamento de preços e salários, para quebrar o ciclo inflacionário”.

O economista afirma que “o Brasil está pagando um preço muito alto por isso, um ciclo bastante incomum entre os países emergentes”. Stiglitz ainda analisa que o ajuste pode ter efeitos negativos sobre a economia, agravando a recessão. “O que mais me preocupa é que uma recessão afeta não só o resultado hoje, mas tende a levar a um crescimento fraco no futuro, porque você não está investindo no capital humano, em novas tecnologias. Por isso, os efeitos são de longo prazo.”

Para o prêmio Nobel, o país deve priorizar baixar a inflação e, por conseguinte, os juros – o que permitiria ao Brasil crescer mais rápido. De acordo com ele, cortar os programas sociais no Brasil como parte do ajuste seria um erro.

“Cortar programas sociais no meio de uma recessão é particularmente preocupante, porque os beneficiados são também as pessoas que serão mais afetadas. Uma das conquistas do Brasil, de que se fala em todo o mundo, é o sucesso na redução da pobreza e da desigualdade nos últimos 20 anos. Se você corta programas sociais, está prejudicando isso”, analisou.

Nesta terça, a presidenta Dilma Rousseff reiterou que os programas sociais não serão reduzidos em seu governo. O tema veio à tona, após o relator do Orçamento 2016 no Congresso, deputado Ricardo Barros, disse que iria propor um corte de R$ 10 bilhões dos R$ 28,8 bilhões previstos no orçamento do programa para 2016.