Manifestação em Fortaleza repudia chacina de jovens
Centenas de pessoas participaram da manifestação em defesa da paz e da justiça realizada no Conjunto Curió, em memória dos onze jovens assassinados em chacina na madrugada do dia 11 para o dia 12 de novembro, na região da Grande Messejana. Esta é considerada a maior chacina da história de Fortaleza.
Por Carolina Campos
Publicado 19/11/2015 12:12 | Editado 04/03/2020 16:25
Amigos, familiares, moradores da comunidade e de outros bairros de Fortaleza se reuniram na tarde da última quarta-feira (18) para unir forças e lutar por justiça e paz. Com velas, camisetas que estampavam os nomes das vítimas, cartazes e faixas, a tentativa de expressar a mistura de sentimentos, entre o luto, o medo e a esperança. A caminhada percorreu as ruas do Conjunto Curió e terminou com a realização de missa de sétimo dia na Capela de Santa Edwiges. Ao final, os organizadores do ato, iniciativa da associação do bairro e de dos moradores da região, realizaram manifestações culturais, com apresentação de grupos de rap.
Sayonara Melo, moradora do bairro e uma das organizadoras do ato em homenagem às vítimas, destacou que a iniciativa uniu ainda mais a comunidade. “Um motivo de tristeza nos fortaleceu e deixou as comunidades Palmeirinha, Curió, São Miguel e São Cristóvão ainda mais unidas. Parabéns pela bravura e coragem de irmos às ruas e não nos deixar abater pelo medo. Com o apoio de vários movimentos sociais, Escolas Terezinha Parente e Isabel Ferreira, professores, donas de casa, crianças, idosos, a população gritou por Justiça e Paz.” Segundo a universitária, a chacina que vitimou os onze jovens “mexeu com o psicológico, o dia a dia e a vida de muita gente”. “Por esse motivo estamos nas ruas para clamar por uma resposta dos órgãos competentes sobre a elucidação destes crimes que não podem ficar impunes. Não se pode ser cúmplice do massacre em massa da vida, a juventude precisa viver”, clamou.
O rapper Snow WM, que também lidera o movimento, afirmou que as manifestações terão continuidade. “Vamos continuar organizados e unidos. Queremos honrar os que foram mortos e provar que suas vidas não foram em vão.” Snow considera que a manifestação trouxe alento à comunidade que desde o dia 11 de novembro vive em companhia do medo. “O sentimento que fica é de um pouco mais de esperança e de que a comunidade está mais unida e fortalecida. O rap promoveu a volta do sorriso e da sensação de liberdade, isso conseguimos devolver um pouco à comunidade”, enalteceu.
O diretor da Escola Municipal Terezinha Parente, Adriano Nascimento, ressaltou o desejo da comunidade em mudar os nomes de duas ruas do bairro para os nomes de dois dos jovens mortos, que estudavam na escola. “Estamos aqui porque queremos trazer uma mensagem de paz, para dar um basta nessa violência”, declarou.
Entenda o caso
Na madrugada de quarta (11) para quinta-feira (12) da última semana, onze pessoas foram vítimas de uma chacina em Fortaleza, com assassinatos nos bairros Curió, Alagadiço Novo e São Miguel. Nove dos onze homens assassinados tinham entre 16 e 19 anos.
A polícia trabalha com três linhas de investigação para apurar a morte das onze vítimas da chacina. A primeira avalia uma possível vingança pela morte do soldado Valterberg Chaves Serpa, 32, também assassinado quarta-feira (11) ao tentar defender a esposa de um assalto. A segunda motivação possível seria a execução dos delatores de Carlos Alexandre Alberto da Silva, 38, preso terça-feira (10/11) com armas utilizadas em chacina da Comunidade da Cinquentinha, no Jardim das Oliveiras. Já a terceira seria uma retaliação pela morte de Lindemberg Vieira Dias, também na quarta-feira (11/11), um dos líderes do crime na região e que havia deixado unidade prisional no dia anterior.
Três das onzes pessoas mortas na chacina da Grande Messejana tinham passagem pela polícia. Os delitos, porém, não tinham relação com tráfico de drogas ou violência letal, mas ameaça, crime de trânsito e pensão alimentícia.
Investigação
Uma comissão de três promotores irá acompanhar as investigações policiais sobre os homicídios registrados na Grande Messejana. “Diante da dimensão dos fatos, o Ministério Público do estado decidiu designar três promotores para acompanhar as investigações e, se necessário, desenvolver também suas próprias investigações”, afirmou Ricardo Machado, procurador-geral da Justiça do Ceará. Alice Iracema Melo Aragão, André Clark Nunes Cavalcante e Franke José Soares Rosa irão acompanhar as diligências realizadas por equipes que apuram o caso.
Já o secretário da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), Delci Teixeira, informou durante visita à Assembleia Legistativa do Ceará, na última quarta-feira (18), que o inquérito que apura o caso foi remetido à Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD), devido a “indícios” de participação de policiais militares nos crimes. Além dos três promotores, somam-se mais quatro delegados que, juntos, investigarão a autoria dos homicídios.