Corrupção no RN? Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe*

Que muitos membros do Ministério Público tem se comportado como “justiceiros de toga”, alardeando uma jihad anti-corrupção é fato.

Wellington Duarte
Que muitos membros do Ministério Público tem adotado uma postura política incompatível com sua FUNÇÃO PÚBLICA, que pede o mínimo de imparcialidade, e vivem fuxicando e tagarelando nas redes sociais, invariavelmente com posturas reacionárias e anti-petistas, também é fato.

No RN, o campo dos sonhos das oligarquias e seus chefetes políticos, o Ministério Público, no seu papel contraditório, tem dado sustos nessa camarilha que governo o RN desde sempre.
Desde sempre?

Bem, a oligarquia Maranhão dominou o RN entre 1894 e 1914. Os oligarcas do Seridó dominaram diretamente de 1914 a 1960, com um interregno conservador de Aluizio Alves e depois recomposta pelos militares, até 1970, com novo interregno de Cortez Pereira, um liberal e a retomada das oligarquias a partir de 1978, com Alves e Maias dividindo o poder até 2002, com novo interregno com Wilma de Faria que foi, entretanto, sustentada pelos chefetes políticos ora ligados aos Alves, ora ligado aos Maia. Em 2010 tivemos a oligarquia Rosado, que tem o feudo de Mossoró sob seu controle desde os anos 40, chegou ao poder, com a ajuda dos Maia e agora temos um governo que, embora não tenha sido apoiado por nenhuma das três grandes oligarquias, flerta com seus chefetes políticos.

Essas oligarquias, cujo controle vem desde antes da República se apoderaram do estado e isso não é nenhuma segredo para ninguém. Controlam o Judiciário, com seus apaniguados e amigos nos postos chave; controlam a imprensa, a cultura e a arte. As únicas possibilidades de avanços na sociedade potiguar tem sido a disputa entre esses oligarcas, que abre pequenas brechas progressistas no status quo. Mas são tão pequenas que o poder delas permanece intocada.

Oligarquias descaradas. São acusadas a todo momento. Vejamos algumas:

1- Quem lembra da “mesada da Ditadura”, uma ninharia de R$ 11 mil mensais que o senador José Agripino recebe e que o Ministério Público questionou?
2- Quem lembra da acusação, feita em 2012, que o mesmo senador recebera R$ 1 milhão, da quadrilha que raspava os cofres do DETRAN?
3- E a acusação, já feita esse ano, de que Agripino, Wilma, seu filho Lauro, o ex-presidente da Assembleia Legislativa (Ezequiel) e o finado coronel do Trairi, Iberê, teriam sido beneficiados por um esquema de corrupção, também no DETRAN?
4 – E as operações da Polícia Federal no RN. “Operação Sinal Fechado”, “operação Vulcano”, “operação Sinistro”, “operação Minotauro”, ”operação Assepsia”, “operação absconso”, “operação Apocalipse”, “operação Mascara Negra”? São apenas as que eu me lembro.
5- E as acusações, feitas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), de que Henrique Alves beneficiou-se de contratos feitos a partir de sua intervenção, com órgãos públicos? Lembram disso? E as acusações de que o ex-deputado teria feito contratos com órgãos públicos através de empresas laranja?
6 – E o probo deputado federal Rogério Marinho, acusado, entre outras coisas, de ter falsificado documentos quando de sua cessão ao estado, para poder auferir maiores salários e o seu envolvimento no caso que se chamou de “Operação Pecado Capital”, à época que era presidente da Câmara Municipal de Natal?
7 – E os processos contra Rosalba Ciarlini, do clã Rosado, e agora mesmo a acusação contra Laíre e Sandra Rosado, de desvio de recursos públicos?
Impressiona o número de falcatruas e o número de operações da PF no RN, a quantidade de políticos, desde o mais importante até o simples operador ou chefete político, que PRIVATIZARAM O ESTADO RN! O erário público no nosso estado é a casa da Mãe Joana.

E são essas figuras, que se acotovelam nas procissões; que detém controle sobre os meios de comunicação; que tem seguidores fiéis e uma legião de puxas-saco, que sobrevivem com pequenas misérias distribuídas em torno de lealdade, que mantém o RN no limbo.

Essa estrutura parasitária tem claros reflexos na economia, com a inércia tomando conta dos órgãos que deveriam pensar sobre o desenvolvimento do RN. Os deputados federais eleitos, invariavelmente pertencente a uma ou outra oligarquia, são medíocres e operam no sentido de preservar seus mandatos, mantendo seus currais com emendas parlamentares e nada mais do que isso.

A putrefação política do RN, entretanto, parece não afetar as camadas médias, beneficiárias, em boa parte, de muitas dessas falcatruas e que mantém uma relação escancaradamente promíscua com o setor público, quer via cargos com remuneração polpuda, quer pelas compras governamentais, quer pela participação em esquemas de corrupção. A nossa “elite” criada dentro do Estado, está dentro dele, direta ou indiretamente.

Não é um cenário muito bonito e mudar esse estado de coisas só se começássemos a ter VERGONHA NA CARA, e passássemos a votar em quem, pelo menos, não está nessa elite porca. No Maranhão, berço dos Sarney, um comunista foi eleito e, com todas as suas debilidades e a verdadeira guerra midiática contra ele, tem feito uma administração MINIMAMENTE PROGRESSISTA.

No caso do RN, Robinson Faria, eleito por uma conjuntura que lhe parecia ruim, ainda mantém vínculos muito fortes com essa elite e não vejo, a curto prazo, como ele poderá romper esse cerco. Tudo começará a depender das eleições de 2016 e de 2018.

Teremos, portanto, um caminho longo pela frente e o RN, infelizmente, está sujeito à essa podridão cujos principais responsáveis somos nós.
 

*Wellington Duarte é Professor do Departamento de Economia da UFRN, Doutor em Ciência Politica pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS) da UFRN, Presidente do ADURN-SINDICATO, membro do Diretório Estadual do PCdoB