Filha de ex presos políticos lança no Recife livro sobre ditadura

A jornalista e historiadora sergipana Joana Côrtes lança nesta terça-feira (24), no Recife, o livro Dossiê Itamaracá: Cotidiano e resistência dos presos políticos da Penitenciária Barreto Campelo (Pernambuco 1973-1979)", fruto de sua dissertação de mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). O livro recebeu o Prêmio Memórias Reveladas, na 2ª edição do concurso promovido pelo Arquivo Nacional. 

Filha de ex presos políticos lança no Recife livro sobre ditadura - InfoNet

Segundo a autora, "trata-se da história de clandestinidade, prisão e resistência, mobilização e solidariedade, greves de fome e luta por liberdade de um coletivo de presos políticos na Ilha de Itamaracá, de mulheres nordestinas, de jovens brasileiros durante a ditadura na década de 70". O lançamento acontece na Livraria Cultura, no Bairro do Recife, a partir das 19h, durante bate-papo com a autora.

Joana Côrtes é filha dos ex-presos políticos Ana Côrtes e Bosco Rolemberg e foi a partir da história de vida de seus pais que resgatou a luta dos presos políticos na Penitenciária Barreto Campelo, na Ilha de Itamaracá, em Pernambuco, naquele período.

“O dossiê nasceu de um incômodo por não saber a história dos meus pais, de não ter visto isso direito nas escolas e de me perguntar por que ainda hoje existem ruas e escolas com nomes de ditadores. Eu sempre soube que eles eram ex-presos políticos, mas nunca conversamos muito sobre isso dentro de casa. A partir de uma exposição com telas produzidas pelo meu pai na prisão, vieram documentos, fotos, cartas, diários de greves de fome. E então, procurei outros presos para entrevistas e saber desse cotidiano de resistência dentro das celas”, revelou ao site InfoNet.

Para Joana, o livro resultou de uma mistura de pesquisa, solidariedade e amor ao próximo, traz aos leitores um olhar diferente a cerca da ditadura do país. “O Dossiê foi um processe de 'refazimento' dessa memória afetiva e histórica. É um olhar que só eu poderia ter porque é pessoal, vem de dentro”, comentou a autora.

Em sua pesquisa em acervos e, sobretudo, nos arquivos pessoais de ex presos políticos e do DOPS de Pernambuco, Joana Côrtes examinou fotografias, diários de greves de fome, correspondências, jornais da época, em busca de indícios, que a levassem a compreender como os presos políticos da Penitenciária Barreto Campelo, na Ilha de Itamaracá, em Pernambuco, resistiram e atuaram entre 1973 e 1979 para integrar e fortalecer os movimentos pela anistia "no período de luta pela abertura política e fim dos 21 anos de ditadura civil-militar (1964-1985) no país".

O livro já foi lançado, com sucesso, no Rio de Janeiro, São Paulo e Aracaju.

Outro livro

Além do Dossiê Itamaracá será lançado, nesta terça-feira, o livro "Os vigilantes da ordem: a cooperação DEOPS/SP e SNI e a suspeição aos movimentos pela anistia (1975-1983)", de Pâmela de Almeida Resende também vencedora da 2ª edição do Prêmio de Pesquisa Memórias Reveladas do Arquivo Nacional.

Sobre Joana

Joana Côrtes (1980) é jornalista e historiadora. Nasceu e cresceu em Aracaju (SE) e é filha dos ex-presos políticos Ana Côrtes e Bosco Rolemberg. Foi curadora da exposição coletiva Anistiados: couro esquecido, em 2009, realizada na Galeria Álvaro Santos, e da exibição do documentário A Mesa Vermelha, no Museu da Gente Sergipana, em abril de 2014.

Graduou-se em jornalismo pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e passou pelas redações do Cinform, Jornal da Cidade, Agência Sergipe de Notícias e TV Aperipê. É especialista em arte-educação pela Universidade de São Paulo (USP) e mestra em História Social pela Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP), com a dissertação que rendeu o prêmio da segunda edição do Memórias Reveladas. Desde 2013, é jornalista da TV Brasil, na Empresa Brasil de Comunicação (EBC), em São Paulo, onde vive desde 2009.

Audicéa Rodrigues, com informações do blog Primeira Mão e do site InfoNet.
Do Recife