João Sicsú defende estímulo ao crescimento contra o golpe

Economista professor da UFRJ e ex-diretor do Ipea, João Sicsú classificou a investida da oposição contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff como “uma tentativa de golpe”. Para ele, o enfrentamento ao impeachment deve ser feito em duas direções: na defesa da democracia e conquistando maior apoio social para o governo – o que, segundo Sicsú, passa por mudanças na política econômica.

João Sicsú

Segundo o economista, as chamadas “pedaladas fiscais” – que servem de argumento para o pedido de afastamento da presidenta – não são irregulares e forma praticadas por todos os governos anteriores.

“O governo Dilma, o Lula, o FHC, todos fazem rearranjos contábeis ao longo do ano para alcançar as metas e cumprir seus compromissos de gastos. Não existe nenhuma irregularidade no que foi feito. E mais: tudo o que foi feito no ano passado foi feito também nos governos anteriores. É uma prática comum orçamentária”, apontou, em entrevista ao Portal Vermelho, condedida na última semana.

Ao criticar o pedido de impeachment, Sicsú opinou sobre como enfrentar a tentativa de afastar Dilma. “O primeiro argumento é que vivemos numa democracia e temos que manter as regras do jogo. Mudamos governantes no momento eleitoral”, defendeu.

Segundo ele, por uma razão essencialmente política, o momento de dificuldade é também propício para mudanças na atual política econômica. “Porque o enfrentamento ao processo de impeachment, que, na verdade, é um golpe que está se tentando, passa por uma discussão com a sociedade, para ganhar apoio”, analisou.

Nesse sentido, ele prega que é preciso ir além da defesa da legalidade. “O governo precisa ganhar apoio social não só com a discussão do respeito à democracia, mas também [com a discussão] de que este governo governa bem o país. E isso significa gerar emprego, investimento, renda e melhorar a qualidade de vida. Infelizmente a política econômica atual não tem feito isso”, avaliou.

De acordo com Sicsú, o governo precisa reorientar o rumo da economia, implementando uma política contra a recessão e o desemprego. Ele citou que a atuação da equipe econômica tem resultado em corte de gastos, elevação de juros e inflação, corte de emprego e da renda do trabalhador. Isso tudo derruba o desempenho da economia e “fragiliza o governo”, à medida em que “tira bases sociais”, disse Sicsú.

“Embora seja tecnicamente fácil enfrentar esse processo de impeachment, há a dificuldade política de a linha econômica do governo não fortalecer as bases sociais para reforçar esse enfrentamento. Há aumento do desemprego e isso dificulta o enfrentamento político”, lamentou. O economista propôs então uma mudança de curso, com a implementação de uma política econômica de "estímulo ao crescimento, geração de emprego e renda".