Um mês após mortes, continuam investigações da Chacina do Curió

Das três linhas de investigações inicialmente conduzidas pelos órgãos de segurança pública do Estado, a que ganha força é a da participação de policiais militares na maior chacina de Fortaleza.

Um mês após mortes, continua investigações da Chacina do Curió

Na madrugada deste sábado, dia 12, completa um mês de um dos maiores crimes do Ceará, onde 11 pessoas foram assassinadas em Fortaleza, nos bairros Curió, Alagadiço Novo e São Miguel. Com o objetivo de dar uma resposta à comunidade da Grande Messejana e pedir a ajuda da população com denúncias que possam colaborar com a elucidação dos crimes, a Secretaria de Segurança e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE), a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) e entidades ligadas aos Direitos Humanos realizaram, na noite da última quinta-feira (10/12), um encontro para trocar informações e apresentar propostas.

Delci Teixeira, titular da SSPDS-CE; o comandante Geral da Polícia Militar, coronel Geovani Pinheiro da Silva e o delegado Geral da Polícia Civil, Andrade Júnior, participaram do encontro com a comunidade, onde ouviram moradores e familiares de vítimas que continuam a espera de repostas para o caso que chocou a região e ainda amedronta as pessoas. “O clima aqui é de tensão e medo. A verdade é que nos sentimos coagidos e reprimidos com a presença da polícia”, desabafa Saionara Melo, moradora do bairro.

A estudante se somou a dezenas de pessoas para confirmar o que a população já sabia. A cúpula da Segurança Pública do Estado confirma que ganha força a linha de investigação que aponta o envolvimento de policiais militares nos crimes.

Entre as propostas apresentadas durante o encontro com a comunidade em Messejana, estava a de reforçar a segurança através de integrantes da Polícia Pacificada. “A população ainda não está preparada para conviver com mais policiais, pois na farda deles não tem escrito ‘bonzinho ou mauzinho’”, critica Saionara. A estudante pediu, durante o encontro, a reativação do antigo GPM, local onde antes funcionava uma delegacia mas que agora está abandonado. “Se funcionasse ali um núcleo da Corregedoria, a gente se sentiria mais seguro, protegido e seria mais fácil a população ajudar”, propôs. Durante o encontro, realizado na quadra da escola Terezinha Parente, também ganhou força a proposta de homenagear as vítimas dando rebatizando ruas do bairro.

Investigação

Em entrevista coletiva na manhã da quinta-feira (10/12), a Controladoria Geral de Disciplina (CGD), que apura investiga o caso, apresentou dados da investigação que, ao longo do último mês, ouviu 82 testemunhas. Adriana Câmara, titular da Delegacia de Assuntos Internos (DAI), que preside o inquérito em parceria com as delegadas Reny Sales Filgueiras e Bianca de Oliveira Araújo, confirmou que existe o indício de participação de policiais. “E com o que já colhemos, pela cronologia dos fatos e relato de testemunhas, o que vem sendo fortalecida é essa linha”, disse.

Apesar de correr em segredo de justiça, o que impede a divulgação detalhada das ações, Adriana destaca que deverá pedir prorrogação para a finalização das investigações, que devem demorar mais, pelo menos, 30 dias para serem concluídas. A delegada solicita ainda a colaboração das testemunhas para a elucidação dos crimes. “Pedimos para que as pessoas que, por ventura, sejam testemunhas, que mesmo de forma anônima queiram colaborar com as investigações, liguem para 181 ou compareçam à Controladoria", apontou.

Caminhada

Para homenagear as vítimas da chacina os moradores do bairro realizam nesta sexta-feira (11/12), mais um ato em memória dos 11 mortos. Será a III Caminhada por Justiça e Paz, com concentração a partir das 15h30, na Praça da Igreja Matriz de Messejana e saída às 16h. O ato percorrerá as principais ruas do bairro, quando retornará às 17h e será encerrada com uma missa.

Entenda o caso

Na madrugada do dia 11 para o dia 12 de novembro, 11 pessoas foram vítimas de uma chacina em Fortaleza, com assassinatos nos bairros Curió, Alagadiço Novo e São Miguel. Nove dos onze homens assassinados tinham entre 16 e 19 anos.

A polícia trabalhava com três linhas de investigação para apurar as mortes: uma possível vingança pela morte do soldado Valterberg Chaves Serpa, 32, também assassinado no dia 11; retaliação à execução dos delatores de Carlos Alexandre Alberto da Silva, 38, preso no dia 10/11 e ainda vingança pela morte de Lindemberg Vieira Dias, também no dia 11/11, um dos líderes do crime na região.

Três das 11 pessoas mortas na chacina da Grande Messejana tinham passagem pela polícia. Os delitos, porém, não tinham relação com tráfico de drogas ou violência letal, mas ameaça, crime de trânsito e pensão alimentícia.

Conforme relatos de testemunhas, as vítimas eram tiradas de dentro das residências e executadas em via pública.