Não lhe fica bem: o imperialismo intensificou a sua ofensiva

As recentes eleições venezuelanas, e o quadro de guerra econômica, ingerência e desestabilização que as precedeu são elucidativas da intensificação da contra-ofensiva do imperialismo no sub-continente.

Por Ângelo Alves, no Jornal Avante 


Nicolás Maduro, presidente da Venezuela

Seria ingênuo pensar que o imperialismo iria desistir dos projetos de domínio daquela região e "permitir" o desenvolvimento dos processos revolucionários e progressistas que nela têm lugar. Não, desde sempre que o imperialismo, articulado com as forças reacionárias e fascistas, tentou travar aqueles processos. Existem três razões de peso para que assim seja: a própria natureza do imperialismo, que no contexto do aprofundamento da crise estrutural não só não abandona como intensifica e torna mais violenta a sua política de domínio econômico, político e geo-estratégico; o peso e importância econômica de países como o Brasil, a Venezuela e a Argentina e as riquezas naturais que possuem; e o papel e exemplo que aqueles processos têm na resistência anti-imperialista e no complexo processo de rearrumação de forças no plano mundial.

Essa contra ofensiva adquire diversas formas e usa vários "instrumentos", tentando simultaneamente tirar partido de insuficiências e contradições dos processos visados. Asfixia econômica de economias ainda marcadamente rentistas, dependentes da exportação de matérias primas (energéticas e outras); uso da comunicação social, maioritariamente controlada pelo grande capital, para campanhas de desestabilização; manipulação dos sistemas judiciais, ainda controlados em parte pela grande burguesia, para desestabilizar o legitimo poder político; hipócrita manipulação de problemas sociais que agora se acentuam com a crise; financiamento e apoio externo a grupos e forças de desestabilização, nomeadamente fascistas, são alguns exemplos desses "instrumentos", entre outros mais "tradicionais" como a manutenção de uma forte presença militar na região por meios próprios – como é o caso da IV Esquadra da Marinha norte-americana – ou por via "indirecta" como é o caso da Colômbia, entre outros.

Não há processo progressista na América Latina que não esteja debaixo da mira desta contra-ofensiva. Se no momento é mais visível no Brasil, Venezuela, Argentina e Equador, países chave no processo de integração latino-americana, ela afecta a todos. E de entre todos há um processo que pela sua natureza, tenacidade, exemplo e persistência está permanentemente na mira do imperialismo: Cuba. O processo em curso de "normalização" das relações com os EUA e a UE constitui uma vitória de Cuba e da luta do seu povo.

Mas dos lados de Washigton e de Bruxelas o objectivo de derrubar a revolução cubana não está abandonado, pelo contrário prossegue sob novas condições e roupagens. O criminoso bloqueio a Cuba mantém-se e é até intensificado pela Administração Obama. As manobras de ingerência e desestabilização e as campanhas difamatórias prosseguem. A presença de Guillermo Fariñas em Portugal – cidadão cubano, financiado pelos EUA para acções de desestabilização interna, condenado pela justiça de Cuba por crimes de delito comum, defensor acérrimo do bloqueio contra o seu povo e do isolamento internacional de Cuba, amigo do terrorista Possada Carriles e da máfia de Miami – é um sinal de que as campanhas contra Cuba aí estão bem vivas. Desta feita trazidas ao nosso País pela mão do «democrático» Parlamento Europeu numa vergonhosa manobra de ingerência nas relações externas de Portugal. A manobra não teve o efeito pretendido, e isso é positivo. Tão positivo que o facto de as instituições portuguesas (Governo e Assembleia da República) não terem recebido o sr. Fariñas, agindo assim em conformidade com o respeito pela soberania de Cuba e pela Constituição da República Portuguesa, suscitou o protesto dorido de figuras como Francisco Assis. Não lhe fica bem…