PM age com violência contra torcedores que protestavam contra Globo

Até então era um simples jogo de futebol entre o Corinthians e o Capivariano, da cidade de Capivari, válido pelo Campeonato Paulista de 2016, disputado na noite de quinta-feira (11). Só que veio o intervalo, um protesto e a repressão. Torcedores integrantes da Gaviões da Fiel, a maior torcida organizada do clube paulistano, abriram faixas contra a Rede Globo, contra o horário dos jogos e cobrando transparência nas contas do estádio. E aí veio a Polícia Militar.

Faixa Gaviões Protesto

O jogo, válido pela terceira rodada do Paulistão, estava empatado em 1 a 1 quando os integrantes da Gaviões da Fiel começaram a exibir as faixas de protesto. A ação fez com que policiais militares se dirigissem até os locais onde foram estendidas as faixas e as tomassem. Sob protestos dos torcedores, as faixas foram devolvidas e, em seguida, novamente estendidas, o que fez com que a polícia agisse com extrema violência, machucando dezenas de torcedores que tentaram dialogar com os policiais.

Duas das faixas protestavam contra a Rede Globo. Uma dizia “Rede Globo, o Corinthians não é seu quintal” e outra “Jogo às 22h também merece punição”, em protesto contra a manipulação dos horários das partidas feita pela emissora de televisão, que detém os direitos de transmissão dos jogos do clube e se acha no direito de colocar os jogos nos horários que bem entender.

O grupo “Mídia, Futebol e Democracia”, da Fundação Barão de Itararé, lançou em 2015 uma campanha contra jogos às 22 horas. Torcedores de todo o país aderiram à campanha, que foi reprimida pelas polícias estaduais em vários estádios do país.

A Gaviões da Fiel exibiu nas redes sociais fotografias de integrantes feridos pela ação repressora da Polícia Militar de São Paulo. A repressão a manifestações de qualquer tipo dentro de estádios não é nova. É uma medida praticada de forma exacerbada pela polícia controlada pelo governo do PSDB e visa, sobretudo, a proteger os interesses da rede de televisão que transmite as partidas.

Todos os torcedores são revistados na entrada dos estádios e impedidos de entrar se possuírem qualquer adereço ou objeto que possa ser interpretado pela PM como uma manifestação crítica a qualquer entidade. O controle é mais exigente que na busca de objetos que possam causar danos físicos, já que muitos torcedores relatam nas redes sociais que já adentraram às praças esportivas com objetos que poderiam ser usados para agredir outras pessoas.

Uma das faixas exibidas protestava também contra o próprio clube. “Cadê as contas do e$tádio”, dizia ela. Os torcedores entoaram cânticos contra a Federação Paulista de Futebol, que recentemente puniu a organizada por ela ter usado sinalizadores que produzem brilho e fumaça durante a final da Copa São Paulo de Futebol, em 25 de janeiro, no Pacaembu. A torcida afirma que os fogos são inofensivos. Ao mesmo tempo, narradores e comentaristas da rede que transmite os jogos tratam o assunto com uma enorme ferocidade, visto que a fumaça, na verdade, atrapalha a exibição e atrasa as partidas, o que interfere na sua grade de programação.

A Gaviões da Fiel foi no dia 31 de janeiro até a sede da FPF para protestar contra a decisão da entidade de suspendê-la dos jogos por causa do incidente na final da Copa. No ato, além de protestar com fogos e sinalizadores, os manifestantes também fizeram referência ao escândalo da merenda escolar, que envolve o deputado estadual Fernando Capez (PSDB).

O atual presidente da Assembleia conquistou notoriedade ao agir pelo Ministério Público contra as torcidas organizadas de vários clubes de São Paulo. Cantando “Eu não roubo merenda, eu não sou deputado, trabalho todo dia, não roubo meu estado”, a Gaviões protestou contra Capez.

Como dito antes, a repressão recente a manifestações em estádios não é novidade. Um evento que teve até mesmo a autorização do próprio clube, envolvendo ativistas que exibiram uma faixa pela anistia durante a ditadura militar, em 1979, foi prejudicado pela Polícia Militar, que apreendeu a réplica da faixa que seria utilizada em uma partida contra o Santos, em agosto de 2015.

Torcedores do próprio Santos contam nas redes sociais que já foram assediados por policiais por portarem, na Vila Belmiro, faixas contra a Rede Globo. A polícia alega, de forma enviesada, que atende à legislação vigente, celebrada no Estatuto do Torcedor. A vigilância e repressão é exercida dessa forma em outros estados também, principalmente naqueles que não possuem governos populares.