O Partido cai no samba: os comunistas e a cultura popular

A dissertação de mestrado para a UFRJ da pesquisadora Valéria Lima Guimarães apresenta um amplo estudo sobre a relação dos comunistas com o samba, o carnaval e a cultura popular.

Roda de Samba - Carybé - Reprodução

Prosa, Poesia e Arte traz um trecho da dissertação destacada, e ao final, o documento inteiro anexo em formato PDF.

Leia o trecho da dissertação de Valéria Lima Guimarães:

Como em todos os anos durante o carnaval, os componentes das escolas de samba desfilam na avenida cantando os sambas enredos escolhidos em suas quadras durante o ano anterior.

Cantar o samba-enredo de sua escola de coração é uma rotina saborosa para todo folião nos dias de carnaval. Na década de 1980, os versos dos sambas-enredo, especialmente os da Beija-Flor de Nilópolis, escola que muito cedo aprendi a gostar por identidade local, faziam-me descobrir que havia uma relação mágica entre o samba e a história do Brasil ensinada no meu curso primário, condensada sob a forma de Estudos Sociais, respaldando as letras dos sambas que exaltavam o valor da “civilização”, dos “heróis”, “mitos”, “lendas” e “tradições”. Os sambas e as aulas desafiavam a minha imaginação, dando asas a aventuras, como a de “brincar de bandeirantes”. Pelos terrenos baldios e quintais de nossas casas, de “arma” em punho, seguíamos eu e outros amigos de infância, todos da mesma classe, pela “mata” na deliciosa “aventura” de “caçar índios” e “salvar o Brasil”.

Sempre havia discórdia: todos queriam ser Fernão Dias e Domingos Jorge Velho, mas ninguém queria ser a “caça”. A despeito das letras de samba que também enfocavam os indígenas (sob a ótica dos bons selvagens), o apelo dos bandeirantes, representados nos livros escolares como belos, de feições amistosas, grande bravura e um bom caráter, era mais forte do que a representação do indígena, com expressões hostis… todos éramos, então, bandeirantes, à procura de um inimigo imaginário, já que ninguém se candidatava ao posto…

Anos mais tarde, as comemorações do centenário da abolição da escravatura, levadas para a avenida pelas escolas de samba, apontavam mais claramente para as relações entre samba e História. Então no final do antigo primeiro grau, cada vez mais fazia sentido e era bem mais agradável conhecer a História do Brasil através do carnaval.

Assim como assistir a um filme que abordasse temática histórica significava apreender a história tal qual ocorreu, um samba-enredo de abordagem histórica era um veículo de informação equivalente aos manuais escolares. O discurso de ambos era muito semelhante, a ideologia também, embora ainda não pudesse percebê-la.

O amadurecimento intelectual não provocou uma ruptura com a antiga crença no valor da relação samba-história: ao contrário, revelou novas possibilidades de ver o tema, e tornou-a mais complexa, deixando de ser percebida como um mero apêndice dos livros didáticos, acrescido de uma poética peculiar. Cada vez mais convencida de que a relação samba e História é bastante fértil, desenvolvi a monografia O Carnaval da Vitória e Outros Carnavais: relações entre política e samba – 1945-1950, trabalho que trouxe à tona uma série de questões que precisavam ser investigadas e discutidas mais detalhadamente num segundo momento. A comunicação O Carnaval dos 500 anos e o ofício do historiador, apresentada na ANPUH-RJ, foi uma outra experiência bastante interessante, que reforçou ainda mais o meu prazer em participar e estudar elementos pertinentes ao carnaval, nesse caso o samba, articulado a um outro grande prazer do qual fiz o meu ofício: a História.

O resultado desse prazer e de acreditar na viabilidade acadêmica do estudo do mundo do samba, para usar o jargão corrente entre os sambistas e os não-sambistas, é a materialização desta dissertação de mestrado, que atualiza algumas questões estudadas na monografia de encerramento do curso de graduação e as amplia, trazendo novas discussões e um novo enfoque, que agora é apresentada ao leitor sob o título de O PCB cai no samba: relações entre política e cultura: 1945-1950.

Leia na íntegra o documento em anexo.