Se não há cores, não pode ser minha revolução

A frase original é da feminista Emma Goldman: “se não posso dançar, não é minha revolução”. Micaela Palermo, criadora de ilustrações de encher os olhos e alegrar o coração, nos faz lembrar diariamente da importância da arte, da cultura, e do profundo sentimento de amor para buscar forças e resistir. “Baila, baila mi revolución”, diz “dançarina” criada pela ilustradora uruguaia.

Por Mariana Serafini

Mica - Divulgação

O nome é Micaela, mas as ilustrações são assinadas por “Mica”, como a jovem ilustradora e estudante de Belas Artes é conhecida pelos amigos, familiares e admiradores de seu trabalho. No alto de seus 22 anos, ela sai do interior do Uruguai para encantar e colorir o mundo. Mica traz em seus desenhos a esperança de dias melhores e o valor dos momentos simples, capazes de nos inspirar para seguirmos firmes na luta.

Comprometida com o valor revolucionário da arte, Micaela publicou, desde Montevideo, uma ilustração em defesa da democracia no Brasil. “Não vai ter golpe”, dizia sua “menina resistente” em português mesmo, para que o recado chegasse até nós brasileiros. Foi a primeira vez que a ilustradora mostrou seu rosto. Sempre que uma ilustração é publicada em sua página oficial no Facebook são apenas os desenhos, mas quando o assunto era a luta pela democracia em um país ameaçado, Micaela mostrou o rosto que constrói o mundo encantado de Mica.

Em conversa com o Vermelho, ela explicou o motivo que a levou a publicar este desenho, em meio a tantas ilustrações mais “leves”. “Acredito que as pessoas não podem esquecer o passado para não voltar a repetir as mesmas coisas. É isso o que me motiva a gritar desde o papel, desde minhas linhas grito, para que as pessoas não esqueçam e para os que não estejam informados dos acontecimentos fiquem sabendo, se informem. Não são muitos os que sabem o que está ocorrendo, os meios de comunicação manipulam muito a informação e fazem chegar ao povo informações maquiadas. Nosso trabalho é não deixar que isso aconteça, como artista sinto o dever de fazê-lo”.

Para Mica, o artista deve “enxergar além do eu” e se somar à luta dos povos. “Somos muitos e unidos somos muitos mais. Pois a arte move muito, mais do que acreditamos, com ela podemos mudar muitas coisas”. Ela conta que no Uruguai há uma brincadeira cujo objetivo é “aguçar o olhar”, e esta é, também, a responsabilidade do artista, em momentos de ameaça à democracia.

“As coisas lindas podem começar com um mate”

“Feminista, autónoma, apaixonada por cozinhar, tomar chá e por incensos”, é assim que Mica se define e nos faz compreender de onde vem a capacidade de trazer cor à luta das mulheres por mais direitos e ao mesmo tempo revelar a beleza dos momentos singelos, justamente aqueles que às vezes passam despercebidos em meio às exigências da rotina.

“As coisas mais lindas podem começar com um mate”, ilustra o quão profundo são os momentos retratados por Mica. O mate, ou chimarrão, é uma bebida típica do sul do Brasil e do Uruguai e Argentina. O objetivo do mate é reunir e compartilhar, e é de momentos como estes que ela encontra inspiração. “Os desenhos são vivências que tenho com meus amigos, com minha família, na cozinha, na rua, na luta por direitos…acredito que seja por isso que muitos se identificam. Temas como o amor, a amizade, a vontade de fazer coisas, as energias, também as tristezas nos inspiram, há de tudo um pouco e todos estivemos em alguma destas situações em algum momento”.

A desenhista das pequenas coisas capazes de transformar o mundo aprendeu a lição em casa, em um lar “onde o amor e a arte sempre estiveram presentes”. Filha de “uma mulher guerreira, artesã de mãos firmes e trabalhadoras” e de “um pai amante do campo, da música folclórica e dos animais”. Mica revela que esta é a formula de seu mundo “tão lindo” recheado de papel em branco, lápis de cor, fotografias e coragem para buscar dias melhores.

Veja mais ilustrações de Mica: 


"Há mil coisas para fazer" 


"Nos conectarmos com olhares" 



"Como marea se dançamos juntinhos" 


"Quero um caminho livre de violência" 


"Liberta seus cabelos" 


"Não estou sozinha, estou comigo"