Semana Santa: Malhação do Judas critica tentativa de golpe

No Nordeste é forte a tradição popular da malhação do Judas no sábado de Aleluia que, segundo a cultura, simboliza o personagem que traiu Jesus Cristo. Normalmente, os bonecos remetem a pessoas ou situações que a população gostaria de aplicar um “castigo”. E a política sempre está presente na brincadeira.

Semana Santa: Malhação do Judas critica tentativa de golpe

Em Fortaleza, neste sábado (26/03), na Praça da Gentilândia, sobrou para o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e até para o juiz paranaense Sérgio Moro, todos eles envolvidos na tentativa de golpe.

Conforme a tradição, o testamento foi lido pelos brincantes. Confira a íntegra:

O JUDAS DA DEMOCRACIA OU TODO GOLPISTA QUEIMA

Por *Flávio Arruda

Faz é tempo que me malham,
corda, fogo e violência.
O fumo eu levo sozinho,
ninguém vê a concorrência.

Pois não vou deixar barato
nessa nova malhação,
abro logo o meu baú
e tome esculhambação.

Pro Sérgio, meu companheiro,
da vara que se apequena,
deixo um pau de espichar couro
porque hoje eu tenho é pena.

Pros diletos Promotores,
que o Sérgio tem tanto alento,
deixo um rolinho da fita
que impede vazamento.

Mas se for pouco o rolinho,
pois ali vaza que só,
deixo óleos de peroba
pra usarem no mocó.

Então vou deixar também
de verdade tem quem breche,
a macacada completa
na lista da Odebrecht.

Pro “japa da federal”
solto com tantas marmotas,
deixo cópia da sentença
que deu o STJ.

Pra Polícia Federal,
de lavadoras manias,
deixo o significado
da palavra hipocrisia.

De vazo em vazo eu deixo,
pros comandos em ação,
doses de messianismo,
arbítrio e violação.

Pro Rodrigo que procura,
mas só acha o que quer,
deixo um bico de tucano
pra ele usar se quiser.

Pro Gilmar do Mato Grosso
um traíra, não se iluda,
deixo uma toga de penas
daquela ave bicuda.

Pro Michel, o alegórico,
um traidor contumaz,
deixo a corda que usei
e não deixo nada mais.

Pro caba chamado Eduardo,
que de mim só muda a alcunha,
ladrão de prova provada
deixo um vá tomar no Cunha!.

E pro Renan, caladinho,
deixo aqui o meu recado,
bote as barbinhas de molho
a lama está no Senado.

Pro Aecinho popó,
que não ganha uma eleição,
deixo a lista lá de Furnas
e a mais nova delação.

Pro rei da privataria
pobe desse ignorante
deixo as trevas do inferno
o resto é com a ex-amante.

Pra Rede Golpe famosa
pelo apoio à ditadura,
deixo um dito popular:
não há mal que sempre dura.

A Rede Golpe exibe
um tal Jornal ‘Nazional’,
por isso pra ela eu deixo
a minha cara de pau.

Pros donos da Rede Golpe,
vendilhões de todo o intento,
deixo barraca de praia
não vão ficar ao relento.

Pro Galeguim, sócio da Rede,
que do golpe opera os potes,
vou deixar uma pergunta:
e a família, na Zelotes?.

Pro José, tal de Agripino,
o demo em figura humana,
deixo a lista de malfeitos
que vão te levar em cana.

Deixo pro Bolsonaro,
um führer de opereta,
a faixa de rei eterno
do império do capeta.

Pro Marcos Feliciano,
um peixe em busca de aquário,
deixo um voto de coragem:
hômi, saia do armário!

Pro coxinha ‘elo perdido’,
um beijo de despedida,
deixo um retrato do Hitler
com firma reconhecida.

Pro coxinha impedido,
pelo ódio e o aperreio
deixo aquelas intenções
das quais eu sempre fui cheio.

Pro coxinha entupido,
pela Globo e pelas Vejas,
deixo a pedra lapidar
dessas coisas malfazejas.

Pros coxinhas delirantes
os raivosos sem parar,
deixo chás de camomila
nêgada, vão se acalmar.

Não esqueci foi do Sérgio,
meu pensamento voltou.
deixo a ele o meu lamento
que tudo desmoronou.

Pro doutor daquela vara
deixo história lá de trás,
que conta que foi Pilatos
quem libertou Barrabás.

Pro pessoal da varinha
as plumas da vaidade,
deixo a máscara do Zorro,
mascarado de verdade.

Pra deixar aquela máscara
vou ficar encabulado,
pois Dom Diego lutava
pelo povo injustiçado.

Pra mídia golpista e venal
que vive de contar lorotas,
deixo vista só de ida
d’onde o cão perdeu as botas.

Pro sujeito que apresenta
aquele Jornal ‘Nazional’
Deixo meu cargo e função,
toda vida fui Global.

Pra amenizar o clima
e arejar essa tarde,
deixo loas pra quem luta
mas não façam muito alarde.

Fechando meu testamento
esse é meu último dia,
quero me apresentar:
Judas da democracia.

Assumi meu nome novo
porque trai o povão
são muitos rostos que tenho
todos traindo a nação.

Tentei fazer o de sempre
ser bedel e ser juiz,
queimarei por meus pecados
quis por fogo no país.

Bem mais que trinta dinheiros
foram a minha ambição.
não me importa nada além
de acoitar corrupção.

Eu morro e não entendo,
ninguém me tira essa teima,
tanto ontem quanto hoje
todo golpista queima.

*Flávio Arruda é publicitário, ex-presidente da UJS/CE e militante comunista.