Rosemberg Cariry: O Congresso dos horrores

Por * Rosemberg Cariry

Começa com tumulto sessão de votação do impeachment - Agência Câmara

A elite brasileira quer estar no comando, custe o que custar. Por força do manuseio das leis e/ou das armas, recusa-se a sair do lugar de elite política e/ou aceitar qualquer partilha de natureza social ou econômica. Quando se sente ameaçado, esse poder levanta-se contra os de baixo, acusa-os de qualquer crime, real ou forjado, ergue bandeiras que variam do anticomunismo à da anticorrupção, com ares de mofado moralismo e/ou patriotismo de ocasião.

Foi assim desde o ano de 1889, quando a República foi proclamada, por meio de uma quartelada patética, sem nenhuma participação do povo. Reapareceu como ferramenta no chamado Estado Novo, em 1937; no golpe de 1964, quando, submissa aos Estados Unidos, aceitou que financiassem instituições, organizações, movimentos e ações políticas para desestabilizar o Governo João Goulart, que prometera tímidas reformas sociais de base. A famosa “marcha da família com Deus e pela liberdade” mobilizou setores da classe média interessada em ascensão social apenas para si e os seus, sob a desculpa de ser contra a “corrupção”. Até que tudo resultou em uma ação corruptora tenebrosa – a do autoritarismo, da quebra das liberdades cidadãs, das torturas, dos assassinatos, das perseguições e expulsões de integrantes da melhor inteligência do País.

A história se repete agora em feitio de ópera bufa. O que vimos no Congresso Nacional foi uma pavorosa farsa a demonstrar claramente a quem está entregue o País. Imitando outros momentos similares de infâmia, a bela bandeira brasileira foi tomada de assalto e, impregnada de uma dose qualquer de embuste ideológico, com doses calculadas de charlatanice e fascismo. Já vivemos algumas vezes isto, tanto que sabemos muito bem quando ocorre tão astuciosa apropriação desse símbolo precioso de uma nação.

Grassa nos dias que correm o analfabetismo político, a subserviência aos mercados globalizados e aos grandes empresários, o fundamentalismo religioso dos mercadores da bíblia, a raiva dos latifundiários e do agronegócio, a violência da bancada da bala, homenageando torturadores. Afloram e boiam abjetos na lama da cupidez sem escrúpulo. Tudo dito em nome de Deus e da família.

Em verdade, esses políticos conservadores falam em defesa de suas propriedades e ganhos fabulosos, demarcando o ressurgimento das suas neocapitanias hereditárias, ampliando as novas formas de corrupção, aliados que são da cobiça internacional pelo Brasil. No meio das trevas, apenas alguns lampejos de posições firmes e lúcidas, inscritas em discursos proferidos por alguns poucos políticos sérios, que ainda pensam um projeto para o Brasil profundo. Em momentos como esses, perderíamos toda a esperança na grandeza dessa nação, se não restasse a dignidade do povo, a sua capacidade de resistência e fortaleza inegável. Afinal, a história aponta exemplos.

Canudos não se rendeu!


*Rosemberg Cariry é cineasta e escritor.

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