Angela Gutiérrez: Cadeira do dragão sob céu risonho e límpido?

Por *Angela Gutiérrez

SDH condena menção e aplauso a torturador na votação de impeachment

Nos tempos da Colônia e da Monarquia, algumas vozes de escritores levantaram-se contra injustiças e violências cometidas sob o “céu risonho e límpido” do Brasil que se fazia nação. Ao longo de nossa vida republicana, entrecortada por regimes de exceção, centenas de escritores, caricaturistas, compositores, humoristas, cartunistas, cineastas, grafiteiros, teatrólogos, pintores, escultores… manifestaram e manifestam sua opinião, através das artes, sobre relações entre cidadania e poder, como Chico Buarque, em canções que animaram nosso povo, no tempo em que “Falou, tá falado/ Não tem discussão, não”, a acreditar no retorno à democracia, apesar de.

Hoje, com as facilidades de interferir na História em tempo real, milhões de brasileiros exercitam o direito de expor suas opiniões, ou de replicar o pensamento único com que somos massacrados vinte quatro horas por dia pela chamada grande mídia (lembram o Grande Irmão, da ficção 1984, de Orwell?). Neste momento, como cidadã, dirijo-me não a um leitor hipotético, mas a você, de carne e osso, que, neste exato momento, lê minhas palavras, para, unindo-me a imensa multidão de brasileiros e estrangeiros, abominar a criminosa homenagem a Brilhante Ustra, pronunciada pelo Deputado Bolsonaro, diante de nosso povo, que a escutou perplexo e envergonhado.

Honra a um torturador? E mais, àquele declarado pela Justiça como torturador? Àquele que, covardemente, feriu, afogou, sufocou, quebrou ossos, deu choques elétricos, urinou e vomitou em vítima sentada na cadeira do dragão, levou crianças para verem a mãe destroçada, e tudo mais de hediondo fez que sua mente perversa sugeriu para impor humilhação e sofrimento a seres humanos indefesos?

Leitor e leitora, podemos aceitar calados e inertes que esse torturador, em um Estado Democrático de Direito, seja homenageado por representante do povo, diante desse povo, como escárnio aos que morreram sob suas torturas e aos que sobreviveram a seus métodos desumanos e, ainda, como elogio ao ato de torturar?

*Angela Gutiérrez é escritora e cidadã

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