Publicado 05/05/2016 16:31

A análise econômica atual perde-se em uma miríade de fatores, que acabam deslocando o economista dos temas centrais. Privilegia-se o detalhe em detrimento do essencial.
Nakano tem a capacidade rara, dentre os economistas, de identificar os temas centrais.
Para ele, a recuperação da economia depende de duas mudanças estruturais, de dois instrumentos típicos para desafios de reativação da economia: câmbio e juros.
Mesmo que mantenha a parte fiscal controlada, diz Nakano, não há a menor condição de ajuste fiscal, com a economia caindo 4%.
E aí tornam-se prioritárias duas medidas:
1. Tirar a definição da política cambial das mãos do Banco Central.
2. Acabar com a Selic e devolver ao Tesouro a definição das taxas de juros de longo prazo.
A questão cambial
Com o câmbio a R$ 3,80 houve a recuperação de muitos setores, jogando nas exportações o excesso de capacidade ociosa. Trata-se de uma reação imediata, mas que não se converterá em investimento (isto é, em ampliação da capacidade instalada) sem garantia de que haverá estabilidade cambial com câmbio competitivo.
O câmbio padece de um erro histórico. Antes da criação do BC, era operacionalizado pelo Banco do Brasil. Quando o BC foi criado, transferiu-se tudo para ela. Por lei, ficou responsável não apenas pela operacionalização, mas pela própria definição da política cambial.
A definição da política cambial deveria ser do Executivo, como é em todos os países do mundo, Alemanha, Japão. Nos EUA é o Tesouro que manda e o FED de Nova York que implementa.
O caminho seria tirar o câmbio das mãos do BC e colocar em outro órgão com credibilidade suficiente junto ao setor industrial, para garantir taxa mais estável que garanta a competitividade.
A questão monetária
Na parte monetária, a prioridade seria acabar com Selic. Não há nenhuma novidade, apenas fazer o que o restante do mundo já faz. Hoje em dia a Selic remunera o overnight e influência a taxa de juros de longo prazo. O BC acaba colocando a taxa de curto prazo tão elevada que tira do Tesouro a capacidade de definir a taxa de juros longa, aquela que influencia os investimentos.
Com o BC operando o money market, definindo a remuneração da sobra de caixas dos bancos. Jamais vai existir mercado de longo prazo, se persistir esse modelo, diz Nakano.
Na ponta mais longa, os juros deveriam refletir a taxa de retorno do investimento produtivo. Estudos recentes de Carlos Antônio Rocca, do Centro de Estudos de Mercado de Capitais, no entanto, revelaram que o custo médio de capital para empresas não financeiras é três vezes maior que o retorno.
Se mudar a política monetária, imediatamente o Tesouro terá condições de deslocar para baixo toda a curva de juros.