Centrais criticam decisão do Copom, que só agrada especuladores

A decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Bacen) de manter a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% foi criticada pelas centrais sindicais do país. Para os sindicalistas, a manutenção dos juros em patamar tão elevado só é boa para especuladores e contraria os interesses dos trabalhadores. 

Adilson Araújo CTB

De acordo com o presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, diante da sinalização da queda na inflação, a expectativa era de que o Bacen adotasse uma posição “menos conservadora” e apontasse para uma redução da taxa básica de juros.

Segundo Araújo, os juros altos prejudicam a população, reduzem o consumo e os investimentos, tudo isso para alimentar o rentismo e o capital especulativo. “A taxa mantida continua sendo uma das maiores do planeta. O setor produtivo, que vem sofrendo as consequências da abrupta desindustrialização, continuará a sentir o seu impacto”, escreve.

Classificando o governo provisório de Michel Temer como “temerário e ilegítimo“, o presidente da CTB avalia ainda que, com a chegada de Ilan Goldfajn à presidência do banco, a tendência é de uma piora no cenário.

“Ao que tudo indica, passada a chuva, teremos grande tempestade, já que a perspectiva do novo presidente do Bacen é adotar uma postura mais ortodoxa. (…) Vem arrocho pela frente”, previu.

Em nota, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) lembra que a decisão do Copom acontece uma semana após a divulgação do resultado negativo do PIB, motivo pelo qual se esperava  uma redução significativa dos juros, como forma de recuperar a economia e reestabelecer o crescimento econômico e a geração de empregos.

"Porém, mais uma vez o Bacen opta por engordar ainda mais os lucros dos banqueiros e especuladores financeiros, e mostra a sua insensibilidade em relação ao setor produtivo e às necessidades dos trabalhadores e do país frente ao quadro econômico atual recessivo", critica Vagner Freitas, presidente nacional da CUT.

No texto, ele defende uma nova política econômica, que tenha como um dos pilares a redução da taxa de juros para níveis bem mais baixos e próximo aos padrões internacionais, "que desestimule a especulação financeira e que priorize a produção, o emprego e a renda daqueles que trabalham e produzem a riqueza desse país".

Aliado de primeira hora do impeachment contra a presdienta Dilma Rousseff, Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, assina nota da entidade que critica o Copom, afirmando que o colegiado "continua se curvando aos especuladores".

"A decisão é nefasta para os trabalhadores, revelando que o novo governo perdeu uma ótima oportunidade de sinalizar, para o setor produtivo, que gera emprego e renda e que o país não bajula mais o rentismo. Juro estratosférico é uma forma de concentrar cada vez mais renda nas mãos de banqueiros e especuladores”, diz o texto. 

De acordo com Paulinho da Força, como é conhecido, "o novo governo precisa entender que a taxa de juros em patamares estratosféricos tem sido uma ferramenta ineficaz no combate à inflação, além de encarecer o crédito para consumo e para investimentos, causar mais desemprego, queda de renda e piora no cenário de recessão da economia.”

Pela sétima vez seguida, o Banco Central não mexeu nos juros básicos da economia. Por unanimidade, manteve, nesta quarta (08), a taxa Selic em 14,25% ao ano, informando que a inflação acumulada em 12 meses não permite cortes na taxa de juros. Esta foi a última reunião sob o comando de Alexandre Tombini. O novo presidente do banco, Ilan Goldfajn, tomou posse nesta quinta.