Os pequenos gigantes

A ocupação da ALESP pelos estudantes secundaristas exigindo a imediata instalação da CPI do roubo da merenda é mais uma bela característica deste movimento que ficou conhecido como a Primavera Secundarista, e já chega ao segundo ano de efervescência revolucionária ocupando e preocupando os poderosos, os pequenos se agigantam na luta por democracia e a sociedade apoia.

Niceole
Por Eder Bronson*

A desocupação da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo na última sexta-feira – 06 de maio de 2016 – registrou um marco na história de luta popular no país. A carta lida em jogral pela jovem estudante Nicole Miranda, presidenta do C.A. da Escola Maestro Fabiano Lozano, em meio à multidão de jornalistas e apoiadores da ocupação, representou a vitória de uma batalha travada por gigantes.





O dia que 50 pequenos gigantes derrotaram o presidente da ALESP, Fernando Capez, investigado na operação, e o governador Geraldo Alckmin, ambos pertencentes ao PSDB, partido que governa o falido estado de São Paulo há mais de 20 anos e que cala a Assembleia Legislativa, além de articular contra a instalação da CPI que os investigará, tende a ser registrado nos livros de história como o dia que a juventude retomou a casa do povo. Veja o vídeo produzido pelo jornalista e poeta Pedro Bayeux.

Foi com muita ousadia que dignificou a história do movimento estudantil, honrando personagens de luta como Edson Luís e Luís Carlos Guimarães, secundaristas assassinados no período de ditadura militar; que a aguerrida União Paulista dos Estudantes Secundaristas e a União Brasileira de Estudantes Secundaristas ocuparam no último dia 3 de maio o plenário da casa parlamentar do maior estado da américa latina, sensibilizando a sociedade em torno da nobre causa, a luta contra quem rouba comida de crianças necessitadas.

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A primavera secundarista que se iniciou com mais de 200 escolas ocupadas o ano passado contra a tal reorganização do governo tucano, afim de reduzir a educação pública a pó e colocar em vigência seu projeto de privatização do ensino público; persiste resistente e tende a se alastrar cada vez mais pelo resto do país, revelando que a luta em torno de uma educação de qualidade vem se ampliando. Escolas já estão ocupadas no Rio de Janeiro e Alagoas e segundo a UBES, novas ocupações estão sendo articuladas.

Como parte considerável do ímpeto que move esses jovens, a ideia da ocupação da ALESP foi deliberada no 18º Congresso da UPES, mesmo que elegeu o estudante da escola técnica IFSP Sertãozinho, Emerson Santos, conhecido no movimento como “Catatau”; o primeiro homossexual assumido a presidir a entidade de 67 anos. Para Ângela Meyer, liderança nas ocupações de escolas ano passado e presidenta que passou a função para Emerson, diz que a principal característica do jovem de 20 anos é a superação das dificuldades e sua capacidade de resistência, além disso, a presidência é fruto do reconhecimento do trabalho desenvolvido no movimento.

Segundo o novo presidente da entidade – que lidera o jogral no vídeo que pode assistir logo acima – assumir esse desafio e ainda ter como primeira ação ocupar a plenária da ALESP é algo único em sua vida de lutador social, porém, mais que isso, é importante também para a história das lutas sociais democráticas. “É com esse espirito coletivo que integro essa luta em nome da educação pública, da diversidade, democracia e da liberdade de manifestação que tanto vem sendo reprimida pela polícia do Alckmin”, finalizou.

A Polícia Militar do Estado de São Paulo, conhecida pela sua reputação truculenta contra manifestantes e branda contra o PCC, mais uma vez promoveu seus abusos de autoridade ao ultrapassar os limites do bom senso tratando estudantes como bandidos e promovendo terror psicológico e deterioração física nos jovens cidadãos que ocuparam o espaço que, de certa forma, os pertence.





Coronel Telhada, deputado tucano fascista, totalmente exaltado com a ocupação realizada pelos estudantes, incomodado com a investigação que pode atingir o peito de seu partido, foi colocado em seu devido lugar pela jovem estudante Karol Rocha, que enfrentou a pompa autoritária do coronel, com firmeza. Assista o vídeo viralizou no Facebook:

Segundo a jovem estudante, o coronel mentiu ao dizer que ela o ofendeu. “Ele diz que faltei com respeito com ele, mas foi ele quem faltou com respeito comigo. Não aceito esse tipo de truculência. O deputado estava descontrolado, me deu voz de prisão porque acha que ainda estamos em 64, mas nem policial ele é, pois está deputado. Foi nitidamente abuso de poder”.

De acordo com Bia Aragão, dirigente do DCE da FATEC, “Sabemos que foi uma loucura e que seria muito difícil, mas as pessoas estavam revoltadas por ver tantos deputados dizendo que é contra a corrupção, mas sem se importar com o fato de o presidente da assembleia legislativa do estado de São Paulo, ser acusado de roubar dinheiro da merenda de crianças. Cansamos do silêncio, pois se estávamos gritando nas ruas e não nos escutavam, decidimos gritar aqui dentro”.

Deputados Estaduais comprometidos com a democracia e o direito à livre expressão apoiaram os estudantes secundaristas. O Deputado João Paulo Rillo (PT) está sendo perseguido por deputados fascistas que se desesperaram com a atitude dos jovens cidadãos, como Coronel Telhada (PSDB), Coronel Camilo (PSD) e Delegado Olim (PP) que entraram com representação contra o petista no Conselho de Ética da Casa por quebra de decoro parlamentar tentando cassar seu mandato.

Deputado Carlos Gianazzi (PSOL) também esteve interinamente a disposição dos estudantes, tal como a Deputada Leci Brandão que acolheu carinhosamente esses jovens secundaristas e os protegeu com a força de uma mulher guerreira.

Para o deputado federal Orlando Silva que visitou a ocupação na última sexta-feira, “ocupação é uma forma de luta importante no Brasil. O MST marcou o lema ocupar, resistir e produzir um conceito de mobilização permanente. Os estudantes têm histórico de ocupações, em 1942; Hélio de Almeida, presidente da UNE liderou a ocupação da sociedade germânica, um clube nazista do Rio de Janeiro e alí virou a sede da entidade, o baluarte da democracia”.

Orlando ainda ressalta a importância da experiência das ocupações no estado que ocorrem desde o ano passado, “esta forma de luta denuncia a realidade da educação, da democracia no estado de São Paulo, porque quando se pede a CPI da Merenda é para denunciar o roubo da comida das crianças, mas é também para denunciar a falta de democracia, é por isso que esses estudantes são uma aula de cidadania não apenas para São Paulo, mas para todo o Brasil. Esses jovens são pequenos no tamanho, mas gigantes na luta”.

Em um momento de avanço do conservadorismo, a juventude se agiganta e toca o coração da sociedade cidadã de São Paulo, Brasil e para além de nossas fronteiras. A desocupação é apenas mais um momento desta longa primavera secundarista, e a sociedade já mostrou que está de braços abertos aos secundaristas.

Veja todas as fotos da desocupação:

 

*Eder Bronson é jornalista