Neogovernistas tumultuam sessão para afastar Presidente da Câmara 

Terminou sem votações a primeira sessão deliberativa do Plenário da Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (17), desde o golpe que afastou a presidenta eleita Dilma Rousseff do cargo e instalou no país o governo ilegítimo de Michel Temer. Os deputados neogovernistas do PSDB, DEM e PPS, entre discursos e gritos de ordem, tumultuaram a sessão comandada pelo presidente em exercício o deputado Waldir Maranhão (PP-MA). 

Neogovernistas tumultuam sessão para tentar afastar Presidente da Câmara - Agência Câmara

Maranhão assumiu o comando da Câmara depois do afastamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e atraiu para si o ódio dos deputados do PSDB, do DEM e do PPS depois que cancelou a sessão de votação do impeachment. Na ocasião, a pressão sobre Maranhão foi tanta que ele revogou a medida no mesmo dia.

Agora os partidos aliados de Temer querem o afastamento de Maranhão e nova eleição para a Presidência da Câmara.

O PT, PCdoB, PDT e Psol defenderam Maranhão. O líder do PCdoB, deputado Daniel Almeida (BA), classificou como golpe a tentativa de afastamento do presidente interino da Câmara. “O presidente interino está respaldado pela legislação vigente e pelo Regimento da Casa. Se há um presidente afastado, cabe ao vice assumir essa função e dirigir a Casa. Não é a vontade de A ou B, é o Regimento da Casa que impõe esta realidade”, declarou.

Clima tenso

O clima da sessão esquentou quando o líder do DEM, deputado Pauderney Avelino (AM), acusou Maranhão de ser controlado por Eduardo Cunha. “Temos um presidente afastado que, por via de terceiros, continua governando e mandando na Câmara dos Deputados”, disse Avelino.

O líder do DEM chamou de “ilegítima” a interinidade de Maranhão. “Tenho uma questão de ordem a fazer, mas como posso me dirigir ao senhor, se o senhor é instrumento do presidente afastado Eduardo Cunha?”, indagou Avelino, dirigindo-se a Maranhão.

A afirmação foi recebida com gritos de parlamentares do PT, do PCdoB, do PDT e do Psol. O líder petista, deputado Afonso Florence (BA), acusou o DEM de dar sustentação a Cunha e, agora, renegá-lo.

Manobras ilegais

Foi o que disse também o líder do Psol, deputado Ivan Valente (SP), que cobrou a cassação de Eduardo Cunha como única forma de permitir uma nova eleição para a Presidência da Câmara. Para Valente, Maranhão não pode ser considerado ilegítimo depois de ser eleito vice-presidente.

“O Psol não apoiou Waldir Maranhão: 438 deputados desta Casa, mais do que os que votaram em Eduardo Cunha, o elegeram. Quem pariu Mateus, que o embale”, disse Valente. Ele afirmou que o Psol não vai aceitar manobras ilegais para retirar o atual presidente em exercício.

O deputado Weverton Rocha (PDT-MA) também condenou as críticas ao presidente em exercício. “O Psol deixou claro: quem o elegeu não foi o Psol, não foi o PDT, não foi o PT. Quem o elegeu foram os outros partidos, e agora alguns deles estão questionando a sua legitimidade. Por que não questionaram desde o início, junto com toda a chapa?”, criticou.

PSDB e PPS tentaram se desvincular da imagem de Eduardo Cunha. O deputado Daniel Coelho (PSDB-PE) afirmou que o partido não apoiou a eleição de Cunha, mas sim o candidato do PSB, deputado Júlio Delgado (MG). O líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), ressaltou que o partido acionou a Procuradoria-Geral da República pedindo o afastamento de Cunha, documento que não teve a assinatura do PT.

Agenda da semana

O líder do PCdoB na Câmara, Daniel Almeida, explicou que a agenda dessa semana e dos próximos dias é a que ficou retida na Casa desde a instalação do processo de votação da admissibilidade do pedido e impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff. “São MPs (Medidas Provisórias ) editadas pela presidenta Dilma e outros projetos.”

Sobre as matérias enviadas por Michel Temer, ele disse que vão ser levadas para as comissões especiais. “A premissa de nossa ação é não reconhecer esse governo pela falta de legitimidade, mas em algumas matérias vamos nos debruçar no mérito e, no caso dela ser apreciada, vamos apresentar emendas, procurando reduzir os danos”, adiantou o líder comunista.