Campelo Costa: Marcas da traição, da mentira e do oportunismo

Por *Campelo Costa

Manifestações denunciam farsa do golpe e chamam Fora Temer

Quem se iludiu com este “Governo da Salvação Nacional” assiste agora o descerrar da cortina, do véu da hipocrisia, da máscara frouxa que esconde o golpe perpetrado contra a democracia e o povo brasileiro. Eis a face cruel da mistificação montada com subterfúgios forjados no receituário de bandidos a serviço de velhos processos de dominação neocolonialistas.

Medíocre panorama político cevado na hediondez da chincana, do achincalhe, da canalhice e da falta de caráter nesse país já vendido incontáveis vezes por essa mesma corja de canalhas e com os mesmos discursos.

Marcas da traição, da mentira e do oportunismo na permanência de repetidos procedimentos políticos que a história brasileira já anotou aplicados contra o desenvolvimento do país e a emancipação do seu povo.

Há que se denunciar e lutar contra essas “lealdades venéreas”, essa podridão corrompida, onde os amantes das intrigas palacianas e dos golpes juntam-se, reúnem-se em assembleias de achacadores do dinheiro público e do poder a qualquer preço. Ativistas prostituídos pela ganância, de acesso aos grupos de poder, e como sempre, enchendo e inchando seus bolsos e suas vaidades pessoais.

Sabemos que bastou o rancor de uma oposição sem projetos. Um instante de fúria e insânia de um sociopata da marca de Eduardo Cunha; ou simplesmente a inepta intolerância e a indiferença de parcelas desinformadas ou mal informadas da sociedade.

Do conluio de nosso parlamento e a cumplicidade do judiciário para se perpetrar o golpe e afastar sem provas a Presidente do país. Esta indiferença, esta intolerância devem se converter em ódio e repulsa de todos nós em execração pública, o conluio e a cumplicidade.

A feroz tentativa de criminalizar o PT e o ex Presidente Lula e o afastamento da Dilma, caracterizam processos que não se aplicam nem atingem outras agremiações ou personalidades políticas e sequer os ricos e poderosos cujo plantel conhecemos de cabo a rabo. É uma tristeza, reconheço.

O povo acostuma-se à ferocidade das leis impostas a cada tempo, como também acostuma-se às guerras e suas atrocidades deflagradas pela estupidez política. E o pior: a manutenção perversa das desigualdades e das condições sociais de um lugar, de um povo, de uma nação.

A permanecer este quadro, os prognósticos sobre o futuro do país confirmam os mais negros temores. O clarão de um fogo brabo deve iluminar nossa vergonha e alimentar nossa revolta. Não defendo estratégias de guerra, contudo enfrentamos estratégias e táticas de guerra.

A “doutrina do Choque” é baseada na ideia de executar uma série de ações rápidas, do uso avassalador da força no sentido do desmonte, da desconstrução dos avanços alcançados no plano das conquistas sociais.

É contra esta guerra que devemos responder, na mesma medida, martelando esse governo provisório e de exceção e restabelecer a legitimidade e a dignidade de um governo eleito e consagrado nas urnas.

De alma nova, banhada pela cristalina compreensão que só ficaremos bem se continuarmos livres. Livres para conclamar as forças de oposição a lutar pela revogação dessa farsa e resistir às tentativas de amesquinhamento das políticas voltadas para os que mais precisam.

Grafo aqui, para os que não sabem ou não mais se lembram, ou vivem nesse pedaço de chão queimado, árido, de sol inclemente, a entristecedora paisagem bruta, marcada pelo histórico fenômeno do flagelo das secas. Milhares de retirantes, beiradeiros a entupir as estradas. Famílias inteiras com seus cachorros magros, famintos. Flagelados a invadir e saquear cidades e feiras. O horror de assistir-se a morte à mingua de crianças ceifadas pela subnutrição e a fome. Era assim o Nordeste brasileiro. Não o é mais.

A redução da pobreza. Os programas compensatórios de transferência de renda. Mais hospitais e mais médicos. Mais escolas. A distribuição regular de cisternas e o suporte do abastecimento d’água impediram a repetição da miséria secular que afligia os viventes deste chão sagrado.

Ainda é muito pouco, entretanto, apesar dos cinco últimos anos seguidos de estio, do irregular regime de chuvas e sua má distribuição na região; este flagelo, estas calamidades desapareceram do sertão nordestino.

A azeda reação dos que não crêem, não querem ver e apostam na falência de qualquer intenção ou propósito político de mudança, obriga-me e a todo cidadão brasileiro consciente a opor-se à infâmia de entregarmos o país e sua soberania a sanha de safados e romper essa cadeia de interesses voltados para a dominação política, cultural e econômica do Brasil gestadas nos arraiais dos serviços de inteligência do império dos irmãos do Norte.

O que fica de fato é a sensação de desconforto com a impossibilidade do estabelecimento de políticas de estado permanentes, as quais perdem substância, resultado da debilidade de um governo fiado em alianças políticas precárias, insustentáveis e absolutamente discutíveis. Ao fim, um governo frágil.

Daí o golpe e o autoritarismo ressurgente embutidos no jogo do poder político, no comportamento das autoridades ao prenunciarem o fim ou o adiamento de programas destinados à redução das desigualdades sociais e regionais numa progressiva perpetuação da injustiça.

Neste momento de crise, surgiu-me na lembrança a figura do arquiteto e urbanista gaúcho Demétrio Ribeiro, respeitado como professor e pela sua visão humanista. O mestre Demétrio, certa vez, ao abordar as questões da profissão, afirmou: “O desenvolvimento do país dar-se-á no marco da emancipação do seu povo. Por decorrência, o caráter emancipador do saber e da cultura contribuirá para melhores condições da vida de todos e consequentemente dos arquitetos e de suas arquiteturas”.

Para nós – OS ARQUITETOS CONTRA O GOLPE – a reorganização da vida nacional passará pela recondução da Presidente Dilma ao seu posto, denunciar e execrar os golpistas e suas práticas, além de contribuirmos com a nossa inteligência para a construção de um Brasil justo, contrapondo nossas ações à difusão de falsos argumentos que se cristalizam na subserviência da burguesia nacional e seus representantes aos ditames do capital externo e aos interesses lesivos à vida nacional.

Ainda mais!

Transformar os fatos da vida comum e os grandes desafios que se impõem à nossa frente em boa arquitetura relacionando-a ao homem e valorizando os aspectos sócios culturais do exercício da profissão como base para definição de um Novo Programa de Governo, caso a Presidente seja reconduzida ao seu lugar, como merece.

Digo ainda, citando o poeta cearense Patrúcio Maia:


“A força do Brasil
Vem do braço do quilombo e da taba
Da voz do morro e do sertão
Do coração do cacique e do zumbi
Todos juntos
Voz da irradiosa geral…”
 

Abaixo o golpe e FORA O TEMER!

*Campelo Costa, nordestinado, profissão esperança.

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