“Pela paz e estabilidade democrática em toda a América Latina”

Resistência, música e dança marcou a manifestação dos psicólogos contra o golpe no Brasil realizada nesta sexta-feira (10) em Buenos Aires. Profissionais de 17 países estavam reunidos para o Congresso da Ulapsi (União Latino-americana de Entidades de Psicologia) e decidiram fazer um ato político em frente à embaixada do Brasil na Argentina para rechaçar o golpe.

Psicologos contra o golpe - Rogerio Giannini

“Pela paz e estabilidade democrática em toda a América Latina”, bradaram os psicólogos. Depois de se manifestar em frente à embaixada, eles seguiram para a casa do embaixador brasileiro, Everton Vieira Vargas onde leram uma carta em apoio ao povo brasileiro e à institucionalidade democrática.

Os psicólogos denunciam o golpe no Brasil e o processo de desestabilização pelo qual o continente passa atualmente, como a crise na Venezuela.

Leia a declaração dos psicólogos contra o golpe:

Declaração de Buenos Aires pela paz e estabilidade democrática da América Latina

A União Latino-americana de Entidades de Psicologia (ULAPSI), reunida em assembleia geral na cidade de Buenos Aires no dia 7 de junho de 2016, a respeito da situação política e social da América Latina e Caribe, manifesta sua posição nos momentos atuais em que o mundo e, especificamente, nosso continente atravessam um aumento de conservadorismo e intenção de recolonização de nossas vidas, culturas e subjetividades.

Em nossos países se evidencia a manipulação midiática, dirigida pelas grandes corporações de mídia de massa, que manipulam a informação política, econômica, social e cultural de acordo com seus interesses, deturpando a realidade.

Por meio de diferentes instrumentos buscam a queda do governo progressista e popular, recorrendo a mecanismos anti-democráticos não convencionais, fazendo uso de estratégias de desestabilização, intervenção e queda da ordem constitucional em suas diferentes expressões – golpes parlamentares, legislativos e jurídicos, asfixia econômica, ingerência de organizações internacionais, bloqueios financeiros e econômicos.

Fica evidente a presença de guerra psicológica, que gera incerteza, angústia, terror, sentimento de ameaça e diferentes emoções negativas, que recaem sobre nossas populações, bem como o aumento da violência em suas diferentes expressões, atentando contra os direitos humanos, tais como: ataques aos povos originários, feminicidio, desaparições forçadas, aumento de grupos organizados, assassinatos de líderes comunitários e homicídio seletivo, como o caso do colega Marcus Vinicius, lutador pelas causas justas nas comunidades do Brasil, assassinado no mês de fevereiro.

Sabemos que este tipo de ações não é novo. O representante da Psicologia da Liberação, Ignacio Martin Baró, foi brutalmente assassinado em El Salvador, em 1989. No entanto, o aumento deste tipo de ações em nosso continente tem características muito diferentes nos momentos atuais, posto que enfrentamos uma guerra não convencional.

Como psicólogos e psicólogas, reivindicamos nossa independência, autonomia no exercicio profissional, baseado no rigor científico, ético e com compromisso social, e condenamos o uso de ferramentas psicológicas para o domínio e o engano.

Na construção da psicologia latino-americana que reconhece a história de opressão e colonização de nossos povos, e que busca a transformação de suas condições de vida e a justiça social, manifestamos nosso respaldo aos princípios da soberania e autodeterminação dos povos, assim como a não ingerência de terceiros em países cujos governos foram eleitos de maneira democrática, com o voto popular.

Buenos Aires, 07 de junho de 2016

Assista ao vídeo de Rogerio Giannini: