Arruda Bastos: Seleção Brasileira e “la mano de Dios”

Por *Arruda Bastos

Cartaz da Copa América edição do centenário

Deus escreve certo por linhas tortas. Este é um chavão usado para expressar que, apesar de tudo, Deus tem um plano para você, ele sabe o que faz e se aconteceu algo em sua vida que não trouxe felicidade, acalme-se. Deus nunca erra. No caso da Seleção Brasileira isso é mais que verdade. A “la mano de Dios” como foi o gol de mão da seleção peruana que desclassificou o Brasil da Copa América Centenário pode ser considerada como tal. Só mais uma decepção para provocar a reestruturação do futebol brasileiro.

Sou de uma geração que reverenciava a nossa Seleção como a melhor e a que mais encantava o mundo. Com suas conquistas das Copas de 1958 (Suécia), 1962 (Chile), 1970 (México), época áurea do nosso esporte Bretão, encantamos os torcedores de todos os continentes. Nos outros campeonatos de 1994 (Estados Unidos) e 2002 (Coreia do Sul e Japão), conquistamos a vitória, não com o mesmo brilho dos anteriores, mas ainda assim, com arte e o peso da nossa gloriosa camisa verde e amarela.

Depois deste período, entramos em decadência, tanto dentro como fora de campo. Só tivemos alguns lampejos de time de futebol, poucas conquistas, nada de extraordinário, tornamo-nos um time comum e pouco a pouco observamos que a mística da camisa canarinha foi se definhando.

O destino reservou para a Copa do Mundo do Brasil (2014) a maior humilhação, perdemos na semifinal do torneio de forma vergonhosa pelo placar de 7×1 para a Alemanha, na cidade de Belo Horizonte. Foi o fim da picada e de uma geração que já vinha titubeante. Com Felipão no comando, de forma vexatória, presenciamos os últimos estertores de uma Era de conquistas.

Entretanto, percebemos que os ensinamentos de 2014 de nada serviram. Ao invés de aprendermos com os erros, de avançarmos para uma renovação de métodos, costumes e estrutura, retrocedemos no tempo, digo até que em vários anos. Dentro de campo, a contratação de Dunga para treinador foi um erro. Ele nunca inspirou confiança, não tinha nenhum cartel e cacife para comandar tamanho desafio de renovação. Fora de campo, com a comprovação de corrupção na Fifa, o envolvimento do presidente da CBF e as novas denúncias de uma gestão local também corrupta, não poderíamos ter outro resultado. Esse caldo de cultura só poderia nos levar a um novo vexame.

Na minha opinião, além de uma safra de jogadores de nível mediano na Seleção, a ausência de craques na melhor acepção da palavra, ressalvando Neymar, que confirma a exceção e a regra, o maior problema está fora das quatro linhas. Como esperar algo melhor, com um comando de fazer inveja às maiores quadrilhas do mundo, um ex-presidente preso nos Estados Unidos, um atual que não pode deixar o país devido ao risco de ser preso também e, some-se a tudo isso, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do futebol no Senado. Só mesmo um milagre para dar certo.

Com esse novo vexame, o da eliminação da seleção na primeira fase da Copa América, temos mais uma chance de renovarmos nossas estruturas futebolísticas. Provamos que não temos um único culpado, o treinador e os jogadores são apenas a ponta do iceberg. Fatores importantes precisam ser modificados. Devemos, principalmente, retirar os dirigentes que dão sustentação a esse status quo, e também colocar no seu lugar a mídia que até no futebol é golpista e vendida. Só mesmo com uma mãozinha de Deus e a mudança total dos cartolas corruptos poderemos salvar o futebol brasileiro.


*Arruda Bastos é médico, professor universitário, ex-secretário da saúde do Ceará e desportista militante.

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