Arruda Bastos – Cunha: O apogeu e o ocaso de um gângster

Por *Arruda Bastos

Psol pede cassação de Cunha no debate sobre impeachment

Durante os últimos meses escrevi artigos muito duros tendo como personagem principal o deputado afastado do seu mandato, da presidência da Câmara e, agora, indicado pelo Conselho de Ética para ser cassado, Eduardo Cunha. Destaco dois de maior contundência: Cunha, o Al Capone dos tempos modernos e Cunha, o bandido com seu período santo. Depois de idas e vindas, de manobras e de muitas estripulias, por fim, tenho condição de finalmente escrever mais um capitulo: Cunha, o apogeu e o ocaso de um gângster. O final da saga de um dos políticos mais corruptos de toda história do Brasil, espera-se.

A tropa de choque de Cunha ainda resiste e, mesmo após a derrota no Conselho de Ética, ela e seus advogados preparam várias manobras, agora na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, comissão esta que nos últimos dias teve seus membros substituídos pelos partidos que ainda mantém fidelidade a Cunha. Infelizmente para ele, a fragorosa derrota e as defecções na sua turma devem repercutir também na CCJ. E, como diz um ditado popular, “traição é igual a um consórcio: um dia você será contemplado”.

Nosso ilustre democrata, Leonel Brizola, se vivo fosse, estaria repetindo a sua famosa frase “a política ama a traição, mas abomina o traidor”. Eu uso o ditado popular “quem com ferro fere, com ferro será ferido”. É justamente o sabor amargo como fel que Cunha está provando agora. Para confirmar o ocaso do nosso personagem, cito as traições de dois deputados do baixo clero: a primeira, e agora famosa, Tia Eron (PRB-BA), que de desaparecida em reunião anterior, passou a condição de celebridade e apresentou o voto “sim” mais importante na votação do relatório da cassação de Cunha. O outro foi o deputado Wladimir Costa (Solidariedade-PA), que, imbuído de repentino senso de consciência, virou a casaca na última hora.

Cunha está vivendo seu inverno astral: já é réu em um processo no STF (Supremo Tribunal Federal), deve se tornar também em um segundo, e ainda há um terceiro seguindo o mesmo caminho. Em Curitiba, o MPF (Ministério Público Federal) solicitou sua condenação por improbidade administrativa, a devolução de recursos ao Estado e o bloqueio de seus bens. Para completar, sua esposa se tornou ré na Operação Lava Jato e, como tiro de misericórdia, agora ele enfrentará a votação para a cassação de seu mandato na Câmara.

De gângster todo poderoso da política, Cunha está se transformando rapidamente em um moribundo, um zumbi, uma alma penada, que passa a assustar os seus comparsas de quadrilha e também aqueles que sempre acobertaram seus crimes ou se beneficiaram de suas falcatruas. Dentre eles podemos citar toda a cúpula do PMDB, incluindo o seu presidente e ocupante interino do Planalto, Michel Temer.

Como abordei em outro artigo, Tem um Barriga branca no Planalto, haja vista que Temer é pau mandado de Cunha. Ele e os ministros Eliseu Padilha, Gedel Viera e outros menos graduados estão, como diz o ditado, “tremendo mais do que vara verde”, e “cortando trilho”. Todos preocupados com uma provável delação premiada de Cunha ou de sua promessa de levar para vala comum mais de cento e vinte deputados caso tenha seu mandato cassado.

Para terminar, tem uma expressão popular que diz “aqui se faz, aqui se paga”. Cunha está só no início do seu calvário e deve pagar por todo o mal que fez e causou. É aguardado para breve a sua prisão e caso seja realmente cassado, como todos esperam, finalmente, poderemos comprovar que “o crime não compensa”.

*Arruda Bastos é médico, professor universitário, ex-secretário da saúde do Estado do Ceará e um dos Coordenadores do Movimento Médicos pela Democracia.

Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.