Penélope Toledo: As mulheres contra-atacam

Já se falou, nesta coluna, sobre diversos problemas enfrentados pela mulher e pelo homossexual na sociedade, que se refletem no esporte.

Por Penélope Toledo*

Integrantes da Camisa 12 do Vasco da Gama recebem jogadores em partida de 1973

Falou-se de assédio, desconfiança, machismo, objetificação sexual, homofobia e da violência de gênero. Mas é importante enfatizar que para cada situação de opressão, há imediatas e múltiplas reações à altura.

O time feminino, definitivamente, não joga na defensiva e contra-ataca manifestando publicamente a sua indignação, protestando, cobrando retratações e reivindicando respeito.

Há anos, movimentos, coletivos e projetos de torcedoras estão nesta luta e vêm pautando as temáticas específicas das mulheres dentro do esporte – os problemas, demandas, expectativas etc – e para além dele. Propõem ações que corrijam as adversidades, ampliem a presença feminina na arquibancada e em campo, conquistem direitos.

Alguns exemplos são os movimentos feministas presentes em muitos clubes, as facções femininas dentro das organizadas – como a Savóia (Palmeiras), Jovem Fla Pelotão Feminino, Dragões da Real (São Paulo) e Galoucura Feminina (Atlético-MG) – e as TOs exclusivamente de mulheres, tais quais Flu Mulher, Camisa 12 (Vasco), Mulheraço (Volta Redonda) e Gatas do Sul (Paysandu).

A primeira organizada feminina que se tem notícia data de 1920, do Atlético-MG, comandada por Alice Neves, mãe de Mario Neves, um dos fundadores do clube. Embora não tivesse um nome, a torcida acompanhou o Galo por muitos anos.

Tem também páginas como as Dibradoras, em que o futebol é tratado “por e para mulheres”, como se definem; as Hoolibras, que dentre outras coisas, em suas entrevistas dão voz às torcedoras; e Lugar Delas é na Bancada, cujo lema é “lugar de mulher é onde elas quiserem”, dentre outras.

Entretanto, muitas mulheres empoderadas nas torcidas organizadas e nos movimentos não se reconhecem enquanto tal. Muitas rejeitam o feminismo e acreditam que o respeito que adquiriram é uma vitória pessoal, e que se elas conseguiram, todas conseguirão, se fizerem por onde.

Deste modo, deixam de lutar para abrir caminho para as próximas torcedoras, para que as gerações femininas futuras não precisem passar novamente por todas as dificuldades passadas pelas torcedoras atuais.

Por isto, é fundamental que as meninas empoderadas tenham consciência da sua condição feminista e sigam virando o jogo em favor da equidade de gênero. Estas torcedoras carregam dentro de si uma força enorme, capaz de mover o mundo. Só precisam percebê-la.

E para cada ataque machista, sempre haverá muitos contra-ataques femininos, para cada gol contra machista, sempre haverá muitos gols a favor do direito das mulheres de serem respeitadas dentro e fora do futebol.

Foi, é e sempre será assim.