"Ando com a lei no celular para mostrar" diz mãe impedida de amamentar

A Lei n.16.396, de 04/06/14 teve horigem a partir do PL./0267.4/2013 de autoria da Deputada Angela Albino (PCdoB SC) e garantiu o direito de as mães amamentarem seus filhos nos recintos coletivos de acesso público dos estabelecimentos comerciais situados no Estado de Santa Catarina.

Em entrevista ao Diário Catarinense por telefone, a engenheira ambiental, que tem duas filhas, uma de sete anos e a mais nova com três meses, descreveu o momento. Confira:

Como isso tudo aconteceu?
Eu estava na praça de alimentação com meu marido e a pequena. Aí ele foi buscar a nossa outra filha na parte dos brinquedos. Logo que ele saiu, ela começou a chorar. Eu a peguei no colo, coloquei o peito para fora para amamentar. Ela colocou a boquinha e deu 30 segundos para o segurança bater nas minhas costas. Ele me disse para eu me retirar da praça e ir até o fraldário. Eu disse que não ia me retirar. E perguntei se ele não conhecia a lei. Ele respondeu que estava repassando um recado de quem tinha me visto pelas câmeras. Aí eu virei de costas e não o vi mais, mas fiquei. Ouvi que uma mulher começou a berrar, xingando pelo o que ele tinha dito. E aí ele saiu. Eu acredito que ele aproveitou que meu marido não estava ali para fazer essa abordagem, que não foi um convite ou uma sugestão, foi uma ordem.

O fraldário não é um local adequado, né?
O fraldário do Garden Shopping fica do lado do vaso sanitário. Tem cheiro de fralda, é insalubre. É normal porque é um banheiro. Um banheiro infantil com dois vasos sanitários para criança, fraldário e uma cadeira de amamentação entre as portas dos vasos. Não é um lugar para amamentar.

Foi a primeira vez que passou por esse constrangimento? Como você se sentiu?
Foi. Até já tinha amamentado no shopping, no corredor. E em outros shoppings em outras cidades, como em Florianópolis, mas nunca tive problema. Fiquei sabendo que outras mulheres também já passaram por isso no mesmo shopping. Elas dizem ter sido encaradas pelos seguranças. Me senti indignada. Nervosa. Fiquei agoniada. Na hora não sabia como agir. Depois, mandei mensagem para o shopping no Facebook. Não tive resposta logo. Aí no outro dia com a cabeça um pouco mais fria fiz o post para chegar até a administração do shopping mesmo.

Como teve conhecimento da lei estadual?
Há pouco tempo teve um boato no Facebook de que as mães estavam proibidas de amamentar em lugares públicos. Aí fui pesquisar para ver se era verdade. E vi que tinha uma lei em SC e também em outros Estados. Hoje eu ando com essa lei no celular para mostrar sempre que for preciso.

Acha que deveria haver um local específico em espaços como shoppings para a amamentação ou pode acontecer em qualquer lugar?
Pode ser em qualquer lugar. Eu não ia sair da praça de alimentação mesmo que tivesse um fraldário lindo, como tem no Floripa Shopping. E já amamentei na praça de lá e nunca me pediram para ir até o fraldário. Não ia largar tudo com ela chorando para amamentar. Tem mãe que prefere lugar reservado, mas eu amamento onde eu quiser. Não quis amamentar no banheiro.

Como enxerga esse momento do aleitamento materno?
É uma coisa totalmente natural. O fato de ela mamar é fisiológico. Por isso que acho natural mamar em qualquer lugar. Todos os mamíferos são assim, ainda mais uma criança que mama só no peito. Ela sente fome, quer comer e tem que ser naquela hora, no lugar onde estiver. O leite é o único alimento.

De que forma avalia a repercussão atual?
Minha postagem teve muita repercussão. Inclusive gerou o evento por parte das mulheres ativistas. Pretendo participar. Fico contente. Certeza que, após isso, em todo Estado esse momento vai ser respeitado.

Você recebeu bem posicionamento do shopping?
Não esperava menos. Na verdade, talvez esperava mais. Mas se eles se justificassem eu ficaria irritada. Eu finjo que acredito que a culpa é do funcionário. Eles me mandaram uma mensagem pedindo desculpas e falando que queriam conversar. Vamos falar no mamaço.

Contraponto
"O fato ocorrido no último dia 11 de julho foi uma ação isolada de um funcionário que não condiz com o posicionamento do empreendimento. Todos os funcionários do shopping já foram orientados para que o acontecimento não se repita. O Lages Garden Shopping informa, ainda, que preza pelo respeito à família e reconhece a importância da amamentação. Dessa forma, vai aderir ao movimento das mães que chama a atenção para uma importante questão da atualidade", diz a nota oficial encaminhada pelo shopping.