E agora José? Unidade Popular
E agora José? E agora Maria, a que amava João, que amava Pedro e que fomos todos golpeados pela quadrilha?
Por José Marcos de Lima Araújo*
Publicado 16/08/2016 10:10 | Editado 04/03/2020 16:53
Restava uma esperança na possibilidade de um plebicito que pudesse mudar alguns votos, em favor da restauração da democracia. Com o resultado da votação neste 09/08, quando perdemos força em relação à votação anterior onde tínhamos obtido 22 votos e agora – com mais senadores participando – passamos a 21 votos. Enquanto vimos os golpistas passarem de 55 para 59 votos.
O senador João Alberto, do PMDB MA, que tinha votado Não ao impeachment agora votou SIM. O Senador Jader Barbalho, do PMDB PA, que tinha se ausentado na primeira votação, ganhou um ministério para o filho e veio votar também ao lado dos golpistas. E o senador Pedro Chaves, PSC MS, que substituiu o cassado Delcidio do Amaral, que não tinha assumido na primeira votação, também se juntou à quadrilha de Temer.
Diante dessa votação o quadro não mostra a possibilidade de sonhos com qualquer mudança após o próximo passo do golpe com a votação final do golpe ao mandato da presidenta Dilma. Esperar a conquista de mais 7 votos aos aqui conseguidos não é muito razoável. A tendência é – infelizmente – perdermos mais votos na arena romana que se caracterizou o senado federal, onde assassinaram nossos sonhos como os romanos faziam com os cristãos.
Precisamos construir uma alternativa de resistência.
Não podemos simplesmente calar ante esse crime. Onde está em jogo os direitos de milhões de brasileiros, não apenas dos 54 milhões que elegeram a Dilma primeira presidenta do Brasil, mas de 200 milhões de brasileiros, inclusive de ampla maioria dos zumbis que vestiram amarelo para atacar a presidenta, as bandeiras vermelhas e a democracia.
O que está em marcha no Brasil, de ruptura democrática, onde pessoas são presas por segurarem pedaços de papel onde se lê "Fora Temer", por vestirem uma camiseta com a mesma frase, mostra a vocação fascista dos novos "governantes".
Nossa soberania é substituída por um retorno ao triste período de FHC, de uma política subalterna ao grande capital internacional, de entrega de nossas riquezas a preço vil, como iniciada com a "venda" do poço Carcará, do Pré Sal, avaliado em 22 bilhões de reais por 8 bilhões. Como foi a permissão de venda das empresas aéreas brasileiras para empresas estrangeiras, sem qualquer limite, antes proposto de 40%.
Deixamos a diplomacia e relações econômicas internacionais multipolares e retornamos ao jugo de Washington e toda construção de soberania e das perspectivas de desenvolvimento com o BRICS, Mercosul e outras ações são substituídas pelo complexo de vira-latas.
Nossas políticas internas, igualmente de terra arrasada. Onde a educação vê seu principal rumo e fonte de financiamento, sendo destruído, com a vocação e vontade do governo golpista de "entregar" o restante do pré sal ao Deus Mercado.
Na saúde se vê as propostas de privatização do SUS, onde o nosso fantástico sistema de saúde, mesmo com muitos problemas, era considerado um dos melhores sistemas do planeta, com a marca da igualdade, sendo substituído por sistema privado de saúde, para beneficiar grandes grupos empresariais da saúde em detrimento da saúde de nosso povo.
Nas relações trabalhistas talvez uma das marcas da maldade desse governo "novo", que em busca de se vigiar da classe trabalhadora que ousou derrotar nas urnas por quatro vezes seguidas o projeto Demo Tucano.
As projeções são as mais angustiantes como a ampliação de jornada de trabalho para 12 horas diárias, de segunda a segunda – exceto domingo que serão de "apenas" 8 horas de trabalho, para completar as 80 horas semanais.
Para acabar com a "farra" dos "vagabundos" – que é como eles se referem aos trabalhadores, vem a proposta de ampliar o tempo necessário de trabalho para que se adquira a aposentadoria, agora passando para o mínimo de 70 anos para que o trabalhador se aposente. Ainda que o tempo médio de vida do trabalhador não ultrapasse de 67 anos. Aqui no Pará é de 63 anos. Assim eles se vingam dos trabalhadores que, com a jornada de 80 horas semanais terão sua cota de vida encerrada ainda mais cedo e "acaba a crise da previdência".
Infelizmente essa jornada de trabalho não somente matará mais cedo o trabalhador, trará junto um maior adoecimento aumentando o custo da saúde – se bem que, nesta caso, ela já estará privatizada e essa despesa será dos próprios trabalhadores. Mas, essa jornada trará problemas de aumento de violência decorrente da ausência maior dos pais e da desintegração das famílias que serão arrancadas de vez dos seus lares para permanecerem por inesgotáveis horas de trabalho.
Cada vez mais será necessário o reforço da renda familiar, com o ingresso cada vez mais cedo do jovem trabalhador no mercado, para completar o orçamento que exigirá cada vez mais dos trabalhadores e, com maior oferta de mão de obra menor o valor é a remuneração desse trabalho.
O papel da unidade popular
Nesse quadro dantesco, a alternativa está na unidade popular, na construção ou fortalecimento de uma organização capaz de disputar o debate e os espaços de poder com os fascistas que estão espalmando o poder por um golpe institucional midiático jurídico.
A Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo jogam um Papel importantíssimo nessa quadra. São formas de organização criadas para combater o golpe mas que adquirem papel estratégico no combate ao esbulho que está sendo imposto.
Entendo que uma tarefa dos comunistas, dos socialistas, dos democratas é fortalecer essas experiências – se possível unindo-as em uma única ferramenta de luta em defesa da democracia e contra o fascismo. Trazendo para seu interior todos os que efetivamente não concordam com os rumos para onde segue nosso país.
Os trabalhadores, seus sindicatos, Centrais e formas autônomas de organização, a juventude, as mulheres, os negros, os intelectuais, os grupos que secularmente são colocados à margem do acesso a dignidade e que começavam a experimentar uma mudança, precisamos dessa unidade, dessa aliança para lutar por democracia e contra os fascistas.
Uma unidade que reflita nas lutas do dia a dia, na defesa de direitos dos trabalhadores, dos estudantes e outras frentes, como até na construção de alianças que permita ocuparmos espaços nos parlamentos, que serão cada vez mais conservações e controlados para evitar o acesso das forças vivas dos trabalhadores.
Essa unidade precisa construir um programa que seja capaz de unir esses setores em torno dele, um programa básico que busque a inclusão e não a divisão, que mostre os rumos e necessidades de nossas lutas: soberania nacional, desenvolvimento, trabalho, democracia.